Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Por — Brasília

Caso o Congresso Nacional derrube o veto de Lula sobre a lei que restringe as saidinhas, o fim das visitas de presos a seus familiares também vai atingir os golpistas encarcerados pela participação nos atos de 8 de Janeiro, quando a sede dos três poderes foi invadida e dilapidada por extremistas seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília. Essa é a avaliação de defensores públicos e advogados que atuam diretamente em casos relacionados aos manifestantes que acabaram presos por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

O argumento tem sido usado por aliados de Lula na missão de convencer parlamentares da oposição a não acabar com as visitas de presos a familiares – missão que, na avaliação dos governistas, é quase impossível.

“O eleitorado da direita quer acabar com as saidinhas. E como é ano eleitoral, os parlamentares não querem arriscar”, diz uma fonte que participa da discussão no Congresso Nacional.

De acordo com levantamento divulgado nesta semana pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do STF, 88 pessoas estão presas por envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 – dessas, 13 já foram condenadas, 42 estão no banco dos réus após o STF receber a denúncia e outras 33 estão com inquéritos em andamento.

Hoje a lei concede a saída temporária a presos que estão no regime semiaberto, já cumpriram parte da pena (1/6 para réus cumprindo a 1ª condenação e 1/5 para reincidentes, em crime cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça) e apresentam bom comportamento, sem faltas graves no último ano.

Mas pelo projeto de lei aprovado em março e vetado parcialmente pelo presidente da República, a saidinha só seria permitida aos detentos em regime aberto se for para cursar supletivo profissionalizante, ensino médio ou superior.

Com o veto parcial ao projeto, Lula manteve a saidinha também para visitas a familiares – e irritou lideranças partidárias, que consideram esse ponto a questão principal do texto, aprovado com amplo apoio na Câmara e no Senado, inclusive com votos da bancada governista.

O tema enfrenta não só resistência no Parlamento, mas entre os próprios manifestantes do 8 de Janeiro, que também se posicionam contra a saidinha para visitar familiares – um direito que poderia beneficiá-los mais adiante.

“Fiquei chocado. Trabalho com crime há mais de 10 anos e jamais achei que essa seria a resposta deles”, diz o advogado Silveira Ezequiel, da autointitulada “associação dos familiares e vítimas do 8 de Janeiro”, que representa os manifestantes golpistas.

“Eles disseram que esse instrumento beneficia a criminalidade. E são contra ainda que isso os prejudique, pois não se consideram criminosos.”

O Ministério dos Direitos Humanos chegou a defender o veto integral ao projeto, mas acabou prevalecendo a posição do Ministério da Justiça, de uma sanção parcial, derrubando o ponto que proibia as visitas a familiares.

A avaliação nos bastidores foi a de que o veto total seria interpretado como uma afronta ao Parlamento, onde o governo Lula conta com uma base aliada frágil e enfrenta uma situação difícil em negociações de matérias de interesse do Planalto.

Na última terça-feira, durante café com jornalistas no Palácio do Planalto, Lula saiu em defesa do direito de presos visitarem familiares enquanto cumprem suas penas.

“Como vai proibir cidadão que tá cumprindo pena, e se ele está cumprindo pena é que o Estado pensa que é possível recuperá-lo, e não cometeu crime considerado hediondo. possa deixar de visitar parente? Tenho certeza que muitos daqueles que são contra, quando parente sair vai querer recebê-lo, porque família é coisa muito sagrada”, disse o presidente.

Segundo levantamento feito pelo G1, dos cerca de 52 mil presos beneficiados pela saída temporária de Natal no ano passado, 49 mil (95%) voltaram às cadeias dentro do prazo – e pouco mais de 2,6 mil descumpriram.

Para o veto de Lula ser derrubado nas saidinhas, é preciso o apoio de 41 votos de senadores e 257 votos de deputados, computados em votações separadas. A expectativa é a de que a votação ocorra no início de maio.

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