Merval Pereira
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GERADO EM: 04/08/2024 - 04:30

Brasil: alianças polêmicas comprometem influência democrática

O Brasil se afasta das democracias ocidentais para se aliar a ditaduras do Oriente Médio, Rússia e China, perdendo influência internacional. Decisões polêmicas, como apoio a Maduro e postura pró-Rússia, comprometem papel moderador. BRICS amplia com novos membros, mas se distancia de ideais democráticos ocidentais. Brasil arrisca futuro ao seguir tendência revisionista anti-Ocidente.

O afastamento cada vez maior da política externa brasileira do grupo das democracias ocidentais, em favor de países com governos autoritários, ou mesmo ditaduras como o Irã ou Cuba, faz com que o Brasil perca a capacidade de ser o intermediário nas negociações internacionais, mesmo as que se desenvolvem no nosso continente, como agora na crise da Venezuela de Maduro.

Depois da conversa telefônica pedida pelo presidente dos Estados Unidos Joe Biden, parecia que Lula estava sendo reconhecido como o líder regional. Mas, poucos dias depois, o governo americano surpreendeu o Brasil com uma nota oficial do Departamento de Estado onde declarava que a oposição vencera as eleições.

A decisão indica que a postura “cautelosa” do governo brasileiro é interpretada em Washington como uma maneira de ganhar tempo em favor de Maduro. Não foi a primeira vez que Lula foi abandonado pelo governo americano. No último ano de seu segundo mandato, o Brasil tentou intermediar um acordo nuclear entre Irã e Estados Unidos, rejeitado pelos americanos. O governo brasileiro divulgou uma carta que o presidente americano enviara a Lula querendo provar que o governo dos EUA fugia de compromissos assumidos. Só que na carta de Obama estava definido que o Irã deveria “reduzir substancialmente” seu estoque de urânio de baixo enriquecimento na transição para o acordo internacional. Como Brasil permitia que o Irã continuasse a enriquecer urânio por um ano antes dessa transição, o governo americano recusou o acordo, fechado mais adiante, nos termos americanos.

Em 22 de julho de 2010, em meio a uma crise causada pelas acusações do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe na OEA de que guerrilheiros das Farc tinham estabelecido bases e se escondido atrás da fronteira venezuelana, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países. O Brasil se ofereceu para intermediar um acordo, mas foi vetado pela Colômbia por não ter imparcialidade para tal.

Atualmente, depois de ter assumido uma posição descabida a favor da Rússia na guerra com a Ucrânia, o país perdeu completamente a capacidade de participar de um “grupo de países a favor da paz”. A questão do governo brasileiro é manter relação cordial com países que têm importância para a geopolítica de um mundo que no futuro, na visão dos analistas governamentais, será muito mais próximo dos países que hoje são periféricos e tentam se desenvolver, do que da Europa e dos Estados Unidos.

O Brasil está fazendo uma escolha, apostando num futuro que nada indica que vá mudar tão cedo, se afastando das principais potências do Ocidente, para se aliar a ditaduras do Oriente Médio, da Rússia e da China. O Brasil não deveria estar nesta onda revisionista, de acreditar que o poder hegemônico do Ocidente está sendo superado por estas nações emergentes. É uma política que não vê o Ocidente como uma potência num futuro próximo.

A criação do BRICS, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, levou a política externa brasileira a aprofundar sua crença de que os países do futuro são esses, unidos pela criatividade do chefe de pesquisa econômica global da Goldman Sachs, Jim O’Neill. Embora a premissa de que os quatro países inicialmente citados - a África do Sul entrou depois - seriam os que mais cresceriam no futuro, o BRICS se concretizou apenas como um reunião política de parceiros, que este ano incluiu Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã. Perderam o acrônimo que em inglês soa como “tijolo”, uma metáfora para a construção de um novo grupo econômico internacional, mas ganharam mais parceiros, cujos pontos em comum são mais próximos do autoritarismo do que da democracia.

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