Panorama Esportivo
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Informações exclusivas do futebol e do mundo do esporte.

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Athos Moura

Começou a carreira em 2009 no GLOBO e já teve passagens pelo O Dia e CBN. Gosta de esportes, política e assuntos jurídicos. É skatista e torcedor do Bangu.

Diogo Dantas

Repórter com mais de 10 anos de experiência. No GLOBO, cobriu Copas do Mundo, foi setorista do Flamengo e especializou-se nos bastidores e mercado da bola.

Por Athos Moura — Rio de Janeiro

Fernando Trevisan, especialista em gestão e marketing esportivo, diz em entrevista ao Panorama Esportivo, que atualmente não há mais como desvincular a prática esportiva profissional do marketing. Além disso, acredita que o espaço de crescimento do futebol nesse mercado pode ter chegado ao seu teto com o atual formato.

Ele é defensor da liga e acredita que ela é o caminho para que o futebol possa ser visto como negócio, se profissionalizar e retomar o crescimento. Trevisan, que é dono de uma escola de negócios, também fala de outras formas como os clubes podem arrecadar, caso sejam organizados e sustentáveis.

Qual a importância do marketing no mundo do esporte?

Hoje não tem como desvincular a prática esportiva profissional do marketing, uma coisa está totalmente relacionada a outra. Quando a gente fala de receita com direitos de transmissão, por exemplo, boa parte desse valor está relacionado como o clube ou entidade se relaciona com uma gama de fãs. É uma relação até óbvia. O mesmo acontece com receitas de patrocínio. Com mais receita, o clube consegue, desde que gerencie bem seus custos, ter mais recursos para investimentos e ter um desempenho esportivo melhor. E temos casos aqui no Brasil nos últimos anos, o Palmeiras e Flamengo. Clubes que já eram de massa, mas que não trabalhavam tão bem o seu público. O Palmeiras ao inaugurar o estádio novo, junto com um patrocinador que enxergou um potencial futuro, transformou isso. Então apesar de não ser o clube com segunda maior torcida do país, é o segundo maior tamanho de faturamento. E o Flamengo, que já era e sempre foi o clube com mais torcedores, há cinco, dez atrás olhou melhor para o negócio. E consequentemente também para o marketing. O clube naturalmente se transforma numa potência e fatura mais de R$ 1 bilhão, número recorde, que se aproxima de valores de grandes empresas no Brasil.

Do ponto de vista do marketing esportivo, a Liga é um bom caminho para os clubes ou é melhor continuar do jeito que está?

A liga certamente é o próximo passo de profissionalização do futebol no Brasil. Começando lá atrás com a transformação do campeonato em pontos corridos, a previsibilidade maior, regras claras de acesso e descenso, a evolução que veio com os novos estádios impulsionado pela copa do mundo e todo investimento que se direciona para a melhoria da experiência do torcedor. Agora, o passo seguinte é a constituição de uma liga. Ao falar em liga, a gente fala no entendimento do futebol como um produto, que trabalhado em conjunto tende a ter um valor muito maior. Não é à toa que todas os principais torneios do mundo têm esse formato de liga. O que falta realmente é o entendimento por parte dos dirigentes. Se isso não acontecer, o campeonato tende a se estabilizar nesse patamar que já é maior do que era no passado. Eu diria que os dois elementos fundamentais para o futebol brasileiro seguir em evolução constante é a constituição da liga e um mecanismo de fair play financeiro.

Você sente que o mercado está ansiando pela Liga?

Tem inclusive quem não estava relacionado ao futebol participando do processo de formação da liga, incentivando os clubes e os grupos, caso da XP e do BTG. São players que não existiam antes no mercado do futebol. E o mercado corporativo trabalha muito com perspectiva de crescimento e rentabilidade. As empresas estão acostumadas a olhar potenciais de valorização, então, sem dúvida nenhuma o mercado como um todo é totalmente a favor. E cada vez mais o esporte, em especial o futebol, está se concebendo como um negócio.

A profissionalização dos clubes permite que as empresas tenham mais segurança para investirem mais dinheiro a um prazo maior?

