Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Informações da coluna

Por Johanns Eller

As redes bolsonaristas foram tomadas por um clima de apreensão e revolta nos últimos dois dias diante de rumores de uma eventual prisão de Jair Bolsonaro e de aliados do ex-presidente após o depoimento simultâneo de 22 alvos da Polícia Federal (PF) na última quinta-feira (22). A convocação faz parte da investigação que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado tramada dentro do Palácio do Planalto para impedir a posse de Lula.

Pedidos de oração e chamados para mobilização popular deram a tônica dos apoiadores enquanto até parlamentares engrossavam o temor por uma "surpresa" da PF. O boato, como se sabe, não se concretizou. Tanto Bolsonaro quanto seus aliados foram liberados pela PF, incluindo os que decidiram permanecer em silêncio – a exemplo do ex-presidente, como adiantamos no blog.

Bolsonaristas distribuíram oração personalizada pelo ex-presidente em grupos do Telegram — Foto: Reprodução
Bolsonaristas distribuíram oração personalizada pelo ex-presidente em grupos do Telegram — Foto: Reprodução

A notícia foi recebida com alívio pela militância, que dobrou a aposta na convocação do próprio ex-ocupante do Palácio do Planalto para uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, no próximo domingo, após a deflagração da operação Tempus Veritatis no último dia 8.

A inquietação ganhou força na véspera dos depoimentos, na última quarta-feira (21). Vídeos e montagens foram disseminados por grupos bolsonaristas alertando sobre a suposta ameaça iminente – algumas delas em tom de ameaça e ultimato às instituições e críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), embora aliados de Bolsonaro assegurem que o tom do ato de domingo será a favor do “Estado Democrático de Direito”.

“Estamos atentos. Não encostem nele!!!”, dizia uma montagem divulgada no WhatsApp com uma foto do ex-presidente com o semblante sério.

“Se o Bolsonaro for preso, vamos imediatamente lotar as ruas do Brasil inteiro e parar o país. Revolução civil em todo o Brasil. Encostem no Bolsonaro e é isso que vocês terão. Divulguem, passem adiante esta mensagem ao máximo a todos os patriotas, empresários, agro, caminhoneiros, militares… O Brasil não será uma ditadura! Brasil AVISA! CHEGA!”, completa a mensagem.

Montagem bolsonarista que viralizou em grupos de WhatsApp sugere que prisão de ex-presidente seria acompanhada de 'revolução civil' — Foto: Reprodução
Montagem bolsonarista que viralizou em grupos de WhatsApp sugere que prisão de ex-presidente seria acompanhada de 'revolução civil' — Foto: Reprodução

Outro bolsonarista defendeu no Telegram que a militância se organizasse diante da Polícia Federal – embora os investigados tenham prestado depoimentos em diferentes cidades além de Brasília, onde Bolsonaro se apresentou.

“Não podemos permitir que ninguém seja preso amanhã na [Polícia] Federal. Vamos nos mobilizar. Mobilizar todos para ir à Federal amanhã pela liberdade de nosso Brasil, pelo nosso capitão que se doou por nós!”, escreveu um apoiador do ex-presidente.

Até mesmo parlamentares instigaram a narrativa.

“Se Bolsonaro for preso antes da manifestação [do dia 25] o Brasil vai virar um caos”, declarou o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) ao jornal Gazeta do Povo na quarta-feira.

Silas Malafaia, aliado próximo do ex-presidente e pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, seguiu na mesma toada – mas sem citar o nome de Bolsonaro.

“POSSO ESTAR ENGANADO! É possível que o ditador da toga [sic] Alexandre de Moraes – eu disse é possível! – mande prender alguém [dentre os] dos que estão intimados a prestar depoimento hoje na PF”, escreveu Malafaia nas redes sociais. “NA PAULISTA VAI TER UMA MULTIDÃO”.

O pastor, conforme revelou o jornal Folha de S. Paulo, alugou um dos trios elétricos que estarão dispostos na Avenida Paulista durante a manifestação bolsonarista.

A desconfiança ganhou força na última segunda-feira, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou a PF a manter a data do depoimento de Bolsonaro após a defesa do ex-presidente solicitar seu adiamento – o que provavelmente postergaria esta etapa da investigação para depois das manifestações do dia 25.

Os advogados de Bolsonaro acionaram o Supremo e requisitaram que o ex-presidente só falasse aos investigadores da PF após a defesa obter acesso às mídias dos celulares apreendidos pela PF e à íntegra da delação de seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid.

O ministro, no entanto, alegou que os advogados já tiveram acesso “integral" aos autos e o depoimento foi mantido na data prevista. A decisão levantou receios entre bolsonaristas de um possível “elemento surpresa” da PF.

O temor ganhou ainda mais força após a colunista Bela Megale e a revista Veja revelarem que o Exército prepara uma ala para eventuais prisões de militares envolvidos na trama golpista, entre eles generais da reserva e Bolsonaro, que é capitão reformado.

Ao longo da noite de quinta-feira, o clima de angústia foi gradativamente substituído por publicações em tom de zombaria com a expectativa de setores da esquerda pela prisão do ex-presidente.

“Para desespero da esquerda, Bolsonaro ficou em silêncio na PF e foi liberado”, dizia um vídeo compartilhado pelo deputado estadual Bruno Zambelli (PL-SP), irmão da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que circulou intensamente pelo WhatsApp.

Embora o discurso tente dourar a pílula de Bolsonaro, o pacto de silêncio de parte dos investigados não altera em nada a confluência dos fatores arrolados na apuração da Polícia Federal.

A convocação dos atos de domingo pelo ex-presidente três dias após a deflagração da Tempus Veritatis – e em meio ao carnaval – revela seu próprio cálculo político quanto à necessidade de demonstrar algum suporte popular. A angústia que tomou conta das redes bolsonaristas em torno de uma suposta prisão é em si uma admissão tácita de que sua situação jurídica é muito delicada.

Acossado pelo avanço das investigações, inelegível até 2030 e sem foro privilegiado, Bolsonaro repetirá a fórmula aplicada à exaustão durante seu mandato presidencial em períodos de fragilidade política: mobilizar seus apoiadores nas ruas para uma “fotografia” de sua popularidade.

Mas, na primeira convocação desde que deixou a presidência e sob o fantasma dos atos golpistas do 8 de janeiro, um eventual enfrentamento direto às instituições poderá custar caro na condição de investigado por crime de golpe de Estado. O comportamento de suas redes de apoio na internet até o próximo domingo deve servir como termômetro da estratégia a ser adotada na Paulista.

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