Malu Gaspar
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Por Rafael Moraes Moura — Brasília

A versão da minuta golpista discutida reservadamente por Jair Bolsonaro e seus aliados elencava cinco pontos de suposto “ativismo judicial” para tentar justificar a decretação do Estado de sítio e da Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A íntegra do documento foi exposta pela Polícia Federal durante o depoimento do ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes, cujo inteiro teor foi divulgado nesta sexta-feira (15) por decisão do ministro Alexandre de Moraes.

O texto, apreendido com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid, dizia que Moraes “nunca poderia ter presidido o TSE, uma vez que ele e Geraldo Alckmin possuem vínculos de longa data, como todos sabem”.

Moraes foi secretário de segurança pública do Estado de São Paulo de janeiro de 2015 a maio de 2016, durante o governo de Geraldo Alckmin. Na época, ele e Alckmin eram filiados ao PSDB.

“Todo servidor público (seja ele um ministro do Supremo Tribunal Federal ou um ‘gari’ de uma cidadezinha do interior) deve atuar sempre de acordo com o ‘princípio da moralidade institucional’: deve atuar de forma íntegra e legítima”, diz a minuta.

Outros dois pontos trazidos no documento para justificar o golpe de Estado eram as “decisões legítimas permitindo a censura prévia” e “as decisões afastando muitas 'causas justas' da apreciação da Justiça”.

O documento acusava o TSE, por exemplo, de não ter apurado uma suposta denúncia da campanha bolsonarista relativa à falta de inserções de propaganda eleitoral.

Na reta final do segundo turno, a campanha de Bolsonaro acionou o TSE sob a alegação de que inserções de rádio da campanha do então candidato à reeleição não foram transmitidas, o que teria levado Lula a ter um número maior de inserções em emissoras de rádio, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.

Na época, Moraes considerou que a denúncia foi apresentada “sem base documental alguma” e determinou a apresentação de provas.

Um quarto ponto usado na minuta golpista é o que os bolsonaristas chamam de “decisões limitando a transparência do processo eleitoral e impedindo o reconhecimento de sua legitimidade”.

Nesse tópico, a minuta alega que o TSE impediu o acesso do Ministério da Defesa ao código-fonte das urnas, o que não é verdade.

Em agosto de 2022, o general Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa, chegou a solicitar acesso “urgentíssimo” ao código-fonte dos sistemas eleitorais usados nas urnas, algo que o TSE já havia disponibilizado havia dez meses às entidades fiscalizadoras, inclusive às próprias Forças Armadas.

Ainda no rol das supostas decisões que limitaram a transparência do processo eleitoral, a minuta diz que não foi apurada a denúncia do PL quanto às “urnas velhas” e que a legenda de Bolsonaro ainda foi punida com uma “multa arbitrária e confiscatória” no valor de R$ 22,9 milhões por litigância de má-fé, ou seja, por acionar a Justiça de forma irresponsável.

O documento destaca que os dois primeiros dígitos da multa (22) “coincidem com o número do partido político em questão”, o PL. O valor foi imposto por Moraes em uma decisão individual, que acabou confirmada pelo plenário do TSE em dezembro de 2022.

Um último ponto trazido pela minuta cita “decisões abrindo a possibilidade de revisão do ‘trânsito em julgado’ de importantes matérias já pacificadas pelo STF”, com o objetivo de “prejudicar os interesses de certos e determinados contribuintes”.

Não há um maior detalhamento sobre o que os bolsonaristas queriam dizer nesse ponto, mas na próxima semana o Supremo retoma julgamento que discute os “limites da coisa julgada” em matéria tributária.

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