Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Informações da coluna

Por Johanns Eller

O tenente-coronel do Exército Brasileiro Mauro Cid, que atuou como ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, manifestou expressamente o medo de ser preso pelo seu envolvimento na estratégia bolsonarista de disseminar informações falsas contra o sistema eleitoral brasileiro. Para a Polícia Federal (PF), a desinformação sobre as urnas eletrônicas foi um elemento “essencial” para a conspiração golpista de Bolsonaro.

O receio de acabar na prisão foi relatado pelo próprio Cid em diálogo com o major do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, um dos alvos da operação Tempus Veritatis da PF nesta quinta-feira (8), em um aplicativo de mensagens.

A conversa, segundo os investigadores, ocorreu no contexto da maquinação da narrativa de uma fraude eleitoral “fictícia”. De acordo com os registros da PF, o diálogo ocorreu no dia 4 de outubro de 2022, entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais.

“Espero, sinceramente, que vocês saibam o que estão fazendo”, alertou Cavaliere.

“Eu também… Se não, estou preso”, respondeu o então ajudante de ordens de Bolsonaro.

Na sequência, o major Cavaliere indaga se os golpistas conseguiram “plotar algo” – uma gíria militar que significa encontrar algo de errado.

“Nada… Nenhum indício de fraude”, lamentou-se Cid.

Cid foi preso em maio de 2023 em uma operação da PF que investigava um esquema de fraude de cartões de vacinação comandado dentro do Palácio do Planalto que teria beneficiado parentes, além do próprio Bolsonaro e outros aliados. Outras pessoas próximas ao ex-presidente também foram alvos da polícia naquela ocasião, como o ex-major do Exército Ailton Barros.

A partir de celulares e computadores apreendidos, a investigação eventualmente encontrou mensagens de teor golpista. Os desdobramentos dessa frente de apuração revelaram novos capítulos do planejamento da intentona bolsonarista. Com o avanço dos trabalhos, Cid acabou firmando um acordo de delação com a PF, que foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

No material que embasou a operação desta quinta-feira, chancelada pelo STF, a Polícia Federal concluiu que a alta cúpula do governo Jair Bolsonaro organizou uma reunião em 5 de julho de 2022 para orquestrar ataques de teor golpista contra o sistema eleitoral brasileiro.

Para a PF, o encontro teve o objetivo de “validar e amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as eleições e a Justiça eleitoral, entre outras”, lançadas e reiteradas contra o então presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, ministros do STF e magistrados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Bolsonaro, por sua vez, teria coagido “ministros e todos os presentes para que aderissem” à operação “ilícita”.

Como publicamos no blog, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, declarou durante o encontro que mantinha contato regular com os comandantes das Forças Armadas e que o papel dos militares na comissão de transparência das eleições, criada pelo TSE para reiterar a segurança das urnas eletrônicas, era garantir a reeleição de Bolsonaro.

Ainda de acordo com a PF, a estratégia de desacreditar o sistema eleitoral e as urnas foi crucial “para manter mobilizadas as manifestações em frente às instalações militares, após a derrota eleitoral e, com isso, dar uma falsa percepção de apoio popular, pressionando integrantes das Forças Armadas a aderirem ao Golpe de Estado em andamento”.

A reunião que discutiu a estratégia golpista foi registrada em vídeo, cujo conteúdo foi obtido a partir de um computador do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, durante uma operação de busca e apreensão da PF contra o tenente-coronel do Exército em maio do ano passado.

Investigadores da PF envolvidos nas apurações disseram à equipe do blog que os integrantes da reunião não sabiam que estavam sendo filmados.

Entre os participantes do encontro, segundo a PF, estavam Jair Bolsonaro, os então ministros Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (GSI), além de Paulo Sérgio, o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil Walter Braga Netto, que seria oficializado no mesmo mês como vice de Bolsonaro nas eleições de 2022, e Mário Fernandes, chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência.

Mais recente Próxima Ministro da Defesa de Bolsonaro admitiu que papel de militares em comissão do TSE era reeleger presidente