Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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A demissão do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, faz dele o CEO mais breve da companhia sob um governo do PT, partido ao qual é filiado.

Prates deve formalizar sua saída do cargo na assembleia extraordinária do Conselho de Administração da petroleira convocada para esta quarta-feira. Na reunião, o presidente do conselho vai indicar um interino para substitui-lo até a aprovação da escolhida por Lula, Magda Chambriard.

Assim, o CEO terá passado 475 dias à frente da maior empresa do Brasil – ele tomou posse no fim de janeiro de 2023, quando teve sua indicação pela União aprovada pelo colegiado. É um período menor do que Aldemir Bendine, presidente da Petrobras no segundo mandato de Dilma Rousseff, que até então tinha sido o que menos tempo ficou no cargo na era petista.

Mas Bendine, diferentemente de Prates, não foi demitido pelo presidente responsável pela sua indicação. Sua gestão de 479 dias foi abreviada pelo impeachment, quando Michel Temer nomeou Pedro Parente para o comando da Petrobras ainda antes de o Senado Federal confirmar a destituição de Dilma.

Na mensagem que compartilhou com aliados da gestão da Petrobras, o atual CEO fez menção indireta à brevidade de sua passagem pelo comando da estatal ao frisar que sua missão fora “precocemente abreviada” sob a “presença regozijada de Alexandre Silveira [Minas e Energia] e Rui Costa [Casa Civil], dois dos ministros de Lula que trabalharam por sua saída nos últimos meses.

Tanto Prates quanto Bendine contrastam com os demais dirigentes da Petrobras em governos do PT. José Eduardo Dutra, primeiro presidente da estatal indicado por Lula em 2003, permaneceu no cargo por dois anos e cinco meses e deixou o cargo para disputar uma vaga no Senado por Sergipe em 2006.

Dutra foi substituído por Sergio Gabrielli, que foi o mais longevo presidente da Petrobras. Ele permaneceu no comando da empresa durante quase sete anos, entre 2005 e 2012, desde o final do primeiro mandato de Lula até o início do governo Dilma.

Gabrielli é até hoje um conselheiro informal de Lula. Como mostrou O GLOBO na última terça-feira, o ex-presidente da companhia foi um dos aliados ouvidos pelo presidente antes de decidir pela nomeação de Magda Chambriard.

Ele foi substituído por Graça Foster, a primeira mulher a presidir a Petrobras – e, até a oficialização da posse de Magda, a única até os dias atuais. Foster ficou no cargo durante três anos.

Sua gestão foi abalada pela Operação Lava-Jato, quando se tornou público que a administração da companhia foi alertada sobre os esquemas de corrupção em contratos da petroleira. Sob pressão do Congresso, Foster renunciou e foi substituída por Bendine, o último presidente da Petrobras nos primeiros 13 anos do PT no comando do Palácio do Planalto.

Se forem levados em conta todos os governos desde a redemocratização do Brasil, sem considerar interinos, o dirigente mais breve da Petrobras foi José Mauro Coelho.

Indicado por Jair Bolsonaro em abril de 2022, ele permaneceu apenas 67 dias no cargo e caiu durante um processo de fritura estimulado pelo então presidente, que ensaiava intervir na estatal para controlar os preços dos combustíveis durante o ano eleitoral.

Como contamos no blog à época, apesar das divergências com Bolsonaro sobre a política de preços da companhia, Coelho foi pego de surpresa pela demissão. Ele foi substituído por Caio Paes de Andrade, o quarto CEO da petroleira na era bolsonarista.

Prates sob fritura

A fritura de Prates, que se intensificou em abril, também guarda relação com divergências entre os interesses do governo de plantão e a gestão da companhia.

A disputa inicialmente velada – e posteriormente escancarada – entre Prates e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, por influência na gestão da estatal, se agravou neste ano com a divisão no governo sobre o pagamento dos dividendos extraordinários da Petrobras.

O CEO defendia a proposta da diretoria de distribuir aos acionistas 50% dos recursos que sobraram no caixa após o pagamento dos dividendos regulares – R$ 43,9 bilhões – o que agradava o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, uma vez que a União receberia uma fatia do dinheiro na condição de maior acionista da empresa, conseguindo mais recursos para sustentar a meta fiscal do déficit zero.

Já Silveira, com o apoio do ministro da Casa Civil, Rui Costa, propunha segurar a verba em um fundo de reserva alegando que seria necessário para melhorar as condições da Petrobras de obter empréstimos para investimentos.

Lula arbitrou a disputa e determinou em março deste ano que os seis conselheiros indicados pela União votassem contra o pagamento. Prates negou publicamente que houvesse uma ordem do presidente da República nesse sentido, mas foi desmentido pelo próprio petista no mesmo dia.

Após duas reuniões encabeçadas por Lula, o presidente encampou a tese de Silveira, o que irritou Prates. A situação só se resolveu em abril, quando prevaleceu a proposta dos 50%.

O desgaste de Prates já havia se tornado irreversível. Além do impasse em torno dos dividendos, auxiliares de Lula com assento no Palácio do Planalto viam falta de traquejo político em Prates no comando da petroleira. O presidente também se queixava do ritmo de sua gestão na condução de obras e investimentos em refinarias e na indústria naval.

Em suas redes sociais, Magda defende os investimentos que Lula quer ver acelerados, o que fez com que conselheiros e diretores da Petrobras avaliassem que sua escolha representa a vitória da ala intervencionista do governo Lula, liderada por Costa e Silveira.

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