Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Informações da coluna

Por Malu Gaspar

A equipe envolvida na caçada aos presos que fugiram do presídio da penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, esteve muito próxima de capturá-los nas últimas duas semanas de caçada, mas perdeu o rastro depois que detalhes das buscas vieram a público e chegaram ao conhecimento dos próprios fugitivos.

Fontes ligadas à investigação afirmam que a revelação dos métodos usados na caçada e o estágio da procura de Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento entregou a eles e seus comparsas informações que deveriam ser confidenciais, permitindo que a dupla se antecipasse aos passos da polícia.

A caçada já dura 14 dias e, de acordo com essas fontes, nesse período algumas oportunidades de captura já foram perdidas.

A última vez foi na última sexta-feira, quando a polícia chegou atrasada em um sítio nos arredores de Baraúna (RN). Os fugitivos ficaram oito dias escondidos na propriedade e pagaram R$ 5 mil ao dono, o mecânico Ronaildo Fernandes, preso preventivamente pela Polícia Federal (PF) na última segunda-feira (26) por suspeita de colaborar com os bandidos.

A informação de que os fugitivos estavam na propriedade chegou à força-tarefa em uma barreira de estrada e levou à montagem de um cerco de emergência que reuniu helicópteros e viaturas.

Mas quando os agentes chegaram ao esconderijo, não encontraram mais os fugitivos. A conclusão de que eles tinham escapado havia pouco tempo veio, por exemplo, do fato de que os presos deixaram o facão para trás ao correr para a mata.

Outra pista que reforçaria essa tese é que os foragidos não buscaram a última leva de comida deixada diariamente pelo dono do sítio em uma área próxima ao esconderijo dos criminosos. Os alimentos foram deixados no mesmo local quando a polícia vasculhou a propriedade.

Depois do episódio, uma ala da força-tarefa passou a dizer que o barulho dos helicópteros da PF alertou os fugitivos, enquanto policiais federais dizem que os presos já tinham a informação sobre o cerco antes mesmo de os helicópteros subirem.

As discussões internas sobre o estrago provocado por vazamentos de informações sensíveis começaram logo no início das buscas, mais precisamente no dia seguinte à fuga, quando o secretário de Políticas Penais, André Garcia, declarou em uma entrevista coletiva que a polícia estava utilizando drones com sensores de calor para localizar pessoas no meio da mata.

Àquela altura, os investigadores acreditavam que os drones ajudariam a localizar os fugitivos rapidamente, mas aos poucos concluíram que eles, ao saber dos drones, passaram a se esconder nas muitas cavernas da região e cavar buracos para dormir e descansar sem ser identificados pelos veículos aéreos não tripulados.

Um desses buracos foi encontrado no sítio, na última sexta-feira. Nele cabiam com folga duas pessoas ajoelhadas.

Em outro episódio nos últimos dias, policiais que participavam da procura teriam compartilhado em um grupo de WhatsApp da força-tarefa composta para a busca dois números de celular que, segundo a investigação indicava, estavam sendo usados pelos presos na fuga.

Depois disso, os números rapidamente foram desligados ou abandonados e o monitoramento foi prejudicado.

Para investigadores de diferentes instituições ouvidos pela equipe da coluna, esses tropeços foram causados pela falta de uma coordenação eficiente entre as diferentes equipes envolvidas no trabalho.

Além da PF e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), fazem parte da força-tarefa que atua na região policiais penais federais, ou PFF, agentes da Polícia Civil e da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, além das PMs do Piauí e do Ceará, e ainda a Força Nacional.

Cada instituição tem duas pessoas na coordenação da força-tarefa, que não segue uma hierarquia.

Mas, nos últimos dias, foram feitas reuniões internas para organizar o trabalho e unificar o comando da área operacional, que ficou com a PF.

O grupo de cerca de 20 pessoas se reúne todo dia pelo menos duas vezes – bem cedo pela manhã, antes do início dos trabalhos, e no final do dia. Reuniões de emergência são convocadas sempre que surge alguma pista relevante.

Nessas reuniões todos os dados disponíveis são compartilhados mas, apesar da recomendação de sigilo, é difícil controlar o fluxo de informações e vazamentos em um grupo tão amplo e variado.

Além da coordenação há 600 homens, quatro helicópteros e dezenas de viaturas empregadas nas buscas, bem como drones.

Nesta terça-feira, a dupla foi vista em um vilarejo de Baraúna, cidade na divisa do Rio Grande do Norte com o Ceará onde também está localizado o sítio onde ficaram escondidos na semana passada. O comando da força-tarefa calcula que, a esta altura, os fugitivos estão circunscritos a um raio de 14 quilômetros.

A demora da força-tarefa tem provocado preocupação no Palácio do Planalto, segundo informou o colunista do GLOBO Lauro Jardim. O presidente tem cobrado os subordinados, como o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, que criticou o fato de o governo ter levado dois dias para enviar agentes da PF e da PRF para atuar nas buscas pelo Ministério da Justiça.

No governo, há queixas de desarticulação no comando da força-tarefa e dos consequentes vazamentos.

Depois da entrevista coletiva em que o secretário de Políticas Penais informou sobre os drones, o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski, que estava em Mossoró, reuniu a coordenação da força-tarefa e foi enfático na recomendação de sigilo, mas pelo que se viu depois não foi bem sucedido.

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