Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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Informações da coluna

As operadoras de planos de saúde tiveram R$ 3,1 bilhão de lucro líquido, no primeiro trimestre deste ano. Esse é o melhor resultado desde 2019, quando foi de R$ 3,9 bilhões. O número representa um crescimento de 395,9% em relação ao resultado do primeiro trimestre de 2023, de R$ 620,5 milhões, apontam os dados do Painel Econômico-Financeiro da Saúde Suplementar, divulgado nesta quarta-feira pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

De janeiro a março, as empresas do setor também registraram um lucro operacional, de R$ 1,87 bilhão. No mesmo período do ano passado, o resultado havia sido negativo em R$ 1,66 bilhão.

Quando se fala do setor da saúde suplementar como um todo, onde estão incluídos além dos planos médicos hospitalares, as administradoras de benefícios e os planos exclusivamente odontológicos, o lucro líquido é de R$ 3,3 bilhões. Os dados apontam que o setor retomou o patamar financeiro pré-pandemia.

- O resultado do quarto trimestre de 2023, quando as empresas tiveram um lucro líquido no ano de R$ 3 bilhões, mostravam que o setor havia saído da UTI. O resultado desse primeiro trimestre é uma indicação que o setor está de alta do hospital. Ou seja, se recuperou. Para manter esse ciclo de prosperidade ainda é preciso ter cuidado - avalia Jorge Aquino, diretor de Normas e Habilitação das Operadoras da ANS.

A Amil que foi vendida pelo pela UnitedHealth Group para o empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior e que foi o fundador da Qualicorp, depois de trimestres de prejuízos consecutivos, surpreendeu com lucro neste primeiro trimestre, R$ 63 milhões. O resultado não é muito significante diante do gigantismo da companhia, que tem mais de três milhões de usuários, mas é bom sinal. O maior lucro do setor foi registrado pela SulAmérica Companhia Segurado, R$ 407,22 milhões, seguida por Bradesco (R$ 302,11 milhões), NotreDame Intermédica (R$ 262,3 milhões) e Hapvida (R$ 174,6 milhões), lembrando que as duas últimas fazem parte do mesmo grupo.

No todo da lista dos planos de saúde com maior prejuízo no trimestre está a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Estado de São Paulo, que teve resultado negativo de R$ 278,76 milhões. Na segunda posição vem a Unimed-Rio com prejuízo de R$ 173,49 milhões e Geap que ficou no vermelho em R$ 117,5 milhões.

A melhora do desempenho no caixa das empresas do setor está diretamente ligado aos salgados reajustes das mensalidades pagos pelos consumidores, que no planos coletivos, que correspondem a 83% do mercado, estão há tempos na casa dos dígitos. Não se sabe, no entanto, se há impacto no resultado dos cancelamentos unilaterais de contratos que vêm sendo feito pelas operadoras, alvo crescente de reclamações de usuários de planos coletivos por adesão. Aquino não vê reflexo.

- Houve uma recomposição da margem de lucro das operadoras, o que deu mais fôlego para pagar a despesa. Há outras medidas que impactaram na conta, como o crescimento da verticalização, que representava 6,9% dos pagamentos em 2019 para 14,9% atualmente , a redução de pagamento por procedimento, que saiu de 83,7% para 64,3% no mesmo período, o aumento do pagamento por pacote, que pune o prestador ineficiente quadruplicou, de 3,8% para 12,8%. Mas de fato o maior peso para o resultado positivo foram, de fato, os reajustes das mensalidades - admite o diretor da ANS.

Segundo os dados da ANS, 75,7% das empresas do setor tiveram resultado positivo neste trimestre, contra 73% apuradas no quarto trimestre de 2023.

- O grande problema do setor é operacional. É preciso melhorar a gestão e a comunicação, ter mais rapidez, clareza, objetividade. Mais do que o preço, reajuste, cancelamento, as empresas são ruins no contato com o consumidor. Precisam se modernizar, ter um atendimento mais fluído e acolhedor para um cliente que quase sempre quando a procura está em uma situação de delicada. O consumidor tem direito ao tratamento certo a um custo correto- diz Aquino.

Marina Magalhães, pesquisadora do programa de Saúde do Idec, a retomada dos lucros pré-pandemia não surpreende. Segundo Marina, o mercado da saúde suplementar é "consistentemente lucrativo:

-Logo após o período da pandemia, quando os lucros atingiram um recorde de mais de R$19 bilhões, vimos um período pontual de prejuízos operacionais, que foi rapidamente revertido. O que nos chama atenção nessa notícia é, na verdade, o quanto ela conflita com a postura e as declarações das empresas do setor. Temos visto uma onda sem precedentes de cancelamentos unilaterais, justificados pelas empresas como uma forma de "garantir a sustentabilidade do setor". No mesmo sentido, vemos reajustes de planos coletivos que, na média, representam o dobro dos planos individuais, aplicados sem qualquer transparência e sempre sob a justificativa da "sustentabilidade". Enquanto isso, os números insistem em desmentir as empresas, demonstrando lucros crescentes. A conclusão possível é a de que pelo menos parte desse crescimento está acontecendo às custas da saúde e da vida dos consumidores.

Na avaliação da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), "os resultados operacionais e financeiros do primeiro trimestre de 2024 indicam uma recuperação parcial do setor, o que é extremamente positivo para garantir a assistência à saúde de qualidade a mais de 51 milhões de brasileiros." A entidade chamada atenção, no entanto, para o fato que 234 das 675 operadoras de planos médico-hospitalares segue com resultado operacional negativo. E lembra que "somente no último ano, duas das maiores operadoras de saúde do mundo desistiram de operar no Brasil".

A Abramge afirma ainda que "as operadoras seguirão trabalhando em iniciativas que ajudem a consolidar essa trajetória de recuperação, entre elas investindo em prevenção e em tecnologia, combate às fraudes e desperdícios".

Já a Federação Nacional de Saúde Suplementar ( FenaSaúde) afirma que "apesar dos sinais positivos registrados no primeiro trimestre, a FenaSaúde avalia que a saúde suplementar ainda enfrenta, do ponto de vista estrutural, gargalos e anacronismos que comprometem a oferta de melhores serviços para os beneficiários e precisam ser revistos. Nesse sentido, conforme noticiado de forma ampla, foi aberto diálogo institucional sob a liderança do presidente da Câmara, Arthur Lira, com o objetivo de buscar a modernização do arcabouço regulatório, levando em conta o melhor para a sociedade."

A entidade lista entre os fatores que travam o avanço da saúde suplementar : a inflação específica da saúde, historicamente maior do que a registrada nos índices gerais; a obrigatoriedade de oferta de tratamentos cada vez mais caros, com doses de medicamentos que chegam a cifras milionárias; e a judicialização predatória.

A FenaSaúde chama a atenção para "o reforço de iniciativas de controle de custos, negociação de preços, aperfeiçoamento de contratos e redução de desperdícios foi decisivo para os indicativos de recuperação dos resultados operacionais". E ressalta ainda o "efeito benéfico da verdadeira cruzada empreendida pelo setor no combate às fraudes."

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