Malu Gaspar
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Por Johanns Eller e Rafael Moraes Moura — Rio e Brasília

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes negou o pedido da Polícia Federal (PF) para afastar o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) do exercício de suas funções parlamentares no âmbito da investigação da Operação First Mile. O deputado, um dos alvos da PF nesta quinta-feira (25), é investigado por espionagem ilegal enquanto esteve à frente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Jair Bolsonaro.

Moraes, no entanto, ressaltou na decisão que o deputado, homem de confiança da família Bolsonaro e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, poderá ser afastado, caso interfira nas investigações.

“Em que pese a gravidade das condutas do investigado, Alexandre Ramagem, bem analisada pela Polícia Federal, nesse momento da investigação não se vislumbra a atual necessidade e adequação de afastamento de suas funções . Essa hipótese (de afastamento) poderá ser reanalisada se o investigado voltar a utilizar suas funções para interferir na produção probatória ou no curso das investigações”, enfatizou o ministro.

Ao negar o afastamento de Ramagem neste momento, Moraes seguiu o entendimento do procurador-geral da República, Paulo Gonet.

“Se os fatos atribuídos ao deputado Ramagem são de seriedade evidente, não se avultam, neste momento, acontecimentos graves e contemporâneos que ponham em risco as investigações respectivas, justificadores da providência de afastamento das funções parlamentares. Isso leva o Ministério Público a opinar em sentido contrário à adoção da providência aventada”, opinou Gonet, em parecer assinado na última segunda-feira (21).

Segundo a PF, Ramagem, que está no primeiro mandato na Câmara dos Deputados, comandou um esquema de espionagem a partir do software israelense First Mile enquanto ocupou o cargo de diretor-geral da Abin durante entre 2019 e 2022.

Durante esse período, a ferramenta teria sido utilizada para monitorar pessoas vistas pelo então presidente Bolsonaro como adversárias, como políticos, jornalistas e advogados. A PF investiga ainda se a Abin também espionou Moraes e o decano do STF, Gilmar Mendes.

O software foi adquirido ainda em 2018, no fim do governo Michel Temer por R$ 5,7 milhões de reais e sem licitação, mas sua utilização indiscriminada com fins políticos se deu ao longo da gestão Bolsonaro.

O programa First Mile, que permite rastrear a localização das pessoas por meio dos metadados fornecidos pelas antenas de celular a torres de telecomunicações, é uma das ferramentas de espionagem fornecidas no país pela empresa Cognyte.

Em março passado, o GLOBO revelou que o software vinha sendo usado para monitorar a localização de milhares de pessoas sem autorização judicial, sob a alegação de necessidade por "segurança de Estado" durante a gestão de Ramagem.

A Polícia Federal descobriu a partir de outra operação, a Última Milha, deflagrada em outubro do ano passado, que a Abin realizou mais de 33 mil monitoramentos via First Mile entre 2019 e 2021. Entretanto, agentes da PF só encontraram no controle de operações da agência dados referentes a 1,8 mil monitoramentos. Os demais 31.200 teriam sido destruídos.

Na ocasião, foram presos dois servidores da Abin, Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Yzycky, que teriam participado do monitoramento ilegal e se utilizado do envolvimento no esquema para desmobilizar investigações internas da própria Abin movidas contra a dupla. A operação também mirou outras 20 pessoas, entre elas o então diretor de logística da Abin, Paulo Maurício Fortunato, afastado por Moraes no mesmo dia.

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