Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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Informações da coluna

Em ano eleitoral, o recorde de transferências especiais, as chamadas "emendas Pix", nas quais o valor é enviado pelo parlamentar a prefeituras e estados sem um fim específico, torna cada vez mais frágil a governança do gasto público. Isso quer dizer que não há controle efetivo garantindo que os recursos do Orçamento da União estão sendo bem utilizados para projetos prioritários com base, ao menos, numa avaliação sobre a taxa social de retorno do investimento.

Retirado os gastos obrigatórios em saúde, mostra matéria de Pedro Figueiredo publicada hoje no G1, as "emendas Pix" consomem a maior parte dos R$ 25,1 bilhões destinadas as emendas individuais dos parlamentares, aquelas que têm pagamento obrigatório pelo governo federal. Serão R$ 8 bilhões nesta rubrica em 2024, aplicados sem o aval de ministérios e ao largo da fiscalização prévia dos órgãos de controle.

Segundo o economista Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria, as emendas, de forma geral, são desgarradas do planejamento de governo; não são aderentes a um processo de priorização, que necessitaria de um cálculo da taxa social de retorno, e comumente apresentam problemas graves de execução:

-O problema do investimento público no Brasil é uma governança ainda incipiente. Nos últimos anos, apesar do esforço do governo e de órgãos de controle, houve uma deterioração da qualidade do gasto público o que é um paradoxo num mundo em que há técnicas cada vez melhores para assegurar a boa governança dos investimentos públicos. E não faltam órgãos de controle com competência ou regras para o planejamento e programações orçamentária, que Constituição de 1988, institucionalizou. Mas na prática, essas regras não são em stricto sensu levadas em conta para estabelecer uma escala de prioridade e fazer a articulação entre projetos de infraestrutura que às vezes acabam por não se conectar.

Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria e especialista em infraestrutura, defende criação de incentivos para melhor uso do dinheiro público — Foto: Fernando Lemos/Agência o Globo
Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria e especialista em infraestrutura, defende criação de incentivos para melhor uso do dinheiro público — Foto: Fernando Lemos/Agência o Globo

Frischtak diz que falta planejamento para o gasto público. Que em outros países são usados critérios técnicos para estabelecer uma escala de prioridades e inclusive fazer a articulação entre projetos de infraestrutura.

- É preciso reforçar a governança dos investimentos públicos e criar incentivos para o melhor uso dos recursos pelas emendas. Uma possibilidade seria premiar as melhores iniciativas - aquelas com maiores taxas de retorno social - com mais recursos e também dando maior visibilidade aos parlamentares com propostas de melhor qualidade. Esse pode ser um primeiro passo para fazer com que as emendas criem um impacto positivo no bem-estar da sociedade - sugere.

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