Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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Informações da coluna

Os benefícios de programas sociais representavam apenas 20,5% dos rendimentos dos domicílios mais pobres, em 2022. Mais 60% da renda dessas famílias vem do trabalho, mostram os dados da nova Síntese de Indicadores Sociais (SIS/IBGE), referente ao ano passado, divulgados nesta quarta-feira. Isso é explicado pelo economista Marcelo Neri.

- O efeito do índice de preguiça não aparece nos estudos realizados no Brasil até aqui. Pode-se avaliar se haverá mudança com o novo patamar de R$ 600. O que os levantamentos mostram é que há multiplicadores de impacto na expansão de programas sociais. A renda sobe mais quanto mais pró-pobre for o programa de transferência. Cada real investido no Bolsa Família retorna R$ 1,78 para o PIB. Os dados mostram que na liberação de recurso de FGTS, por exemplo, cada real reverte em R$ 0,39. Então o Bolsa Família tem um impacto muito maior no aquecimento da economia , principalmente, quando focado nos mais pobres - destaca Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social).

E acrescenta:

- A literatura recente tem mostrado que sobe inclusive o emprego formal em áreas com maior expansão do Bolsa Família.

O economista explica que há um mecanismo que alimenta um ciclo virtuoso, já que a transferência aumenta o consumo das famílias, o que afeta positivamente a produção, gerando mais imposto, importação de bens e serviços, o que gera mais trabalho, mais renda e assim movimenta a economia.

Os dados divulgados pelo IBGE são referentes ainda ao governo de Jair Bolsonaro. O ex-presidente que sempre foi contra o Bolsa Família, acabou sendo obrigado a manter o programa de transferência de renda, que no seu mandato foi denominado Auxílio Brasil. Durante a campanha até ampliou o valor, como parte da sua tentativa de atrair o eleitor mais pobre. Apesar de não ser parte da estratégia do governo, a iniciativa reduziu a desigual e reforçou a importância dos programas sociais.

Segundo o IBGE, na ausência dos programas sociais, o índice de desigualdade brasileira, no ano passado, seria 5,5% maior, passando dos atuais 0,518 para 0,548. Lembrando que quanto mais perto de 1, mais desigual é o país. O impacto sobre a proporção de pobres seria de ainda maior, cresceria 12%. Ou seja, o percentual de pessoas que vivem na pobreza passaria de 31,6% para 35,4% da população brasileira. E a extrema pobreza teria sido 80% maior em 2022, passando de 5,9% para 10,6% do total de brasileiros.

A expectativa, diz Neri, é que em 2023 o Brasil atinja os menores níveis de pobreza e desigualdade da sua história. No entanto, 2024 será um desafio, avalia o economista. Ele aponta a necessidade de corrigir as distorções deixadas pelo governo Bolsonaro, quando se abriu a possibilidade, por exemplo, de benefício a arranjos unifamiliares.

Neri considera que os ajustes feitos na gestão atual, com a implementação de auxílios voltado às crianças foram na direção correta, mas afirma que é preciso ajustar o foco para ter os resultados esperados quando se fala em política de transferência de renda:

- O ciclo eleitoral tem um efeito conhecido na série de pobreza brasileira. Em 2022, esse efeito aconteceu dentro do próprio ano reduzindo o índice de pobre de 11,1% para 8,2%. Em 2023, as políticas se mantiveram e os dados deverão ser os melhores da história. Para 2024, o desafio é achar uma fonte de financiamento desses programas e canalizá-los para, de fato, a população mais pobre. Essa é a política correta e que tem melhor impacto para toda a economia - explica.

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