Malu Gaspar
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Por e — Brasília e Rio

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a dirigente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, vão dobrar a aposta na pressão sobre Eduardo Paes (PSD) para que o partido indique o vice na chapa do prefeito do Rio, candidato à reeleição nas eleições de outubro. Lula e Gleisi tentam contornar as resistências de Paes, que pretende indicar um aliado próximo em uma chapa puro-sangue do PSD, às investidas da sigla.

O movimento ocorre poucos dias depois de uma reunião entre o presidente e o prefeito carioca no Palácio do Planalto. Na última quarta-feira (29), Lula disse a Paes que gostaria de indicar o secretário de Assuntos Federativos da Presidência, André Ceciliano, para ser vice na chapa, conforme mostrou O GLOBO na última segunda-feira.

A conversa ocorreu na presença do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e Lula foi direto. Perguntou a Paes se poderia exonerar Ceciliano para que ele se tornasse vice, e o prefeito disse que precisava de mais um tempo para pensar.

Ainda assim, Lula exonera Ceciliano na próxima quinta-feira, partindo da avaliação de que a saída dele do governo é necessária para que ele esteja pronto caso Paes se convença.

Em conversas nesta semana, o presidente indicou a interlocutores que vai fazer um novo pedido a Paes "em caráter pessoal" para que indique Ceciliano, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) entre 2017 e 2023 e candidato ao Senado no estado na chapa de Lula em 2022.

Já no PT se discute uma manifestação formal dizendo que, sem um vice na chapa de Paes, o partido poderia apoiar outra candidatura, como a do deputado federal Tarcísio Motta (PSOL), que hoje figura em terceiro lugar nos principais institutos de pesquisa. A adesão a Tarcísio já vem sendo defendida por uma ala do PT encabeçada pelo deputado federal Lindbergh Farias há meses.

O presidente está determinado a insistir com Paes, que o apoiou já no primeiro turno na última eleição presidencial, após flertar brevemente com as pré-candidaturas de Eduardo Leite (PSDB-RS) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), nos próximos dias.

Na leitura de petistas, no entanto, a estratégia de Paes de ganhar tempo faz parte de um esforço para consolidar o seu vice ideal, o deputado federal Pedro Paulo (PSD), no cargo.

Já o prefeito tem dito a interlocutores que Lula só tem feito pressão para responder a uma demanda dos petistas, mas que o presidente entende que um petista como vice pode prejudicar Paes em uma disputa contra um candidato de extrema direita, em uma campanha em que o clã Bolsonaro vai se empenhar pessoalmente.

Para os aliados de Paes, a presença do PT na chapa pode espantar o apoio formal de partidos de centro e centro direita como o PSDB e o Cidadania.

O plano A de Paes é ter Pedro Paulo, mas, se isso por algum motivo não for possível, o lugar seria de algum de seus secretários que também devem ser exonerados nos próximos dias.

Pelo menos dois desses secretários vão deixar a prefeitura para ficar à disposição do chefe: Guilherme Schleder e Eduardo Cavalieri, que são deputados estaduais e estão licenciados para ocupar respectivamente a Secretaria de Esportes e a Casa Civil. Mas o PT também decidiu que Adilson Pires, vice de Paes em seu segundo mandato (2013-2017), pedirá exoneração para servir como uma alternativa a Ceciliano.

Uma vez definida a chapa, os secretários podem voltar aos postos caso não sejam oficializados como candidatos a vice – assim como Ceciliano no caso da Secretaria de Assuntos Federativos do Planalto.

Sucessão já em 2026

A pressão do PT sobre Paes tem duas razões principais. A primeira é que há uma grande probabilidade de o prefeito, caso reeleito para seu quarto mandato, se candidatar em 2026 ao governo do estado – o atual governador, Cláudio Castro (PL), não pode concorrer novamente.

Entretanto, para disputar o Palácio Guanabara, Paes vai precisar renunciar em março de 2026 – o que colocaria o vice no comando da cidade até pelo menos janeiro de 2028. O PT nunca elegeu um prefeito na cidade e só chegou ao segundo turno em 1992, com Benedita da Silva.

O outro motivo seria a vontade de Lula de fazer mudanças na equipe de Padilha para tentar virar o jogo na articulação política, que enfrenta problemas.

Na Secretaria de Assuntos Federativos, Ceciliano é a ponte entre o Planalto e prefeitos e governadores. Apesar de não estar diretamente envolvido nas negociações com o Congresso, o cargo pode fazer parte de uma reestruturação do ministério de Padilha.

De um jeito ou de outro, setores mais pragmáticos do PT admitem desde o ano passado que a pressão pela vice faria parte do jogo partidário e que, com a abertura da campanha eleitoral, o partido acabaria caminhando com Paes.

Nesse cálculo, o partido não teria força para uma candidatura própria e a adesão incondicional ao prefeito poderia render um trunfo caso ele de fato se lance ao governo estadual daqui a dois anos. O apoio nestas eleições municipais renderia a Lula em 2026 um palanque competitivo no Rio, berço eleitoral de Jair Bolsonaro, onde o PT não vence desde 2014.

Capa do audio - Malu Gaspar - Conversa de Bastidor
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