Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Por — Brasília e Rio

A ofensiva de Jair Bolsonaro e seus filhos sobre o candidato a prefeito de São Paulo pelo PRTB, Pablo Marçal, tem como pano de fundo a tentativa de impedir o avanço do empresário e coach sobre o eleitorado bolsonarista e de empurrar Ricardo Nunes (MDB) para o segundo turno. Mas não era a primeira opção de Bolsonaro, e só foi desencadeada depois de alguns episódios e falas de Marçal que tornaram inevitável a reação.

De acordo com interlocutores do ex-presidente com quem eu conversei, ele já tinha ficado contrariado quando se recebeu Marçal para um encontro em Brasília no início de junho. Na ocasião, o ex-presidente tirou foto com o coach dando a ele uma medalha de "imbrochável".

Mas teve que se manifestar publicamente após Marçal afirmar que Bolsonaro o apoiaria e que ele não votaria no prefeito paulistano. "Já temos pré-candidatos, que são o prefeito Ricardo Nunes e o vice, que é o Mello Araújo", declarou Bolsonaro logo depois. "Não disse que não apoio o Nunes."

Ainda assim, o ex-presidente se manteve discreto em relação a Marçal e chegou a dizer, no último dia 16, que o coach é uma pessoa que "fala muito bem", é inteligente e "tem suas virtudes". Não tem experiência, mas faz parte."

A situação começou a mudar quando Bolsonaro percebeu que Marçal estava "roubando" a atenção e o engajamento de seu eleitorado cativo com os ataques agressivos aos outros candidatos e declarações contra seus filhos.

Foi quando pesquisas de opinião como a da Quaest mostraram que boa parte do eleitorado de Bolsonaro em São Paulo vota em Marçal e não no prefeito.

Os Bolsonaro então começaram a recolher episódios como a entrevista que Marçal deu ao site de direita Brasil Paralelo classificando o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) como "raivoso" e dizendo que ele foi "um cara importante para (o pai) ganhar a eleição e determinante para perder a segunda".

Para o ex-presidente, os movimentos do coach eram um indício de que ele queria pegar carona no bolsonarismo, sem se alinhar completamente a ele ou se submeter ao seu controle – o que seria inadmissível.

Nas palavras de um interlocutor frequente de Bolsonaro, Pablo Marçal "'é a primeira ameaça da direita fora do 'gado'. Nikolas Ferreira é grande mas é do Bolsonaro, Gustavo Gayer é dele, outros caras importantes também são. Mas esse não é dele, ele não tem controle".

A partir dessa constatação, os Bolsonaro desencadearam uma ofensiva acusando Marçal de ter ficado em cima do muro na eleição de 2022, de não saber a diferença entre comunismo e capitalismo ou "entre o bem e o mal".

Num vídeo publicado nas redes sociais na quarta-feira, Eduardo chamou o coach de "arregão" por ter desmarcado uma entrevista com o jornalista de direita Paulo Figueiredo para não ter que falar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

O filho do ex-presidente também citou a reportagem do Estadão mostrando que aliados de Marçal no PRTB, trocavam carros de luxo por drogas para o PCC, e encerrou o vídeo dizendo que "Não existe direita no Brasil, existe Bolsonaro. Tem gente que tem ânsia pelo poder, quer destruir ele para o cara se levantar e ser o líder. Tem que comer muito feijão para chegar lá e tem muita gente que não vai chegar lá a poucos meses da eleição."

O próprio Bolsonaro reagiu com ironia a um post de Marçal no Instagram em que ele dizia: "Pra cima, capitão. Como você disse: eles vão sentir saudades de nós". Num comentário, o ex-presidente respondeu" "Nós? Um abraço".

Marçal revidou: "Isso mesmo presidente. Coloquei 100 mil na sua campanha, te ajudei com os influenciadores, te ajudei no digital, fiz você gravar mais de 800 vídeos. Por te ajudar, entrei para a lista de investigados da PF. Se não existe o nós, seja mais claro."

Os movimentos seguintes só elevaram a temperatura da briga.

Bolsonaro disse que o problema de Marçal é “a falta de caráter”. O coach ainda tentou contemporizar dizendo que está à disposição de Bolsonaro para aprender e negando que houvesse ruptura entre eles. “Depois da eleição isso passa”, disse.

Mas depois que Carlos Bolsonaro declarou publicamente que prefere a candidata do Novo, Marina Helena, ao coach e a Ricardo Nunes, Marçal rebateu dizendo que o filho do ex-presidente é “retardado”.

O último lance ocorreu nesta manhã. Carlos Bolsonaro anunciou em suas redes que vai processar Marçal. "Acionarei a Justiça através de meu advogado, Antônio Carlos, devido a crimes contra minha honra, injúria e difamação cometidos por Pablo Marçal e também para provar as inverdades ditas em recentes oportunidades. Não posso deixar que tais desinformações criminosas sejam levadas adiante prejudicando a todos, como temos visto há anos."

No final porém, o filho do ex-presidente aliviou, sugerindo que há uma forma de essa briga terminar. "Por fim, independente de quem vá ao segundo turno o apoiarei desde que seja contra Boulos, soldado do Lula (PT)".

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