Marcelo Ninio
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Marcelo Ninio

Repórter desde 1989, passou por O GLOBO, Jornal do Brasil, EFE e Folha de São Paulo.

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Marcelo Ninio

Passou pelas redações do Jornal do Brasil, Agência EFE e Folha de S.Paulo. Tem mestrado em relações internacionais pela Universidade de Jerusalém.

Por — Pequim

Gilberto Gil deve ser o carro-chefe dos eventos programados na China para comemorar os 50 anos de relações diplomáticas com o Brasil, no ano que vem. As datas ainda não estão confirmadas, mas a expectativa é que Gil se apresente em Pequim e outras cidades do país em outubro de 2024. Ele se firmará como o artista mais importante da música brasileira a se apresentar em território chinês na história do intercâmbio bilateral. É possível ainda que o presidente Lula visite novamente o país, como já fez este ano.

Mesmo no período pré-pandemia, shows de artistas estrangeiros sempre foram raros na China, por obstáculos burocráticos ou de censura. O próprio Gil é um caso isolado: em 1999 ele se apresentou num festival de música em Pequim. Antes disso, o evento mais marcante com a presença de músicos brasileiros na China fora o show da dupla sertaneja Milionário e José Rico em 1986. A apresentação foi motivada pelo filme Estrada da Vida, que Nelson Pereira dos Santos dirigiu sobre a trajetória da dupla e fez enorme sucesso na China.

Foi num brinde em Brasília, com xícaras de café, proposto pelo então chanceler do Brasil, Azeredo da Silveira, que os dois países estabeleceram relações diplomáticas, em 15 de agosto de 1974. No dia seguinte, o acontecimento ocupou a manchete principal do GLOBO: “Brasil e China devem trocar embaixadores ainda este ano”. Um novo acordo comercial incluía a exportação de minério de ferro, algodão, soja e celulose do Brasil para a China, enquanto o país asiático venderia minerais não ferrosos, artesanato, petróleo e carvão.

Capa do jornal O Globo em 16 de agosto de 1974 — Foto: Acervo/O GLOBO
Capa do jornal O Globo em 16 de agosto de 1974 — Foto: Acervo/O GLOBO

A China tornou-se o nosso maior parceiro comercial em 2009, mas meio século após o estabelecimento das relações, a pauta de exportação brasileira não mudou tanto. Em 2022, soja, petróleo e minério de ferro responderam por 76% do volume exportado pelo Brasil para a China. Do outro lado, a transformação foi drástica. Em 1974, a China tinha 80% da população vivendo no campo e seu PIB per capita era oito vezes menor que o brasileiro (hoje é 40% maior). No ano passado, a totalidade das exportações chinesas para o Brasil foi de produtos manufaturados, incluindo máquinas, automóveis e eletrônicos.

Além de Gilberto Gil os planos na China para os 50 anos incluem uma exposição de arte brasileira, apresentações da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e uma partida amistosa da seleção. Um dos pontos altos e inéditos da programação deve ser a exibição de obras da Coleção Andrea e José Olympio Pereira, a maior de arte contemporânea brasileira. Será a primeira vez que o acervo é exibido fora do Brasil e deve ocupar um lugar de honra, o Museu Nacional da China, na Praça da Paz Celestial, em Pequim. O Festival de Cinema de Pequim terá uma sessão de filmes brasileiros em homenagem ao aniversário das relações bilaterais.

Outros eventos estão sendo pensados para apresentar o Brasil aos chineses, de mestres do violão a capoeira e gastronomia típica. Estuda-se também a possibilidade de uma exposição da obra de Sebastião Salgado e apresentações do grupo de dança Corpo, de Belo Horizonte. Para completar, é bem possível que uma coincidência de agendas facilite com que o cinquentenário seja marcado por visitas dos líderes nos dois países.

O presidente chinês, Xi Jinping, deve ir ao Brasil para a cúpula do G20, em novembro no Rio. E o presidente Lula será um dos chefes de Estado convidados a participar da Cúpula Finança em Comum, voltada para o financiamento de ações climáticas, que será realizada na China em 2024. O convite para o evento será feito pessoalmente por Jin Liqun, presidente do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, durante visita ao Brasil prevista para fevereiro.

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