Uma associação é uma entidade política. E sem dúvida uma entidade política está sujeita a mudanças de visões num curto prazo, de acordo com os mandatos eleitorais. Ao ser uma empresa como hoje é o Botafogo, Cruzeiro, Vasco e o Bahia, existe uma tendência de que haja uma visão de longo prazo, uma perspectiva de estabilidade maior do que uma entidade política. Isso são questões de princípio. É claro que não é o fato de virar uma empresa por si só que vai fazer que o clube seja bem gerido. Há um incentivo para que isso aconteça. Da mesma forma não é por ser uma associação que um clube vai ter problema de gestão, que não vai conseguir se alavancar. Flamengo e Palmeiras são associações e são sustentáveis, mas quem vai garantir que amanhã entre uma nova gestão que tem uma visão completamente diferente e mude o rumo do clube? Por outro lado, como é que se garante que aquele clube que foi comprado por investidor, amanhã não seja revendido para alguém que tem uma outra visão, que vá para outro caminho? Riscos existem, mas sempre que a gente fala de uma empresa, existe uma tendência de que haja uma visão de longo prazo, um controle maior dos custos, um olhar pro negócio como o produto. E por isso que essa lei da SAF pode ser um divisor de águas. E contribui para o incentivo à criação de uma liga.

As ligas brasileiras de outros esportes, que não o futebol, cresceram no mercado?

O Basquete e o Vôlei, sem dúvida, se transformaram em negócios muito mais interessantes do ponto de vista da organização, do ponto de vista da tração de patrocinadores. É que claro que é muito difícil comparar qualquer outro esporte com futebol no Brasil por conta da sua popularidade. Naturalmente é uma transformação muito mais fácil de acontecer em esportes menores do que no futebol, por isso que tem levado tanto tempo isso acontecer.

A profissionalização, inclusive das arenas, pode ajudar a trazer patrocinadores que não necessariamente sejam ligados ao esporte?

Não só com patrocínio, mas serviços de hospitalidade por meio dos camarotes. A empresa pode se interessar não só pelo jogo, mas pelos shows que acontecem naquele estádio. É claro que o mercado norte-americano e talvez o europeu, vai estar sempre à frente, a gente tá chegando atrasado. Mas de qualquer forma se a gente olhar para trás um pouquinho, não precisa ser muito longe, a gente vê como melhorou muita experiência do torcedor hoje. E isso se reflete também para quem tá em casa. Que ao ver um estádio cheio, com iluminação boa, gramado bom, isso valoriza também a qualidade do que é apresentado dentro de campo. Atrai mais gente para assistir mesmo que seja dentro de casa e da mesma forma os patrocinadores se interessam. Tem mais audiência porque o estado tá cheio, porque o evento é organizado, é de qualidade. É um ciclo que só vai se retroalimentando e melhorando a qualidade do conteúdo esportivo no Brasil.

E dá para fazer isso sem aumentar os valores dos ingressos e limitar o acesso ao esporte apenas a poucas pessoas?

É acho que já tem acontecido. Inclusive a gente perceber a mudança do perfil do público ao frequentar os estádios. De um lado a gente tem um clube que tem todo direito de buscar cada vez mais recurso, de forma legítima. A gente cobra dos clubes que sejam sustentáveis, que honrem seus compromissos, que não atrasem salários, então a gente também não pode exigir que ele não possa buscar cada vez mais recurso se há demanda para aquilo. É sempre uma relação oferta e demanda, se cobrando o valor o estádio está enchendo, se você aumentar a capacidade e ele continua enchendo, a tendência é que o ticket médio vai sempre aumentar. Existe a setorização, que permite que você cobre pouco por um setor e mais em outro, que conta com mais serviços e que as pessoas ou mesmo empresas estejam dispostas a pagar, o ideal seria isso. Talvez uma liga consiga pensar em alguns padrões, por enquanto cada clube vai criando a sua forma legítima de cobrar os seus ingressos e faturar o máximo que puder.

As empresas Bets são patrocinadoras de diversos clubes e campeonatos. Recentemente houve uma operação do Ministério Público de Goiás que revelou um esquema de manipulação de resultados. Quando esse tipo de situação acontece com um setor que já está atrelado ao esporte, quem perde mais ou o dano é equivalente?

Está tão atrelado os investimentos de empresas desse tipo no futebol e no esporte que o impacto negativo vale para o setor como todo. O problema de imagem é generalizado. E começa com o problema de falta de legislação. A lei foi aprovada, mas não houve a regulamentação ainda. Então ainda há uma insegurança jurídica relacionada a apostas esportivas no Brasil. É uma coisa muito confusa e a falta de regulamentação só impede que esse setor seja organizado, fiscalizado, gere recursos, impostos é se tornem realmente um segmento organizado economicamente sujeito as leis brasileiras.

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