Malu Gaspar
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Informações da coluna

Por Malu Gaspar

O ex-comandante da Aeronáutica Carlos Augusto Baptista Júnior relatou à Polícia Federal que mesmo depois de constatar que ele e o chefe do Exército eram contra um golpe, Jair Bolsonaro convocou uma reunião de emergência no Palácio do Planalto, num sábado, para tratar do assunto.

De acordo com o depoimento do brigadeiro, ele soube da reunião pelo chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, com quem participava de uma formatura do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, o ITA, na noite do dia 16 de dezembro de 2023, uma sexta-feira.

A diplomação de Lula como presidente da República eleito pelo TSE já tinha ocorrido no dia 12 de dezembro, mas mensagens recolhidas pela Polícia Federal nas investigações mostram que, para o entorno golpista do ex-presidente, o dia 18 seria a data limite para tentar um golpe de estado.

Heleno teria procurado o brigadeiro logo após o final da cerimônia de formatura para pedir uma carona no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que voltaria a Brasília naquela noite, pois "tinha sido acionado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, para uma reunião de urgência no sábado dia 17/12/2024, em Brasília". Um dos formandos daquela noite era um neto do general Heleno.

Àquela altura, segundo os relatos do próprio Baptista Júnior e do ex-comandante Freire Gomes, do Exército, ambos já tinham dito ao então presidente da República que não compactuariam com nenhuma tentativa de impedir a posse de Lula.

Ainda assim, ao saber que Augusto Heleno tinha sido convocado às pressas para uma reunião com Bolsonaro naquelas circunstâncias, Baptista Júnior estranhou a chamada às pressas e perguntou Heleno se ele havia informado o presidente de que estava na formatura do neto. Quando o general disse que sim, o então comandante chamou Heleno para uma sala reservada do instituto.

"Na conversa, o depoente afirmou de forma categórica ao general Heleno que a Força Aerea não anuiria com qualquer movimento de ruptura democrática; que por não ter sido convidado para a referida reunião, solicitou ao general Heleno que reafirmasse ao então presidente a posição do depoente e do comandante do Exército", dis o trecho do depoimento que foi divulgado nesta manhã pelo Supremo Tribunal Federal. .

Nesse momento, segundo Baptista Junior, Heleno ficou "atônito e desconversou".

As investigações já constataram que os aliados golpistas de Jair Bolsonaro estavam alvoroçados naqueles dias porque consideravam que estavam no prazo final para dar um golpe.

No relatório de análise das mensagens, a PF também destacou dois áudios encontrados no celular de Ailton Barros, um capitão expulso do Exército com quem o general Braga Neto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro, conversava regularmente.

No dia 15 de dezembro de 2022, há dois áudios atribuídos a um militar da reserva não identificado que tenta acelerar a realização do plano golpista.

"Combatente, nós estamos no limite longo da ZL (zona de lançamento). Daqui a pouco não tem mais como lançar. Vamos dar passagem perdida, e aí é perdida para sempre. Você entende que eu tô falando (...) Tão há 40 e poucos dias, entendeu, até o Braga Neto veio aqui conversar com eles, que nem eu falei, tirou foto", diz o interlocutor na gravação.

O termo “limite longo da ZL” significa no linguajar militar "o prazo máximo, a zona de lançamento (ZL)", enquanto “deu passagem perdida” seria uma operação frustrada, segundo a PF.

"No caso, possivelmente, o interlocutor está alertando que o prazo para implementação do Golpe de Estado e decretação do ato de 'Garantia da Lei e da Ordem' estava se esvaindo, com a proximidade da data da posse do novo Presidente da República eleito", apontam os investigadores.

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