O banco central norte-americano, o FED, deve começar a reduzir os juros nesta quarta-feira, o primeiro corte desde 2020, o que traz alívio para a economia global. No entanto, o cenário econômico futuro da economia dos EUA ainda é conturbado, especialmente por conta da eleição, em que a proposta dos dois candidatos - Kamala Harris e Donald Trump - abrem mais espaço para a inflação.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, e o diretor para as Américas da Eurasia, Christopher Garman, participaram do 9º Congresso da Indústria de Máquinas e Equipamentos, na sede da Abimaq, em São Paulo, e comentaram sobre a economia norte-americana.
Para Vale, a desaceleração da economia americana, uma questão frequentemente temida, pode se tornar uma realidade mais palpável no final deste ano e no início do próximo.
- A magnitude dessa desaceleração ainda é incerta, mas os sinais indicam que uma recessão pode estar a caminho. Preparar-se para a virada de 2024 e o início de 2025 é crucial, pois a recessão se torna uma possibilidade cada vez mais concreta.
O economista considera que a atual eleição americana também acrescenta uma camada de complexidade, com os dois candidatos propondo expansão de gastos em um contexto fiscal já complicado.
- O cenário fiscal americano está se tornando cada vez mais comparável ao da América Latina, com estruturas de gastos rígidas e um déficit crescente. As propostas dos candidatos, que incluem cortes de impostos, podem não gerar o crescimento necessário para combater o déficit, colocando um prêmio de risco na curva de juros dos EUA. Esse cenário fiscal desafiador é similar ao que o Brasil enfrenta, onde o fiscal tem um impacto significativo nas taxas de juros.
Para Garman, uma vitória de Donald Trump seria um resultado desafiador para o governo Lula. E não por conta do crescimento da direita conservadora como muitos pensam.
- A razão que o governo Lula deve se preocupar com a vitória do Donald Trump é a inflação. E isso sugere que o Federal Reserve talvez tenha que parar de cortar juros e tem o risco de ter que aumentar lá na frente. Então, o timing de juros reais mais elevados nos Estados Unidos é horroroso para o timing político aqui no Brasil.
Ele disse que em termos macroeconomicos globais, a repercussão de um governo Trump é mais inflação com menos risco de crescimento econômico e mais protecionismo.
A proposta de uma tarifa de 60% sobre produtos chineses e uma tarifa de 10% sobre todos os produtos que entram na economia americana pode reduzir o PIB da China em 2,5% e o dos EUA em 1,8%, além de aumentar a inflação americana em 1%, explica ele.
Além disso, a deportação de 11 milhões de imigrantes ilegais também faz parte de sua agenda, o que poderia gerar uma queda de 1,8% no PIB dos EUA em três anos e aumentar a inflação em 1,2%. A economia americana, que atualmente depende de 19% da força de trabalho imigrante, sofreria impactos significativos.