Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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GERADO EM: 26/08/2024 - 08:58

Reunião de Jackson Hole indica mudanças na política monetária dos EUA

A reunião de Jackson Hole, com destaque para o discurso de Powell do Fed, sinaliza mudanças na política monetária dos EUA. Impactos nos mercados globais e no Brasil, onde a inflação desafia o BC. A necessidade de adaptação às transformações econômicas é enfatizada, indicando a importância da humildade e da flexibilidade na tomada de decisões.

O mundo da economia ficou com os olhos voltados para Jackson Hole no final de semana. O que tem de tão especial por lá? É um descampado no meio do nada, cercado de cordilheiras, no Wyoming, cujo nome indica tudo “o Buraco de Jackson”. É que lá, sempre em agosto, todos dirigentes dos banco centrais dos Estados Unidos e banqueiros se reúnem para falar sobre a política monetária. Os Estados Unidos têm bancos centrais estaduais e o federal. Federal Reserve, que é presidido por Jerome Powell.

Neste encontro, o presidente do Fed falou logo de cara que “time has come”, ou seja, está na hora de derrubar a taxa de juros. Desde o começo do ano, as apostas de corte vinham sendo revistas mês após mês, e quando os juros americanos caem, mexem com o movimento global de capital. A dívida americana é muito grande e os juros altos absorvem capital do mundo inteiro, o que afeta todos os países em geral, incluindo o Brasil. Mas ele falou também que é preciso mudar a política monetária, não apenas a taxa de juros.

Powell admitiu que o Banco Central americano, os bancos centrais em geral, têm que analisar melhor suas próprias estratégias de política monetária, diante das mudanças da economia dos últimos anos e ainda mais com a pandemia.

A missão do Banco Central é sempre combater a inflação, mas sem provocar recessão na economia. O Fed tem recebido muitas críticas, porque diante do começo da alta da inflação demorou para subir a taxa de juros. A inflação ficou mais alta e persistente. E depois que subiu, demorou demais a cortar. Fará isso em 18 de setembro. O resultado da demora é que começaram a aparecer sinais de queda grande das ofertas de emprego, indicando um possível período recessivo.

E pior, os números ruins podem aparecer exatamente agora no período eleitoral.

O que Powell agora está dizendo é que é a economia mudou mais profundamente do que apenas ter passado por um período de pandemia. E que os BCs talvez tenham que entender o que mudou e refazer a própria estratégia de atuação.

"Os limites de nosso conhecimento — que ficaram evidentes durante a pandemia — exigem humildade e um espírito de questionamento focado em aprender lições do passado e aplicá-las de forma flexível aos nossos desafios atuais", disse ele.

Como isso nos atinge? Aqui também é preciso aprender com tudo o que mudou na estrutura da economia. Os economistas têm errado previsões sucessivamente. E o Brasil está neste momento diante de um dilema. A inflação chegou a 4,5% no acumulado de 12 meses e isso é muito alto, o teto da meta. Mas vai cair nos próximos meses. A Selic está em 10,5%. E o BC indicou que há dois caminhos: manter os juros por mais tempo nesse patamar ou subir as taxas no mês que vem. Mas subir por que? A inflação está alta para a meta de 3%, mas o que faz o mercado achar que esse é o melhor remédio é que está havendo também uma transição no comando do banco central e teria que ficar provado que o novo presidente subirá os juros se necessário. Ou seja, que é um durão, um Hawk, como eles dizem.

Mas talvez seja bom ler o recado que veio do Vale de Jackson, que é ser humilde e tentar ouvir a realidade antes de aplicar o manual de sempre. Hora de olhar as estratégias. Os bancos centrais têm que entregar uma inflação baixa, mas sem derrubar o produto além do necessário, ou elevar excessivamente o custo da dívida.

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