Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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No PIB divulgado ontem, o número mais preocupante foi o de investimento, o mais animador foi o de consumo. E eles têm explicação. Como se sabe, o Produto Interno Bruto teve um alta no terceiro trimestre com 0,1% em relação ao trimestre anterior. Apesar de ser muito pouco, indicar uma estagnação, foi melhor do que previa a maior parte do mercado. Dentro do indicador há números bons, mas um índice negativo chama especial atenção: a queda na taxa de investimento que representa o quanto está sendo destinado ao aumento da capacidade produtiva brasileira. A redução foi de 2,5% em relação ao trimestre anterior e de 6,8% comparado ao mesmo período do ano passado. O que explica a queda dos investimentos? Uma das principais razões é que os juros estão muito altos no Brasil. Como a inflação caiu, os juros estão no mesmo patamar.

Ontem, o ministro Fernando Haddad reclamou dos juros altos, e com razão. Apesar do ciclo de corte da Selic ter se iniciado em agosto, e juros virem caindo 0,5 ponto percentual a cada reunião, a previsão de inflação que começou o ano em 6% caiu para cerca de 4%. Caiu 1,5 ponto os juros, mas a inflação também caiu. Isso significa que em termos práticos, os juros reais não caíram. É o juro real que empresário vai calcular na hora de fazer investimento.

Isso explica, em parte a queda na taxa de investimento pelo quatro trimestre consecutivo. Outra razão são as incertezas na economia. Quando há mais previsibilidade na economia, tem mais investimento. O investimento depende de decisões, marcos regulatórios, e ainda há muita incerteza sobre a implementação das reformas propostas pelo governo. Está tudo muito confuso em relação as tentativas do governo de mudar o marco regulatório do saneamento, por exemplo.

A Reforma Tributária vai ser importante - mesmo que entre só 2026, 2027, 2028 - quando for totalmente aprovada, permitirá que os empresários façam as contas e verifiquem qual vai ser o retorno do capital.

O investimento precisa de ambiente de negócio e precisa de juros mais baixos. E os juros estão altos demais e o ambiente de negócios está mudando para melhor, mas ainda não está claramente definido. Há muita coisa a sendo discutida no Congresso, sendo alterada. Tudo isso junto faz com que o investimento se retraia.

Agora tem a notícia boa nesse PIB que é o aumento do consumo das famílias. Vi alguns analistas criticarem o crescimento “puxado pelo consumo”, mas isso é ótimo, significa que as pessoas estão tendo dinheiro para gastar. E porque que as pessoas estão tendo dinheiro? Porque a inflação caiu, aumentou a renda disponível das famílias, aumentou o salário mínimo, o valor e a extensão de programas sociais. Tudo isso se reflete em aumento de consumo, principalmente, de baixa renda, beneficia o Nordeste, por exemplo. Então é bom que o consumo das famílias cresça, mas não é bom que o investimento fique caindo.

Quando você olha outros números do país a previsão de crescimento era de 0,5%, no início do ano, agora a projeção dos economistas é de 3%. Então foi melhor que o esperado. O sinal do investimento caindo é ruim porque é um indicação de crescimento futuro, por isso preocupa.

O quarto trimestre deve se manter estagnado ou até cair um pouco. O crescimento da economia terá sido concentrado no primeiro semestre. Mas para o ano que vem há boas expectativas exatamente porque os juros vão continuar caindo. Os juros caindo afeta positivamente a indústria, a construção civil e pode continuar a alimentar o consumo das famílias com a ampliação do crédito.

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