Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Informações da coluna

A decisão do ministro José Dias Toffoli que cancelou as penas do empreiteiro Marcelo Odebrecht, na semana passada, provocou um racha silencioso no Supremo Tribunal Federal (STF). Os sinais de irritação com a medida foram bem claros na ala de que fazem parte Cármen Lúcia, André Mendonça, Luiz Fux, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso.

Ainda assim, as chances de ela ser revertida no plenário do STF são mínimas em razão de uma questão processual. Pelo regimento do Supremo, quem pode recorrer da decisão é o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e a forma que ele teria de tentar forçar o envio da liminar de Toffoli para a avaliação dos onze ministros da Corte seria usando um tipo de recurso chamado "suspensão de segurança".

Por essa medida, Gonet recorreria diretamente ao presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, o que permitiria a ele suspender decisões de instâncias inferiores e, em casos extremos e raros, até derrubar sozinho a liminar de Toffoli.

Só que essa alternativa escancararia os conflitos no tribunal e poderia ser vista pela outra ala do Supremo como uma tentativa de driblar Toffoli em um assunto considerado politicamente "tóxico", o que poderia acabar se voltando contra a Procuradoria em futuros julgamentos.

Assim, interlocutores de Gonet na PGR dizem que a tendência é repetir o tipo de recurso já adotado contra as decisões semelhantes de Toffoli.

Diálogos vazados

Das outras vezes, Gonet entrou com um agravo regimental pedindo que o próprio Toffoli determine a redistribuição do caso para outro colega, reconsidere a decisão ou envie a controvérsia para o plenário. O ministro ainda poderia enviar o recurso para a Segunda Turma do STF, que em geral decide fechada com Toffoli.

Nas liminares concedidas em setembro de 2023 e fevereiro de 2024, Toffoli anulou medidas punitivas contra Odebrecht e até a J&F, que nada tem a ver com a Lava-Jato, em razão do conteúdo dos diálogos entre procuradores da força-tarefa com o então juiz Sergio Moro. O ministro diz que as mensagens captadas pelo hacker Walter Delgatti Netto mostram que houve coação dos investigados e que isso invalidaria as penas – mas não as delações.

Mas apesar de Gonet ter adotado uma estratégia conciliatória para não melindrar o ministro e nem a ala antilavajatista do Supremo, Toffoli não parece preocupado em retribuir o gesto.

Embora tenham sido protocolados em fevereiro passado, os recursos de Gonet continuam em alguma gaveta do gabinete de Toffoli. O ministro não tem prazo para tomar sua decisão, e pelo jeito não está com muita vontade de avaliar os recursos – menos ainda de enviar sua própria liminar para ser escrutinada no plenário do STF.

Capa do audio - Malu Gaspar - Conversa de Bastidor
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