O senador Alessandro Vieira (MDB-SE) foi monitorado pelo esquema da Abin paralela e se tornou alvo do chamado gabinete do ódio, grupo que atuava a partir do Palácio do Planalto durante o governo Jair Bolsonaro para disseminar desinformação nas redes sociais contra adversários do então presidente, após tentar convocar o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) para depor na CPI da Covid em 2021.
O episódio é retratado na decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que autorizou a operação da Polícia Federal (PF) desta quinta-feira (11) que cumpre cinco mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão contra ex-servidores da Abin e membros do gabinete do ódio.
Segundo as investigações da PF, Alessandro Vieira entrou na mira da Abin paralela após protocolar requerimentos para que Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente Bolsonaro, depusesse na CPI da Covid e tivesse seus sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático quebrados pela Justiça.
Carlos Bolsonaro é alvo de operação da PF sobre espionagem ilegal pela Abin
![Agentes da PF em frente à casa de Angra dos Reis onde estavam Jair e Carlos Bolsonaro — Foto: Reprodução/GloboNews](https://s2-oglobo.glbimg.com/4Z_A-f0cZ06Os8p9AQVx6hgKuYA=/0x0:810x456/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/v/t/hFPXIgSaWePK5lNE8vpg/pf-operacao.webp)
![Agentes da PF em frente à casa de Angra dos Reis onde estavam Jair e Carlos Bolsonaro — Foto: Reprodução/GloboNews](https://s2-oglobo.glbimg.com/mN1HfBuPFUZG3bZs0KSs9RkIDhY=/810x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/v/t/hFPXIgSaWePK5lNE8vpg/pf-operacao.webp)
Agentes da PF em frente à casa de Angra dos Reis onde estavam Jair e Carlos Bolsonaro — Foto: Reprodução/GloboNews
![Bolsonaro e Carlos durante operação da PF — Foto: Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/HFebIfON9vT06ag1EiIfdh9MgB4=/0x0:1200x800/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/L/k/ncEhQKSaiF7N8NnrW9jQ/bolsonaro-ecarlos.jpg)
![Bolsonaro e Carlos durante operação da PF — Foto: Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/43Tic4zZrS0ERMAVR5qnShqXShI=/1200x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/L/k/ncEhQKSaiF7N8NnrW9jQ/bolsonaro-ecarlos.jpg)
Bolsonaro e Carlos durante operação da PF — Foto: Reprodução
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![Carlos Bolsonaro na sede da PF no Rio para prestar depoimento — Foto: MAURO PIMENTEL / AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/O6Ewr2_wt4u9Geh0vBfttvBOUO8=/0x0:839x559/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/I/9/yzrRNKSsabWnAypBAGgA/105729052-brazils-councilman-carlos-bolsonaro-walks-inside-the-federal-police-headquarters-in-r.jpg)
![Carlos Bolsonaro na sede da PF no Rio para prestar depoimento — Foto: MAURO PIMENTEL / AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/3wQ4f0S5zqDarMJU4fEaZtw9jTw=/839x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/I/9/yzrRNKSsabWnAypBAGgA/105729052-brazils-councilman-carlos-bolsonaro-walks-inside-the-federal-police-headquarters-in-r.jpg)
Carlos Bolsonaro na sede da PF no Rio para prestar depoimento — Foto: MAURO PIMENTEL / AFP
![Polícia Federal no condomínio de Carlos Bolsonaro, no Rio — Foto: Márcia Foletto](https://s2-oglobo.glbimg.com/t80LVHUWfjT9nVk1j76e0bMreDA=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/e/6/oIOkAyRPerqcXa7HLfdw/whatsapp-image-2024-01-29-at-09.11.40.jpeg)
Polícia Federal no condomínio de Carlos Bolsonaro, no Rio — Foto: Márcia Foletto
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![Polícia Federal faz buscas no condomínio Vivendas da Barra, no Rio, onde mora o vereador Carlos Bolsonaro — Foto: GloboNews/Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/eYl-TkGxTAbkehgU956vviPxZ-I=/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/P/D/BLBl0PQtelj0N0iiBZfg/whatsapp-image-2024-01-29-at-08.26.27.jpeg)
Polícia Federal faz buscas no condomínio Vivendas da Barra, no Rio, onde mora o vereador Carlos Bolsonaro — Foto: GloboNews/Reprodução
![Vereador no Rio, Carlos Bolsonaro, mostra a casa revirada após operação da PF — Foto: Reprodução/Márcio Alves - Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/gfn5LocJXLDhCUEw4C-a1y2ek0c=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/Q/V/KA9u2oTTSlccODueuyGw/carlos-bolsonaro.jpg)
Vereador no Rio, Carlos Bolsonaro, mostra a casa revirada após operação da PF — Foto: Reprodução/Márcio Alves - Agência O Globo
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![Carlos Bolsonaro é vereador desde 2001 e está em seu sexto mandato consecutivo na Câmara Municipal do Rio — Foto: Reprodução](https://s2-oglobo.glbimg.com/6zZXJtdQ8wbjs4ecOeMKlwggo0g=/1500x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/2/F/tLZdowS6SXRMl3DOhUfw/carlosbolsonaro1.jpg)
Carlos Bolsonaro é vereador desde 2001 e está em seu sexto mandato consecutivo na Câmara Municipal do Rio — Foto: Reprodução
![Governo federal ironiza operação contra Carlos Bolsonaro — Foto: Marcio Alves / Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/mHNS8gHSxXwkFNiQZ0gxQrxHVEA=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/4/N/s6ZtTqT2yr2gBiOw8jPQ/lula-bolsonaro-1-.jpg)
Governo federal ironiza operação contra Carlos Bolsonaro — Foto: Marcio Alves / Agência O Globo
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O objetivo, de acordo com a decisão de Moraes, era “evitar a vinculação das condutas ilícitas aos beneficiários da desinformação”, ou seja, os membros do gabinete do ódio ligado ao esquema da Abin.
