Marcelo Ninio
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Marcelo Ninio

Repórter desde 1989, passou por O GLOBO, Jornal do Brasil, EFE e Folha de São Paulo.

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Marcelo Ninio

Passou pelas redações do Jornal do Brasil, Agência EFE e Folha de S.Paulo. Tem mestrado em relações internacionais pela Universidade de Jerusalém.

Por — Pequim

A visita ao Brasil de Li Xi, alto dirigente de Pequim, foi marcada pela assinatura de um protocolo de cooperação entre o Partido dos Trabalhadores (PT) do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido Comunista da China. Não é a primeira vez que os dois partidos firmam um acordo, algo aliás comum na política partidária praticada pela China com diversos países. Mas o documento mais recente é mais um sinal do aprofundamento das relações entre o PT e o PC chinês desde a volta de Lula ao poder.

O primeiro sinal foi a visita de uma missão petista à China em fevereiro, dois meses antes da viagem de Lula ao país. Romênio Pereira, secretário de Relações Internacionais do PT, foi recebido em audiência por Wang Yi, a mais alta autoridade diplomática do PC chinês. Em junho, uma delegação do PT com 20 integrantes desembarcou na China para uma visita de 12 dias ao país, a convite do PC chinês. E agora é assinado o novo acordo de cooperação entre os partidos, com um tom bem mais geopolítico do que os anteriores.

Esse tom aparece já na introdução do documento, onde é mencionado que “a China e o Brasil são os maiores países em desenvolvimento nos dois hemisférios”, algo que Pequim costuma repetir sempre para ressaltar seus laços com um importante país do Sul Global. Em seguida, o primeiro artigo do acordo afirma que seu objetivo é fortalecer as relações bilaterais entre os dois países “na base dos princípios de independência e autodeterminação, igualdade completa, respeito mútuo e não intervenção nos assuntos internos”, mantras da diplomacia chinesa.

Mas o sinal mais visível do empenho chinês em fortalecer os laços é o alto escalão designado para a tarefa pela liderança chinesa. Li Xi, que esteve esta semana em Brasília, é um dos sete integrantes da cúpula do PC chinês, o Comitê Permanente do birô político. Integrado ao grupo em outubro do ano passado, quando Xi Jinping foi confirmado para continuar como secretário-geral do PC, Li foi encarregado de chefiar a temida Comissão Central de Inspeção Disciplinar, que dirige o combate à corrupção no partido.

Li chegou a Brasília após representar Xi na cúpula de Havana do G77 + China, grupo de 134 países emergentes. Em seu discurso no encontro, o enviado de Pequim repetiu a frase que virou a marca do presidente chinês para ressaltar a transição geopolítica em curso: “O mundo de hoje registra mudanças nunca vistas em um século”. Em seguida, disse que os países em desenvolvimento estão se fortalecendo, e por isso “a correlação de forças internacionais está sofrendo profundo reajuste”.

A política partidária do PC não é algo novo, faz parte de seu modus operandi desde que os comunistas chegaram ao poder, em 1949. Segundo a mídia estatal, há “contato regular” com mais de 600 partidos de 160 países. E nem todos são necessariamente de esquerda: em 2017, por exemplo, uma delegação de parlamentares do PMDB esteve na China a convite do PC. Mas a volta de Lula ao poder ofereceu uma oportunidade para a cúpula comunista aprofundar os laços com o PT, confiando na afinidade entre os partidos em metas como a reforma da governança global como oposição à hegemonia ocidental.

Para a China, o PT é um veículo para ter o Brasil a seu lado em sua ambição de liderar o Sul Global. Embora seja a segunda maior economia do mundo, a China não abre mão de se posicionar politicamente como país emergente. Como disse Li em Havana: “A China, maior país em desenvolvimento no mundo, seja qual o estágio de desenvolvimento que atinja, será sempre uma parte do mundo em desenvolvimento e membro do Sul Global."

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