Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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Informações da coluna

A retomada do Rio Grande do Sul, após a tragédia provocada pelas enchentes, foi mais rápida do que se esperava, o que pode ser a explicação para o fato do mercado ter errado e muito as estimativas para a Produção Industrial Mensal (PIM) de junho. A confirmação, no entanto, virá com a divulgação dos dados regionais pelo IBGE na próxima semana. O fato é que a expectativa média do mercado para a produção industrial era de alta de 2,7% e houve um crescimento de 4,1% na comparação com maio, o que representa na série com ajuste sazonal, o resultado positivo mais intenso desde julho de 2020 (9,1%) e elimina a perda de 1,8% acumulada em abril-maio.

Caio Dianin, pesquisador do FGV Ibre, responsável pela projeção do PIB da instituição, conta que já zerou o impacto do Rio Grande do Sul da sua estimativa, que o fez elevar de 1,9% para 2,2% de crescimento para a economia brasileira. Dianin vê nos dados de eletrodomésticos e móveis efeito da recomposição dos lares gaúchos. Os bens de consumo avançara 6,8% ante a maio, sendo puxado pelos bens duráveis, que cresceram 4,4%.

-As pessoas perderam tudo e precisam repor esses bens. Sem dúvida, essa recuperação foi subestimada. A Anfavea, por exemplo, soltou um comunicado após a tragédia indicando o risco para a produção diante do atingimento de indústrias de componentes no Rio Grande do Sul. A produção de veículos, no entanto, cresceu 5,9% na comparação anual. No terceiro trimestre, a construção civil deve ser o indicador de recuperação, pois vão precisar reconstruir as cidades destruídas pelas enchentes.

Igor Cadilhac, economista do PicPay, concorda que houve uma recuperação mais rápida do que o esperado em relação aos impactos da calamidade climática no Rio Grande do Sul, mas espera outros indicadores para rever o impacto projetado para o PIB:

- O impacto pode ser menor do que o previsto para o PIB do segundo trimestre. Para a revisão do impacto negativo 0,2 p.p. nos números do trimestre, é necessário aguardar a divulgação dos outros dados de atividade em junho. Os dados da PIM, no entanto, já colocam um viés altista na nossa projeção para o PIB de 2024 - diz Cadilhac.

Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, destaca a predominância de números positivos na Pesquisa Industrial Mensal (PIM) de junho das três categorias (bens de capital, bens intermediários e bens de consumo) e a maior parte das atividades industriais pesquisadas apontaram crescimento na produção. A indústria extrativa cresceu 2,5% e a indústria de transformação, 4,5%".

Salles pondera "ainda que a expectativa para o segundo semestre seja de desaceleração da economia, esperamos um PIB forte para 2024, de 2,5%."

Guilherme Sousa, da Ativa Investimos, revisou a sua previsão de PIB de 1,9% para 2,1%, após a divulgação desta sexta-feira.

As estimativas para o crescimento do ano vem sendo revisadas desde o início do ano. Na avaliação de Dianin, do FGV Ibre, poderiam ser até maiores vencidas as incertezas sobre o fiscal:

- A sinalização de a que a contenção de gastos pode chegar a R$ 50 bilhões é positiva, mas ainda há desconfiança do mercado sobre o compromisso fiscal do governo. O fiscal é muito importante para os juros no país. Há ainda preocupação sobre a troca do presidente do Banco Central e como isso vai impactar na missão da autoridade monetária de manter a inflação na meta. Na minha avaliação, o comunicado do Copom deveria ter deixado claro a sua disposição em aumentar os juros caso isso seja necessário para deter a inflação. Ainda não é, mas era preciso ficar clara essa disposição - avalia o pesquisador que aponta preocupação com a pressão do mercado de trabalho aquecido e o crescimento da renda sobre a inflação.

No primeiro semestre, o IBGE chama atenção para o fato do maior dinamismos entre as grandes categorias econômicas terem sido registrado em bens de capital (5,0%), bens de consumo duráveis (4,3%) e bens de consumo semi e não duráveis (4,1%), impulsionadas, em grande medida, pela maior produção de bens de capital para equipamentos de transporte (10,4%), na primeira; de eletrodomésticos (22,1%), na segunda; e de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (5,9%) e carburantes (6,1%), na terceira. O setor produtor de bens intermediários (1,8%) também apontou resultado positivo no índice acumulado do primeiro semestre do ano, mas registrou avanço menos intenso do que o verificado na média da indústria (2,6%).

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