Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Por e — Rio e Brasília

O presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, defendeu na última sexta-feira (12) em conversa com a equipe do blog a operação de R$ 500 milhões em títulos negociados com a divisão da Caixa Econômica de gestão de ativos, vetada por um parecer técnico da estatal. Segundo ele, a aquisição é um “bom negócio”.

"Tenho investidores profissionais e de alta performance que adquiriram esse ativo”, assegurou o CEO por telefone. Vorcaro, porém, não revela quem são os compradores dos títulos, classificados no parecer da Caixa Asset como uma operação “arriscada” e “atípica”. Conforme contamos na véspera, a cúpula da Caixa destituiu dois gerentes que se opuseram à operação e colaboraram com o documento.

O executivo alegou que não poderia informar quem são os compradores por conta de sigilo.

Em entrevista à equipe da coluna, Vorcaro admite que a venda dos papeis, que segundo ele começou a ser tratada com a Caixa Asset desde o início do ano, foi abalada pela revelação do parecer, divulgado pelo blog na sexta.

No documento, técnicos apontaram ser “atípica” a negociação do aporte de R$ 500 milhões em um prazo de 10 anos no caso de um banco de médio risco, conforme a classificação (rating) da própria Asset.

O parecer também alertou para o “alto risco de solvência” do Master e apontou “operação complexa de investimentos em companhias” com empresas em recuperação judicial ou com alto grau de endividamento”.

Vorcaro rebate essas afirmações e diz que o balanço do primeiro semestre a ser divulgado pelo Master em duas semanas apontará um lucro líquido de aproximadamente R$ 500 milhões, próximo ao registrado em todo o ano de 2023 (cerca de R$ 520 milhões).

"Na verdade, essas operações, após uma notícia dessas, o banco vive muito da credibilidade, né? Uma notícia dessas as pessoas não conseguem ler nas entrelinhas que é um relatório de três pessoas, que não é a opinião da Caixa, que não é a realidade sobre o banco, sobre os números do banco efetivamente. Quando acontece isso, obviamente atrapalha a execução da operação, e até de outras, porque outros ficam com receio… Uma operação trivial acaba sendo colocada como algo fora de contexto", afirmou.

De acordo com ele, o balanço vai trazer o volume de letras financeiras do mesmo tipo das oferecidas à Caixa que já foram vendidas no mercado ao longo do primeiro semestre, mas sem especificar quem foram os compradores.

Ao todo, R$ 2,5 bilhões de letras financeiras do Banco Master já teriam sido emitidas e compradas pelos investidores até julho deste ano, de acordo com o CEO.

“Não vejo produto melhor para um investidor profissional do que essa letra financeira, porque a gente paga uma boa remuneração pro investidor.”

No caso da Caixa Asset, a proposta foi de rentabilidade de 130% do CDI num prazo de 10 anos. Segundo Vorcaro, “alguns poucos” investidores já compraram a letra financeira do Master em condições similares às oferecidas ao banco estatal, mas ele não informou quem são eles.

Vorcaro afirma ter se reunido “uma ou duas vezes” com a diretoria da Caixa para tratar sobre a venda das letras financeiras, mas sem detalhar com quem. Segundo ele, a equipe do Master se encontrou diversas outras vezes com o time da Asset nesse período, assim como procurou outros 40 investidores para oferecer propostas similares de investimento.

“Ficamos surpresos com essa questão do relatório. Até onde a gente entende, e pelas conversas que temos com a Caixa e a Caixa Asset, eles têm uma opinião diferente do que está no parecer. A opinião do relatório não é a opinião efetiva da Caixa sobre o banco Master”, afirmou.

Ainda de acordo com o executivo, a proposta de negócio partiu do Master.

“Fomos nós que procuramos a Caixa, assim como a gente tem procurado diversos investidores institucionais.”

Indagado se discutiu a negociação milionária com o presidente da Caixa Asset, Pablo Sarmento, o CEO disse “crer não tê-lo conhecido pessoalmente” e nem trocado mensagens com o chefe da subsidiária.

“Mas eu tive algumas reuniões com a área de crédito e minha equipe teve outras reuniões técnicas que não participei”, declarou ele. “Quem esteve com ele foram as pessoas que trabalham no banco.”

Reservadamente, funcionários da Caixa Asset fazem coro às preocupações levantadas pelo parecer sigiloso porque não haveria precedentes na história da companhia de uma operação desse volume com riscos tão altos. Essas mesmas fontes dizem ser muito incomum a área técnica barrar propostas de novos investimentos, o que reforça a excepcionalidade do episódio.

Vorcaro afirmou que o parecer ignora ofertas similares a outros atores do mercado.

“Temos outros investidores com esse volume e volume até maior e com condições similares. Então, não é algo inusual”, disse o CEO. “Desde que esse processo começou no início do ano, a gente estabeleceu um pipeline de 30 a 50 investidores para os quais mandamos essa proposta. Na verdade, o preço varia de acordo com a época que a gente fez, então tem uma variação de mercado. Foram propostas similares.”

No entanto, o executivo se recusou a detalhar quem topou a operação, sempre alegando sigilo.

Processos na CVM

Outro ponto do parecer técnico da Caixa Asset rechaçado pelo CEO diz respeito à reputação dos executivos do Banco Master.

Conforme revelou o blog, uma pesquisa realizada pela área de compliance da Caixa Asset apontou que executivos do banco foram alvos de processos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), “por manipulação de preços, irregularidades em distribuição de produtos de investimento no mercado, além de envolvimento em diversos crimes financeiros”.

Em 2020, o próprio Vorcaro acertou um termo de compromisso de R$ 250 mil com a CVM, no âmbito de um processo que envolvia eventuais irregularidades nas emissões de debêntures.

“Processos CVM em que a gente fez acordo são coisas extremamente normais. Alguma vez ou outra tem questões que têm de ser resolvidas, tratadas com a CVM, mas são coisas completamente usuais, do dia a dia. Não existem questões desse tipo em aberto contra esses executivos”, comentou.

“A própria Caixa e qualquer outra instituição financeira certamente têm diversas dessas questões.”

Os técnicos da Caixa Asset não parecem concordar.

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