Malu Gaspar
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Informações da coluna

Por Rafael Moraes Moura — Brasília

Sob o efeito da condenação do ex-jogador Daniel Alves por um tribunal de Barcelona a 4 anos e 6 meses de prisão pelo crime de estupro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu marcar o julgamento do caso Robinho, que aguarda desfecho há um ano.

O processo, que pode levar o ex-jogador do Santos a cumprir no Brasil, onde ele vive em liberdade, a pena de nove anos de prisão imposta em dezembro de 2020 pela Justiça da Itália, deve ser analisado pela Corte Especial do STJ em 20 de março.

O colegiado reúne os 15 ministros com mais tempo de atuação no tribunal. A nova data ainda não entrou no sistema, mas foi confirmada à equipe da coluna por fontes que acompanham de perto o caso.

Na descrição desses ministros, o relator do processo, Francisco Falcão, está preparando um voto “duríssimo” para obrigar o jogador a cumprir no Brasil a pena determinada pela Justiça italiana.

Nos bastidores, a avaliação é a de que a maioria dos magistrados deve acompanhar o entendimento de Falcão.

Para evitar o risco de fuga, Falcão determinou em março do ano passado que Robinho entregasse o seu passaporte ao STJ, atendendo a um pedido do Ministério Público Federal (MPF).

O processo em que Robinho foi condenado diz respeito a um episódio de violência sexual contra uma mulher albanesa numa boate em Milão, em 2013. A Justiça deu razão à vítima, que foi embriagada e abusada sexualmente por seis homens enquanto estava inconsciente. Os condenados alegam que a relação foi consensual.

O Ministério da Justiça da Itália chegou a pedir a extradição do ex-jogador, que vive no Brasil, mas o governo Jair Bolsonaro negou, porque a Constituição proíbe a extradição de cidadãos brasileiros. Assim, a alternativa para o judiciário italiano foi pedir que Robinho cumpra a pena no Brasil.

“Penso que, no caso do Robinho, não há alternativa legal se não fazê-lo cumprir pena no Brasil. Ele está condenado, ponto final. Precisaria uma demonstração inequívoca de um ato injusto, ilegal, praticado contra a Justiça italiana contra ele lá, o que não parece ser o caso”, disse um ministro reservadamente à equipe da coluna.

Para outro ministro ouvido pelo blog, a repercussão global do caso Daniel Alves e a gravidade do processo de Robinho pavimentam o caminho para a derrota do ex-jogador no STJ.

Em agosto do ano passado, o STJ já negou por unanimidade um pedido de Robinho para o governo da Itália fornecer uma cópia integral e traduzida do processo, o que foi interpretado pelos ministros como uma manobra para tentar retardar o desfecho do caso e o cumprimento da pena no Brasil.

A defesa do ex-jogador insiste na tradução, sob a alegação de que só assim é possível verificar se foi observado o devido processo legal no exterior.

Superada essa questão preliminar, os ministros da Corte Especial do STJ vão decidir agora sobre a homologação da sentença de Robinho.

Para o Ministério Público Federal, como a decisão definitiva sobre o caso foi tomada pela Justiça italiana há mais de um ano, como não cabem mais recursos no Poder Judiciário daquele país e como o crime de estupro é reconhecido pelas leis dos dois países, Robinho pode e deve cumprir a pena no Brasil.

O subprocurador Carlos Frederico dos Santos, que assina o parecer do MPF, sustenta que a homologação da sentença no Brasil “cumpre o compromisso de repressão da criminalidade e de cooperação jurídica em esfera penal” assumido com a Itália.

Procurado pela equipe da coluna, o advogado José Eduardo Alckmin, defensor de Robinho, frisou que o julgamento não vai decidir se houve ou não o crime.

“Vai se discutir se é possível homologar a decisão estrangeira ou não. Em resumo, se o brasileiro nato, cuja extradição é proibida pela Constituição, pode ser submetido a uma condenação estabelecida por autoridade estrangeira ou se ele deve ser julgado no Brasil”, afirmou Alckmin.

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