Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Informações da coluna
Por — Rio

A associação entre a tentativa de assassinato do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, candidato do Partido Republicano à Casa Branca, há exatamente uma semana, e o atentado sofrido por Jair Bolsonaro em 2018 tem sido explorada pelo ex-ocupante do Palácio do Planalto e apoiadores. A estratégia veio à tona no ato em que contou com a presença de Bolsonaro e seu pré-candidato à Prefeitura do Rio, Alexandre Ramagem (PL), na Zona Norte da cidade na última quinta-feira (18).

O brasileiro reagiu logo após os primeiros relatos do tiroteio, no último sábado (13), quando a própria condição exata dos ferimentos de Trump era desconhecida. “Nossa solidariedade ao maior líder mundial do momento. Esperamos sua pronta recuperação. Nos veremos na posse”, escreveu, apostando na vitória do republicano.

Poucas horas após o ataque contra Trump, se disseminou nas redes o paralelo entre o atentado a tiros contra o americano durante um comício no estado da Pensilvânia e a facada sofrida por Bolsonaro em setembro de 2018, a pouco menos de um mês do primeiro turno da eleição presidencial. Mas, na quinta, a associação ganhou também as ruas.

Duas horas e meia antes da chegada de Bolsonaro ao comício pré-eleitoral na Praça Saens Peña, na Tijuca, uma faixa fixada sobre um ponto de ônibus bem ao lado do trio elétrico a partir do qual o ex-presidente discursaria questionava: “Quem mandou matar Bolsonaro?”.

O questionamento evoca teorias alimentadas por bolsonaristas de que Adélio Bispo, autor da tentativa de assassinato do então candidato do PSL à presidência, não agiu sozinho – embora a Polícia Federal tenha concluído no mês passado, pela segunda vez, que Bispo não contou com o suporte de terceiros.

Pouco após iniciar seu discurso para a militância no Rio na última quinta, Bolsonaro aludiu ao episódio ao comentar o ataque contra Trump, seu mais importante aliado entre lideranças estrangeiras.

“Só quem é conservador é de direita é atacado. Tentaram matar Donald Trump há poucos dias no Brasil. Um milagre lá e outro aqui”, declarou o ex-presidente, em referência à sua própria sobrevivência após a facada em 2018.

Trump, que atualmente lidera várias pesquisas da eleição presidencial dos EUA, levou um tiro de raspão na orelha direita durante um comício na cidade americana de Butler. Análises posteriores indicaram que o atirador Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, só não atingiu o republicano porque o candidato moveu a cabeça durante o discurso. Um apoiador morreu baleado, enquanto Crooks foi morto pelo Serviço Secreto.

Colete à prova de balas

No Rio, o ex-presidente brasileiro cumprimentou dezenas de apoiadores quando chegou ao ato com Ramagem, vestindo um colete à prova de balas por baixo da camisa da Seleção. Segundo um interlocutor de Bolsonaro, o ex-chefe do Executivo sempre buscou usar a proteção em eventos públicos, após o atentado de 2018.

Um cordão de seguranças o acompanhava, e um cordão de isolamento em torno do trio elétrico separou os apoiadores de um seleto grupo de pré-candidatos a vereador, aliados e outras lideranças locais do PL que passou por uma triagem dos organizadores do ato.

Durante o discurso de Bolsonaro, um dos grupos autorizados a permanecer na área do cordão de isolamento ergueu outra faixa com a pergunta “Quem mandou MATAR Bolsonaro?”, com o segundo verbo destacado em letras maiúsculas e vermelhas.

Havia grande expectativa em torno do ato do ex-presidente com Alexandre Ramagem, um dos alvos do inquérito da Abin paralela, que apura o suposto esquema de arapongagem para monitorar adversários de Bolsonaro quando o atual pré-candidato a prefeito era o diretor da agência de inteligência.

Isso porque veio à tona na última segunda-feira (15) uma gravação secreta de Ramagem realizada durante uma reunião no Palácio do Planalto que tratava sobre as investigações das “rachadinhas” em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Como mostrou O GLOBO, Bolsonaro relatou a aliados ter ficado surpreso e irritado com a existência do áudio. À PF, Ramagem declarou na última quarta-feira (17) que o registro foi feito com a anuência do ex-presidente, versão que não foi desmentida em público.

Ironicamente, o relatório da PF no caso Abin paralela traz detalhes de como o chamado gabinete do ódio, grupo que despachava dentro do Planalto com o objetivo de disseminar informações falsas contra desafetos de Bolsonaro, explorou o episódio Adélio Bispo para fomentar teorias conspiratórias.

Diálogos obtidos pelos investigadores revelam que o servidor da Abin Giancarlo Rodrigues discutiu com o policial federal Marcelo Bormevet sobre um perfil que fez associações falsas entre Bispo e figuras públicas tidas como inimigas do governo, como o então governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ), o ex-presidente do PT José Dirceu e até a colunista da Folha de S. Paulo Monica Bergamo.

“Colhendo frutos da minha nova amizade por causa do material enviado”, escreveu Giancarlo a Bormevet em referência a um perfil denominado “Vlog do Rui” no X.

O servidor então encaminhou prints no qual o perfil vinculava a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de suspender a nomeação de Alexandre Ramagem para a direção-geral da PF em 2020 a um suposto conluio entre advogados de Bispo e os adversários de Bolsonaro.

“Agora está entendido o porquê [d]o Supremo Tribunal Federal ter feito guerra com a nomeação do Ramagem”, diz um dos posts publicados pelo Vlog do Rui.

Para a PF, a apropriação da Abin pela organização criminosa ligada à arapongagem paralela poderia ter se estendido à corporação se a indicação de Ramagem tivesse sido mantida.

“A ação de impedir a apropriação institucional de toda a Polícia Federal [a suspensão da nomeação de Ramagem] era devidamente inserida em contextos de desinformação como forma de ataque ao Poder Judiciário”, atesta o relatório da Polícia Federal.

O inquérito sobre a facada de Bolsonaro havia sido reaberto pela PF durante o governo Jair Bolsonaro, mas a corporação novamente não encontrou qualquer evidência de coparticipantes. Em 2019, Adélio Bispo foi considerado inimputável pela Justiça, decisão da qual Bolsonaro não recorreu.

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