Malu Gaspar
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Informações da coluna

Por Rafael Moraes Moura — Brasília

A bancada de bolsonaristas no Senado está se preparando para explorar um episódio envolvendo o ministro da Justiça, Flávio Dino, na sabatina marcada para o dia 13 de dezembro, quando a Comissão de Constituição e Justica vai analisar a indicação do presidente Lula para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria de Rosa Weber.

Os senadores e seus assessores estão recolhendo material e preparando uma série de perguntas e frases de efeito sobre a visita de Dino à favela Nova Holanda, uma das 16 que fazem parte do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio.

Em 13 março deste ano, Dino participou do lançamento de um boletim sobre violência e encontrou diversas lideranças comunitárias da favela a convite da ONG Redes da Maré.

Apesar do caráter institucional da visita, desde aquele momento os parlamentares da oposição acusaram Dino de ter sido aceito na Maré por algum tipo de ligação com criminosos que dominam o território.

Na época, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) disse achar estranho o fato de Dino entrar no “complexo de favelas mais armado do Rio com apenas dois carros e sem trocar tiros” – embora ele tenha ido acompanhado de agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.

A estratégia bolsonarista repetiu o roteiro adotado na campanha eleitoral de 2022, após a visita de Lula ao complexo do Alemão.

Após um ato político de Lula no Complexo do Alemão, outro conjunto de favelas na Zona Norte do Rio, apoiadores do ex-chefe do Executivo, incluindo o próprio Bolsonaro, passaram a se valer do evento para fazer falsas acusações sobre um suposto envolvimento do adversário com o tráfico de drogas.

Na visita à Maré, Dino discursou e falou justamente contra o tráfico:

— Só é possível termos uma sociedade em paz na medida em que nós avançamos na Justiça, ou seja, no combate às desigualdades, discriminações, explorações, invisibilidades, portanto, a dimensão estrutural da violência na cidade – disse o ministro.

Após as críticas e ser alvo de teorias conspiratórias, Dino escreveu no Twitter:

"Soube que representantes da extrema-direita reiteraram seu ódio a lugares onde moram os mais pobres. Essa gente sem decoro não vai me impedir de ouvir a voz de quem mais precisa do Estado. Não tenho medo de gritos de milicianos nem de milicianinhos.”

Como na época os ataques à Dino foram bem recebidos no público conservador, os bolsonaristas apostam que a estratégia de revisitar o episódio conseguirá ao mobilizar as redes e constranger os senadores a votar contra a indicação do ministro para o Supremo.

Embora eles reconheçam que se trata de uma missão difícil, a rejeição de Dino no Senado virou uma “questão de honra” para os bolsonaristas.

“A gente quer que o Dino explique: era uma estratégia do ministério, do governo Lula aquilo, ou era uma iniciativa pessoal, negociar com o crime e lideranças criminosas? É um episódio nebuloso”, disse à equipe da coluna a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), uma das integrantes da tropa de choque bolsonarista que promete infernizar a vida de Dino na sabatina.

Bolsonaristas acusam Dino de ser omisso no enfrentamento dos atos golpistas de 8 de Janeiro. “Vamos falar dos erros de 8 de Janeiro, do apagamento das imagens. Você é ministro da Justiça, acontece aquela tragédia, o quebra-quebra, você não tem o cuidado de preservar as imagens para apontar culpados? Essa é uma questão crucial.”, questiona o senador Jorge Seif (PL-SC).

Em resposta à CPI do 8 de Janeiro, Dino alegou que o contrato de prestação de serviço com a empresa responsável pela segurança da pasta — que monitora as imagens —, não prevê o armazenamento das filmagens por um longo período.

Como os vídeos foram solicitados sete meses após os atos golpistas e não foram recolhidos pela PF na época, as imagens acabaram expirando automaticamente.

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