Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Por — Brasília

O Partido dos Trabalhadores entrou nesta segunda-feira (22) com um recurso contra a decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) que absolveu o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) das acusações de abuso de poder econômico, caixa 2 e uso indevido dos meios de comunicação.

O “recurso ordinário” do PT, assinado pelos advogados Luiz Eduardo Peccinin e Angelo Ferraro, é uma tentativa de acelerar a tramitação do caso e já levá-lo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a quem caberá decidir sobre a cassação do parlamentar e a convocação de novas eleições.

O PT quer uma análise sob os "olhos mais distantes” do TSE – o TRE do Paraná é considerado pelos adversários do ex-juiz federal da Lava-Jato um tribunal da órbita morista, algo rechaçado pelo presidente da Corte regional, o desembargador Sigurd Bengtsson.

O PT de Lula e o PL de Jair Bolsonaro entraram com ações contra Moro no TRE paranaense, sob a alegação de que os recursos despejados na fracassada pré-campanha de Moro à Presidência da República lhe deram uma exposição pública e vantagem indevida que acabou desequilibrando a disputa a seu favor na disputa pela vaga de senador do Paraná.

No julgamento do TRE do Paraná, essa tese foi abraçada apenas por dois desembargadores: José Rodrigo Sade e Julio Jacob Junior – ambos indicados ao cargo por Lula.

No recurso protocolado na noite desta segunda-feira, o PT rechaça diversos pontos do voto do relator do caso no TRE paranaense, o desembargador Luciano Carrasco Falavinha, que absolveu Moro.

Durante o julgamento, Falavinha afirmou que “até as pedras sabem que o investigado não precisaria realizar pré-campanha para tornar seu nome popular, eis que notoriamente conhecido face a ampla divulgação midiática envolvendo a operação Lava-Jato”. A posição de Falavinha foi a vencedora, sendo acompanhada por outros quatro desembargadores, culminando no placar de 5 a 2 pela absolvição de Moro.

Para a legenda de Lula, as centenas de documentos trazidos pelo PT e pelo PL ao longo da investigação, os dois votos favoráveis à cassação, assim como o parecer do Ministério Público Eleitoral paranaense a favor da perda de mandato do parlamentar, demonstram que a discussão do caso "é válida" e "visa apenas garantir a higidez do pleito ao Senado paranaense, bem como traçar parâmetros e limites aos futuros casos similares".

O recurso do PT também faz um contraponto às críticas de Falavinha, que questionou em seu voto a postura da legenda de Lula, de ter contestado primeiramente a transferência do domicílio eleitoral de Moro para São Paulo e depois impugnar a sua candidatura ao Senado pelo Paraná, Estado pelo qual ele acabou concorrendo. “É comportamento contraditório que busca impedir um candidato de participar da vida política”, apontou Falavinha.

“É muita ingenuidade acreditar que, atuando como juiz em grande operação de combate a corrupção que afetou razoável parte do quadro político, ao sair da magistratura e ingressar no governo beneficiado eleitoralmente pela indicada operação, (Moro) não seria atacado”, ressaltou o relator no julgamento, ao lembrar a atuação do hoje senador à frente da Lava-Jato, que acabou levando para cadeia uma série de políticos, entre eles o próprio Lula.

O PT, por sua vez, afirma ter visto com “surpresa" as considerações de Falavinha, já que “não é o comportamento” da própria sigla que deveria estar sendo submetido a julgamento pela Justiça Eleitoral.

"A recorrente, aliás, apenas está exercendo o seu direito de questionar abusos realizados na pré-campanha ao Senado do Paraná, nos termos do art. 22 da Lei Complementar número 64/90. Ainda que isso desagrade alguns, a presente demanda segue estritamente o que autoriza a normativa eleitoral", sustenta o partido.

No recurso, o PT rechaça as críticas de que estaria tentando impedir Moro de assumir uma carreira política após abandonar a magistratura. "Sob nenhuma hipótese a recorrente tenta impedir o candidato (Sergio Moro) de participar da vida política. Vale lembrar novamente que a legitimidade para pedir abertura de investigação judicial eleitoral é garantida pelo art. 22 da LC n. 64/90, tendo em vista o resguardo ao interesse público de fiscalização da normalidade e legitimidade das eleições."

No recurso, o PT ainda destaca que o PL de Bolsonaro – de quem Moro foi ministro da Justiça, antes de deixar o cargo levantando acusações de interferência indevida na Polícia Federal – é autor da outra ação que pede a cassação do mandato do parlamentar. Após a saída do governo, Moro acabou se reaproximando de Bolsonaro e defendeu a sua reeleição em 2022.

Para o PT, a ofensiva do PL de Bolsonaro contra Moro "demonstra que não há qualquer intenção de perseguição política no mero questionamento judicial de possíveis ilicitudes eleitorais" do senador paranaense.

O partido de Lula ainda aponta que a conduta de Moro à frente da Lava-Jato e após abandonar a carreira de magistrado entrou na mira do Tribunal de Contas da União (TCU), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Polícia Federal, que acusou em relatório a Lava-Jato de ter atuado de forma irregular para direcionar R$ 2,5 bilhões a uma fundação privada que seria gerida por integrantes da força-tarefa.

"Estariam Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria-Geral da República, a Polícia Federal, o Tribunal de Contas da União e o Conselho Nacional de Justiça impondo uma perseguição a Sergio Moro? Evidente que a resposta é negativa."

Na última quinta-feira foi publicado no Diário da Justiça Eletrônico o acórdão do caso Moro, uma espécie de resumo do julgamento, de 583 páginas. O prazo para as partes contestarem o resultado do julgamento do tribunal paranaense e apresentarem seus recursos terminou às 23h59 desta segunda-feira.

A leitura de inimigos de Moro é a de que a ação contra Seif servirá de “termômetro” para o julgamento do ex-juiz da Lava-Jato no tribunal.

Primeiro porque vai mostrar a disposição do TSE de cassar um senador de perfil conservador, campeão de votos na região Sul, tradicional reduto bolsonarista.

E depois porque poderá indicar a que tipo de argumentos os ministros são mais sensíveis, mesmo os dois casos tendo histórias diferentes, uma vez que pesa contra ambos a acusação de terem cometido o mesmo ilícito eleitoral: abuso de poder econômico no pleito de 2022.

Seif é acusado pela coligação do ex-governador Raimundo Colombo (PSD) de usar a frota aérea da rede varejista Havan, do empresário Luciano Hang, além de sua equipe de funcionários, mobilizando a estrutura da empresa para alavancar a sua candidatura.

A ideia dos estrategistas do PT é monitorar o julgamento de Seif e mapear as falas dos ministros que venham a se posicionar pela cassação do senador catarinense. O objetivo é aproveitar as eventuais declarações de ministros do TSE contra Seif para reforçar o pedido de cassação contra Moro.

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