A comissão, instaurada em 2021, se debruçou sobre os desmandos do governo Jair Bolsonaro na condução da resposta à pandemia de Covid-19 e propôs o indiciamento do então presidente por nove crimes, entre eles epidemia com resultado de morte, charlatanismo e crimes contra a humanidade.
Na ocasião, Vieira buscava esclarecer se Carlos assessorou informalmente seu pai nos assuntos pertinentes ao coronavírus e citava, como exemplo, a participação do vereador carioca em uma reunião de Bolsonaro com o então presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, para a negociação de vacinas contra a Covid-19.
A demora na compra de imunizantes e o desprezo às ofertas da Pfizer consistem em um dos principais capítulos do relatório final da CPI da Covid no Senado Federal.
Nesse mesmo período, segundo a PF, o senador sergipano se tornou alvo do gabinete do ódio e foi monitorado pelo esquema de arapongagem da Abin.
Software espião
A espionagem ilegal apontada pela PF teria ocorrido através de um software israelense denominado First Mile, de origem israelense e fornecido no Brasil por uma companhia chamada Cognyte. A ferramenta permite rastrear a localização das pessoas por meio dos metadados fornecidos pelas antenas de celular a torres de telecomunicações.
A ferramenta israelense foi comprada pela Abin por R$ 5,7 milhões de reais sem licitação no final do governo Michel Temer. Mas a espionagem indiscriminada de brasileiros apontados como desafetos de Bolsonaro se deu exclusivamente durante seu governo, segundo a PF.
Diálogos obtidos pelos investigadores mostram dois integrantes do gabinete do ódio, Marcelo Bormevet e Giancarlo Rodrigues combinando a disseminação de ataques contra Alessandro Vieira.
Na mesma época, além do requerimento da CPI da Covid, o senador havia apresentado uma ação popular na Justiça Federal de Brasília contra a União e o Ministério da Justiça contra uma licitação que visava adquirir da empresa israelense NSO Group o software espião Pegasus, que, segundo reportou a imprensa à época, teria contado com a articulação de Carlos Bolsonaro, mas não foi adiante após o escrutínio público.
Na conversa, Giancarlo apresenta o político sergipano como alvo.
“Senador Alessandro Vieira, [o] que está na CPI [da Covid]”, escreveu.
“Somente lixos”, respondeu Bormevet. “Vamos difundir isto. Pede para marcar o CB [Carlos Bolsonaro]”.
“Já estou municiando o pessoal”, retrucou Giancarlo, que, segundo a PF, mantinha um perfil falso nas redes denominado “Verdades Marcelo Augusto” para deflagrar ataques com fake news na internet.
Ainda segundo a decisão de Moraes, Alessandro Vieira também teria sido monitorado pelo First Mile, bem como outros integrantes da CPI da Covid: o presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), o relator, Renan Calheiros (MDB-AL) e o autor do requerimento que criou a comissão, Randolfe Rodrigues (à época na Rede-AP).
Carlos Bolsonaro é investigado no caso da Abin paralela como integrante do chamado núcleo político do esquema de arapongagem.
O grupo só foi identificado após uma operação da PF contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que dirigiu a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) entre 2019 e 2022, em janeiro.
Ramagem é homem de confiança da família Bolsonaro e pré-candidato à prefeitura do Rio e teve o celular apreendido. Até aquele momento, a PF só tinha conhecimento de outros quatro núcleos denominados “organização criminosa” pela corporação, era formada pelos núcleos "Alta Gestão-PF", "Subordinados", "Evento Portaria 157" e "Tratamento Log".
Em março passado, O GLOBO revelou que o software vinha sendo usado para monitorar a localização de milhares de pessoas sem autorização judicial, sob a alegação de necessidade por "segurança de Estado" quando o atual deputado estava à frente da Abin.
A operação Última Milha da Polícia Federal, deflagrada em outubro, descobriu que a Abin realizou mais de 33 mil monitoramentos através do software israelense, entre 2019 e 2021. A PF deflagrou outras duas operações sobre o caso em janeiro deste ano, a First Mile e a Vigilância Aproximada, como desdobramentos investigação.