Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Por — Brasília

Em uma solução costurada com o Palácio do Planalto, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli decidiu antecipar o voto no julgamento que trata das restrições a políticos no comando de empresas públicas e propôs uma solução intermediária para manter de pé as indicações feitas pelo governo Lula até aqui.

Com o plenário dividido sobre a validade da Lei das Estatais, e o julgamento com o placar provisório de 1 a 1, Toffoli propôs um “plano B”, nos termos desejados pelo Planalto: mesmo votando pela validade da lei, sancionada por Michel Temer em 2016 para impedir o loteamento político da Petrobras, defendeu a manutenção das indicações políticas feitas pela administração petista durante os 14 meses em que esteve em vigor a liminar do ex-ministro Ricardo Lewandowski.

Em março do ano passado, Lewandowski derrubou a quarentena obrigatória de três anos para dirigentes partidários e pessoas que tenham trabalhado no comando de campanhas eleitorais assumirem cargos de direção em estatais. Agora, o plenário do Supremo decide se mantém ou não de pé a liminar de Lewandowski, ao analisar se a Lei das Estatais viola a Constituição.

“Gostaria de antecipar uma posição minha. O Congresso Nacional tem o direito de estabelecer requisitos e elegibilidades. Não é questão de quem é melhor ou pior para gerir. É se a lei aprovada pelo Legislativo é constitucional ou não. Eu não vejo inconstitucionalidade na lei, posso até posteriormente discutir eventual proporcionalidade do tempo de quarentena”, iniciou Toffoli, que tem tentado fazer uma série de acenos a Lula desde que o petista retornou à Presidência da República.

“Ao mesmo tempo, assim como nós fazemos em vários outros casos, e aí não é modulação, é questão da boa-fé, todos os atos praticados durante a vigência da liminar, eu entendo hígidos. Então, o meu voto, adiantando posição e depois farei a formulação por escrito, hoje eu já adianto o meu posicionamento, o meu posicionamento é pela constitucionalidade e pela higidez da lei, mantidas as nomeações ocorridas durante a vigência da liminar, sem prejuízo de discutir eventual proporcionalidade do tempo de quarentena.”

Por conta da liminar de Lewandowski, políticos como o ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara e uma série de secretários e ministros puderam ser nomeados para conselhos de empresas estatais. Câmara, por exemplo, assumiu a presidência do banco do Nordeste duas semanas depois da liminar. Depois de se aposentar e deixar o Supremo, Lewandowski se tornou ministro da Justiça de Lula.

Para que a liminar de Lewandowski continue em vigor e trechos da Lei das Estatais sejam considerados inconstitucionais, são necessários mais cinco votos a favor – o que é considerado difícil nas contas do próprio Palácio do Planalto.

Por isso, conforme antecipou o blog, os interlocutores de Lula junto ao Supremo articularam uma solução alternativa entre os ministros para o caso de a liminar cair: a de modular seus efeitos, mantendo as nomeações feitas nos 14 meses em que a decisão esteve em vigor, sob o argumento de que essas pessoas assumiram os cargos quando as restrições estavam afastadas.

Foi essa a solução intermediária apresentada por Toffoli na sessão desta quarta-feira, que acabou endossada por outros integrantes da Corte ao longo do julgamento, como André Mendonça, Kassio Nunes Marques, Alexandre de Moraes e o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso.

"Também considero a lei constitucional, mas há também uma questão da continuidade da administração pública. Acho que a linha proposta pelo ministro Dias Toffoli pode ser uma construção coletiva, sim", frisou Barroso.

Para o presidente do STF, em nome da segurança jurídica e da estabilidade institucional, as indicações já feitas com base na liminar de Lewandowski deveriam ser preservadas para não impactar a administração pública.

"Penso da mesma forma, pela manutenção dos atos praticados", concordou Nunes Marques.

Mesmo se manifestando para derrubar as restrições, o ministro Flávio Dino observou que poderia aderir a essa corrente caso não prevaleça o seu entendimento pela inconstitucionalidade de trechos da Lei das Estatais. "Se eu restar vencido, a minha posição vai nessa direção de segurança jurídica", afirmou Dino.

Este não é o primeiro e certamente não será o último aceno de Toffoli a Lula.

Com Lula em ascensão nas pesquisas eleitorais, durante a campanha de 2022, o ministro já havia feito um reposicionamento de sua imagem e buscado uma reaproximação com o petista – deixou de chamar o golpe militar de “movimento de 1964” para defini-lo como “desastre”.

Os dois se afastaram durante o período em que Toffoli chefiou o Supremo, entre 2018 e 2020, em meio ao avanço das investigações da Lava-Jato contra Lula.

Naquela época, Toffoli não autorizou Lula a ir a São Bernardo para ir ao enterro do irmão Vavá, limitando-se a permitir que o petista se reunisse com familiares num quartel próximo, o que provocou uma profunda mágoa no presidente. Mas, desde que Lula se reabilitou politicamente, Toffoli tem tentado se redimir de várias formas.

Em setembro do ano passado, ao anular as provas do acordo de leniência da Odebrecht, o ministro do STF chegou a afirmar que a prisão de Lula foi um dos “maiores erros judiciários da História do Brasil”. A Lei das Estatais é mais um dos capítulos da relação entre os dois.

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