Malu Gaspar
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Por Malu Gaspar

As discussões entre os grupos de Renan Calheiros (MDB-AL) e Arthur Lira (PP-AL) na reunião com Lula sobre a CPI da Braskem expuseram o maior temor tanto do governo quanto do presidente da Câmara: o de que a CPI enverede sobre outros temas relativos à empresa além do colapso da mina 18 e ameaçar politicamente Lira e petistas como Rui Costa e Jaques Wagner, aliados da Braskem na Bahia.

De acordo com relatos de participantes da reunião, em mais de um momento essa possibilidade foi levantada tanto por Lira como por Costa, que no entanto se disse preocupado com o impacto da CPI sobre a Petrobras – que tem 36% das ações da Braskem.

Já Lira não quer que Renan, seu adversário histórico no estado, o arraste para as apurações da CPI. Isso porque o objetivo da comissão é apurar como está sendo gasto o dinheiro já pago pela Braskem em indenizações – especialmente o do acordo que a petroquímica fechou com a prefeitura para pagar R$ 1,7 bilhão de reais.

Em troca dos recursos, a companhia recebeu "quitação plena, rasa, geral, irrestrita, irrevogável e irretratável" de quaisquer outras obrigações ou danos futuros na região que compreende cinco bairros e cerca de 60 mil moradores da capital alagoana.

As cláusulas do contrato também dão à Braskem perdão tributário e a posse das áreas afetadas – o que significa que elas podem ser usadas pela empresa ou vendidas com lucro caso um dia os terrenos sejam recuperados e possam voltar a ser ocupados.

O prefeito João Henrique Caldas, do PL, é aliado de Lira e receberá todo o dinheiro até o final de 2024, que é ano eleitoral.

O fato de os adversários terem todo esse dinheiro à disposição na prefeitura em ano eleitoral preocupa o grupo do governador Paulo Dantas (MDB), que é aliado de Renan e ainda não conseguiu fechar qualquer acordo com a Braskem.

O governo de Alagoas afirma ter tido prejuízo de pelo menos R$ 35 bilhões só em arrecadação de ICMS e reivindica no mínimo esse valor em reparação.

Tanto Lira como Lula mencionaram ao longo da discussão o temor de que a CPI descambe para outros temas, o que levou Renan a dizer que garantia que seu único objetivo era apurar o caso de Maceió.

Lira, então, reclamou que o requerimento de criação da CPI abria brechas para investigar outros assuntos. Em resposta, Renan afirmou que isso não era verdade porque ele mesmo havia escrito o requerimento e disse que dava sua palavra de que a CPI não avançaria sobre nenhum outro assunto – nem Lira, nem os negócios da Braskem na Bahia e nem no Rio Grande do Sul, onde a empresa tem uma planta.

Obviamente, ninguém acreditou.

Mas mesmo que acreditasse, o simples fato de poder convocar o CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, o prefeito de Alagoas, João Henrique Caldas, e outros políticos e empresários influentes envolvidos nas obras de reparação dos danos em Maceió já seria suficiente para tirar o sono dos personagens reunidos em torno de Lula no Palácio do Planalto – além de Renan e Lira, do prefeito JHC e do governador Dantas, estavam ainda os ministros da Casa Civil, Rui Costa, dos Transportes, Renan Filho, os senadores alagoanos Rodrigo Cunha (Podemos) e Fernando Farias (MDB) e os deputados federais por Alagoas Paulão (PT), Isnaldo Bulhões (MDB) e Rafael Brito (MDB).

Sem contar que o governo ainda vai precisar e muito da boa vontade do presidente da Câmara ao longo de todo o ano de 2024, e Lula não quer de forma alguma que Lira pense ou desconfie que ele pode estar dando corda à CPI.

Apesar de todo o esforço do presidente da República, a CPI da Braskem será instalada hoje com um aliado de Renan na presidência – o senador Omar Aziz (PSD-AM).

Na prática, ela só começa a ouvir seus primeiros depoentes em fevereiro. Mas antes disso vai poder elaborar e apresentar um plano de trabalho e incomodar bastante o governo e o presidente da Câmara.

Ao sair do encontro no Planalto, Costa declarou que foi firmado um "pacto de governança" entre os adversários para resolver a questão de Maceió. Que pacto foi esse porém, nenhum dos participantes da reunião soube me dizer.

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