Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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Por Míriam Leitão

Nunca houve uma verdadeira coesão entre os países que fazem parte dos BRICS. O grupo, foi inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e que depois recebeu a África do Sul. Agora recebe agora seis novos integrantes (Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã), em um movimento que só fortalece o projeto dos chineses de aumentarem sua influência global.

A sigla BRICS foi uma criação de Jim O'Neil, um economista do mercado financeiro que reuniu países com potencial de crescimento significativo nos anos subsequentes. Mas o que de fato conecta esses países é quase nada.

Até porque a previsão desse economista se concretizou apenas em parte. A China experimentou um crescimento notável, a Índia teve um progresso considerável, a Rússia permaneceu estagnada e o Brasil oscilou entre momentos de crescimento e recessão.

Portanto, não existe uma ligação intrínseca entre eles.

Para além disso, há um questionamento do que une a identidade desses países.

Rússia e China têm assentos no Conselho de Segurança da ONU, enquanto o Brasil deseja uma presença no conselho, mas não recebeu apoio para isso. Rússia e China, e India são potências nucleares, e o restante não.

O ex-ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, sob a administração de Lula, mencionou que o grupo poderia ser um contrapeso ao G7, mas posteriormente o próprio presidente afirmou que a intenção era unir o Sul Global, o que não faz sentido, porque a Rússia não é Sul Global, e a China é a segunda maior potência do mundo.

Essa ambiguidade se amplia com a entrada de novos países, cada um bastante diferente do outro.

A Arábia Saudita é a principal produtora de petróleo do mundo, enquanto a Argentina enfrenta crises políticas e econômicas significativas.

Esse agrupamento exibe contradições crescentes. Por que o que poderia ser de fato esse grupo? Uma força de oposição aos Estados Unidos e ao Ocidente?

A Rússia, que é um país marginalizado no Ocidente, está presente. A China tem o interesse de expandir sua influência global. Agora terá ao seu lado África do Sul e Irã, o maior aliado americano e um dos piores inimigos.

Aliás, o projeto da China é focar nesse aumento de influência, inclusive com a sugestão de uma nova moeda para o comércio internacional, com o objetivo de se reduzir a dependência do dólar.

O que precisa ser questionado é se essa é uma direção relevante para o Brasil. Para a Rússia é, porque é um país pária, em confronto com os Estados Unidos e a Europa. Para a China é fundamental.

Mas para o Brasil, qual seria o real interesse? O BRICS, ou qualquer que seja o nome a partir de agora, poderia ser considerado um contraponto, mas a quê? É um grupo que inclui as mais poderosas ditaduras do mundo, como China, Rússia e agora a Arábia Saudita. O risco é o Brasil estar envolvido com o grupo das ditaduras contra democracias.

O grupo precisa encontrar uma orientação clara, que não seja simplesmente uma realização dos desejos da China para se tornar mais influente globalmente.

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