Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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Informações da coluna

Apenas nove vezes, desde 2012, a taxa de desemprego brasileiro foi menor do que a apurada para o trimestre fechado em junho, de 6,9%, destaca o economista Rodolpho Tobler, do FGV Ibre. Os dados da Pnad Contínua, divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE, mostram que esse é o menor para um trimestre encerrado em junho desde 2014, e é puxado pelo emprego formal . Além disso, houve uma alta de 1,8% no trimestre e de 5,8% na comparação anual do rendimento médio do trabalhador, que chegou a R$ 3.214. Todas essas são boas notícias, mas acendem um sinal laranja para o controle da inflação. Isto porque, explica o economista, o crescimento da renda não tem sido acompanhamento por uma alta de produtividade. A melhora da produtividade é a chave para o crescimento sustentável da economia brasileira.

- O crescimento da renda sem estar associado a aumento da produtividade passa o sinal de alerta de risco para o controle da inflação de amarelo para laranja. Ainda não tem um sinal claro do efeito negativo desse mercado de trabalho aquecido, com renda alta, na economia, mas há uma exigência maior de cautela. A renda aumenta a capacidade de compra da população e sem aumento da produtividade, isso pode ser uma pressão extra sobre a inflação. Se a produtividade não aumenta e há alta na demanda os efeitos podem ser no preço. E inflação corrói a renda, o que anularia os ganhos - ressalta Tobler, ponderando que esse dado deve ser avaliado pelo Copom na definição dos juros da economia.

Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, concorda que o crescimento sustentável do país depende de ganhos maiores de produtividade:

- Para que os ganhos salariais sejam mantidos e esse crescimento dos salários se sustente, seria importante haver um aumento na eficiência da economia brasileira. O crescimento sustentável do país dependerá de ganhos maiores de produtividade. Nossa projeção é que a taxa de desemprego permaneça estável e encerre o ano próxima de 7%, contribuindo para um crescimento do PIB em 2024 acima da nossa projeção atual de 2,2%.

Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, pondera que apesar do rendimento médio real d permanecer em trajetória ascendente, se for traçado a tendência verificada antes da pandemia da Covid-19 (entre 2017 e 2019), somente em maio deste ano os rendimentos ultrapassaram essa linha.

"Desse modo, é possível que o crescimento acelerado dos salários que ocorreu até então tenha sido impulsionado por um movimento de recomposição salarial, por conta das perdas decorrentes da pandemia. Se for esse o caso, talvez os rendimentos apresentem uma certa acomodação nos próximos meses. Caso continuem crescendo de forma expressiva, é possível argumentar que será devido a forças que vão além deste processo de recomposição do poder de compra dos trabalhadores, como o próprio aperto do mercado de trabalho," afirma Leal em seu relatório, ressaltando que o mercado de trabalho apertado é mais um fator de preocupação para o Banco Central do Brasil.

O economista do FGV Ibre ressalta que produtividade é há décadas o calcanhar de Aquiles da economia brasileira há décadas e que a mudança desse cenário não se dá de forma rápida e elenca algumas medidas que precisam ser tomadas para tanto:

- É preciso investimentos em educação e reformas que desburocratizem, aumentando a produtividade e a competividade brasileira, como é o caso da Reforma Tributária.

O fato é que a economia, assim como o mercado de trabalho, vêm se mostrando mais fortes do que o mercado esperava no início do ano. Na avaliação de Igor Cadilhac, economista do PicPay, a leitura qualitativa da taxa de desemprego mostra "que o mercado de trabalho segue forte e com uma composição saudável, recuperando suas características intrínsecas, que agora estão com um desemprego estrutural mais baixo." Cadilhac diz esperar que o mercado continue aquecido e resista nesse patamar historicamente baixo por mais um bom tempo. Ele projeta uma taxa média de desemprego de 7,2%.

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