Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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GERADO EM: 01/07/2024 - 10:26

Estabilidade econômica pós-Plano Real

Plano Real trouxe estabilidade ao Brasil após anos de hiperinflação, com comunicação transparente, adesão da população e logística eficiente na troca para o real. Inflação continua preocupando, mas controle é fundamental para evitar retrocessos econômicos.

Para valorizarmos o real, é preciso lembrar o sufoco do dia a dia antes da derrubada da hiperinflação, como a corrida nos corredores do mercado para chegar às gôndolas antes que os remarcadores etiquetassem o produto com o novo preço, o que chegava a ser feito mais de uma vez ao dia.

A origem desse processo inflacionário está na ditadura, quando o regime resolveu conviver com a inflação e criou a correção monetária. Isso foi um veneno para a economia, era como uma anestesia as dores provocadas pela inflação, uma estratégia para conviver com o inimigo, que na verdade só o fortalecia, num ciclo vicioso.

Nos anos do chamado "Milagre econômico", a inflação ficou em torno de 20% ao ano. No fim dos anos 1970, já se aproximava dos 100%. A inflação terminou o governo militar com uma taxa de 245% ao ano e com uma máquina de aumentar esse índice, a correção monetária, funcionando a pleno vapor.

O que aconteceu para se construir uma nova proposta de atuação? A PUC Rio se abriu para o novo e convidou economistas de várias escolas, recém-chegados do exterior, para pensar um novo formato de economia para o Brasil. Juntos se dedicaram a pensar soluções para a dívida externa e para a desarmar a "bomba" da correção monetária e colocar uma trava na inflação. Esse grupo foi convidado por Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Economia, para desenhar uma estratégia para derrubar a hiperinflação no Brasil.

Vários planos já tinham sido implementados no país nesse sentido e não tinham dado certo. Depois de um breve alívio, a inflação voltava cada vez mais forte.

No Plano Cruzado, por exemplo, houve congelamento de preços, que era uma medida para durar um curto espaço de tempo, mas os políticos gostaram do efeito imediato e estenderam o prazo. Além disso, incluíram um gatilho, o abono, o que levou a aumento da renda. Isso produziu uma euforia de consumo que durou seis meses. O desdobramento seguinte foi o desabastecimento e o plano fracassou.

Os outros planos tentaram corrigir essa engrenagem e não conseguiram. Veio o Plano Collor, que o economista André Lara Resende definiu como "um coquetel explosivo de todos os equívocos".

O Plano Collor foi mesmo uma violência, os brasileiros foram roubados. O governo confiscou por 18 meses tudo que estava nas contas bancárias, deixando livre apenas uma pequena parcela. Os brasileiros estavam tão desesperados que aguentaram tudo pelo sonho de ter uma inflação baixa, mas testemunharam um novo fracasso.

E qual foi o pulo do gato que fez o Plano Real dar certo?

O Plano Real não deu susto em ninguém. Tudo foi comunicado, explicado, conversado a cada etapa. O primeiro passou foi a transição para o URV. Era complexo, tratava-se de uma moeda virtual, que não existia, não circulava, não se botava no bolso, não estava no caixa do banco. E mesmo assim, o brasileiro entendeu. E por isso, houve uma adesão espontânea da população.

Em tempo recorde, preços no comércio, contratos tudo foi convertido para a URV, o que permitiu a troca da moeda em 1º de julho em 1994. Foi um dia memorável .

Um dos grandes desafios da equipe foi fazer chegar notas e moedas de real em todos os lugares, bancos, lojas, supermercados. Foi um imenso esforço logísticos que contou inclusive com as Forças Armadas para fazer o real chegar em todos os cantos do Brasil.

Isso garantiu que em 1º de julho, de fato, um novo padrão monetário fosse implementado no país, sem nota carimbada, sem nenhum improviso. Era uma nova moeda, uma nova era que se iniciava. E é isso que a gente comemora no dia de hoje, 30 anos depois.

Apesar de sob controle, a inflação continua a preocupar o brasileiro. Em qualquer momento que se faça uma pesquisa, essa preocupação aparece. Isso significa que o real deu errado? Não, pelo contrário. Significa que o brasileiro sabe que tem que permanecer vigilante, pois a inflação é um inimigo que a gente não pode deixar voltar, ele destrói a economia, a renda dos mais pobres, aumenta a desigualdade.

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