O empresário Abilio Diniz é o mais importante símbolo do empreendedorismo brasileiro. Atravessou muitas fases da vida nacional, sua história de vida se entrelaça com a história do varejo nacional. E ele deixa muitas lições. A primeira é o otimismo dele em relação ao país. Mesmo em momentos de crise, entrevistá-lo era ouvir a análise da conjuntura por um viés positivo, o que não é muito comum entre os grandes empresários, que geralmente reclamam, pedem proteção do governo.
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Ao longo da vida eu o entrevistei diversas vezes. Uma delas foi numa série que fiz em 1995 para o Jornal Nacional. O Plano Real tinha dado certo, a inflação tinha caído e começou uma intensa competição, com produtos importados e com grupos que chegaram ao Brasil. A série se chamava "Hora da Competição", e a ideia era mostrar a nova lógica da economia depois da abertura e da estabilização. Naquela época, o Pão de Açúcar era muito forte, cresceu muito, foi pioneiro na área de autosserviço. Em um sobrevoo para mostrar como era a competição fisicamente, mostrei que compartilhavam um mesmo quarteirão em São Paulo, o Pão de Açúcar, o Carrefour e Walmart, grupo americano que depois deixou o Brasil. Quando fui ouvi-lo sobre isso, encontrei uma pessoa disposta a vencer, e a enfrentar a competição.
Na verdade, o que a gente viu com o passar do tempo, ele fez um acordo com o Casino, que era concorrente do Carrefour. E tempos depois virou o segundo maior acionista do grupo Carrefour. Diante de cada desafio, ele encontrava uma forma de manter seus negócios.
Outra marca importante da vida de Abilio Diniz é o estímulo ao exercício físico e à alimentação saudável como parte da qualidade de vida e da longevidade. Nessa época de muito sedentarismo, liderou também como exemplo: corria, participava de competições, escreveu sobre o assunto, dava aulas, escrevia livros. Era também um influencer, mas que fazia o que pregava. Num país em que a demografia mostra um envelhecimento rápido da população, é bom que líderes usem a sua exposição para estimular bons hábitos.