Marcelo Ninio
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Marcelo Ninio

Repórter desde 1989, passou por O GLOBO, Jornal do Brasil, EFE e Folha de São Paulo.

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Marcelo Ninio

Passou pelas redações do Jornal do Brasil, Agência EFE e Folha de S.Paulo. Tem mestrado em relações internacionais pela Universidade de Jerusalém.

Por — Pequim

RESUMO

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GERADO EM: 29/08/2024 - 15:49

"China apoia Venezuela: parceria estratégica em jogo"

A China defende a Venezuela devido a uma relação estratégica de longa data, impulsionada desde Chávez. Além do petróleo, a parceria fortalece a presença chinesa em uma região historicamente influenciada pelos EUA. O apoio a Maduro reflete preocupações com dívidas e interesse em manter um aliado na América Latina.

Enquanto persistem as suspeitas sobre a lisura da eleição na Venezuela, o governo chinês não teve dúvidas. Além de reconhecer o resultado anunciado pelo governo e dar os parabéns a Nicolás Maduro pela controvertida reeleição, Pequim declarou que pretende aprofundar as relações com o país. Foi um claro e rápido sinal de que o mais importante aliado de Maduro no cenário internacional manterá o apoio, apesar da pressão internacional.

Assim como o Brasil, a Venezuela está completando 50 anos de relações diplomáticas com a China. Mas foi a partir de 1999, com a chegada de Hugo Chávez ao poder em Caracas, que o elo se fortaleceu e ganhou um lugar especial na política externa chinesa. A China tem diferentes denominações de parcerias com mais de cem países. A Venezuela está no nível mais alto, chamada de “parceria para qualquer tempo”, reservada a somente outros três países: Bielorússia, Paquistão e Hungria. O interesse chinês não se resume ao petróleo venezuelano.

Auto-denominado socialista e declaradamente antiamericano, o regime chavista mantido hoje no poder por Nicolás Maduro abriu uma porta de entrada conveniente aos interesses de Pequim numa região considerada tradicionalmente esfera de influência de Washington, a ponto de ser chamada até entre os chineses casualmente de “quintal dos Estados Unidos”. Com o empurrão de Chávez, foram criados novos organismos para promover a integração latino-americana, que excluíram os EUA e atraíram Pequim.

Nicolás Maduro reage após os resultados da eleição presidencial em Caracas — Foto: AFP
Nicolás Maduro reage após os resultados da eleição presidencial em Caracas — Foto: AFP

Um desses organismos regionais tornou-se a principal plataforma de diálogo da China com o continente, Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), que teve sua reunião de cúpula inaugural em Caracas, em 2011. Pequim não perdeu muito tempo: três anos depois foi lançado o Fórum China-Celac. A ascensão de Chávez coincidiu com o impulso da integração da China às cadeias globais de produção, após a sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001.

A China buscava diversificar suas fontes de energia e expandir sua influência global por meio de parceiros regionais, e “a Venezuela apareceu como contraparte natural nas duas frentes”, observa um artigo recente sobre as relações Pequim-Caracas do centro de estudos Stimson, sediado em Washington. Parecia um casamento perfeito entre o maior importador mundial de petróleo e o país com as maiores reservas do planeta. Mas após a morte de Chávez, em 2013, e o colapso nos preços do petróleo, a parceria acabou deixando uma enorme dívida para a Venezuela, calculada hoje em pelo menos US$ 10 bilhões.

Se com muitos países em desenvolvimento a China foi acusada de praticar uma diplomacia econômica baseada na “armadilha da dívida”, no caso da Venezuela Pequim se tornou vítima da “armadilha do credor”, diz Stephen Kaplan, autor de um livro sobre os investimentos chineses na América Latina.

O rápido reconhecimento de Pequim à vitória duvidosa de Maduro tem a ver com essa armadilha. Mas também deriva do temor de que uma mudança de governo na Venezuela, possivelmente numa guinada em direção aos EUA, feche a porta aberta por Chávez para a China em 1999.

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