Portugal Giro
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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

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Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

Por Gian Amato

Parece que Portugal encolheu. Ou ao menos Lisboa e Porto, as duas maiores cidades. É a impressão que um candidato a inquilino tem quando vai às ruas atrás de um teto: onde estão os imóveis acessíveis para alugar?

Não existe apenas uma resposta, mas a saga de quem procura a primeira casa ou quer se mudar é a mesma e pode durar meses. Especialistas já defendem construir imóveis para alugar. Outros dizem que há lugares vazios à espera de turistas ou estrangeiros, que aceitam pagar mais por menos tempo. E há quem culpe a invasão estrangeira, incluindo a brasileira, pela disparada dos preços.

Segundo relatório do site especializado Idealista, o preço do m2 para aluguel em Lisboa em outubro era de € 16,7 e representa um aumento de 25% em relação ao mesmo mês de 2021. No Porto, o m2 vale € 12,5 e significa subida de 17,6 % em um ano.

Ontem, a Câmara Municipal de Lisboa, órgão equivalente à prefeitura, aprovou a criação de um subsídio para que pessoas mais jovens possam pagar aluguel. Em setembro, o governo incluiu em seu pacote contra a inflação um limite de 2% para o aumento dos aluguéis em 2023.

Grande parte dos brasileiros, recém-chegados ou não, sequer tem dinheiro para pagar um mês de aluguel na casa dos mil euros (R$ 5,4 mil), quanto mais depositar quantias absurdas de garantia ou meses de aluguéis antecipados para vencer a concorrência e a burocracia.

A saída, até achar um lugar que possa pagar, tem sido morar em quartos, alojamentos estudantis e na casa de conhecidos. Ou distante dos grandes centros.

Ao menos no drama das garantias, o Bloco de Esquerda conseguiu incluir proposta no Orçamento aprovado no Parlamento que limita o pagamento e adiantamentos a dois meses. Nivela a concorrência a partir de 2023, mas não garante que o proprietário cumpra a regra, porque existem milhares de contratos verbais imunes à fiscalização.

Depois de procurar desde o início de outubro, a brasileira Tatiana Gentil finalmente encontrou um apartamento para alugar em Lisboa. E, surpreendentemente, o proprietário já fez um contrato exigindo apenas dois meses de aluguéis antecipados.

— Eu estou nessa saga desde outubro. Da minha experiência pessoal, o que tenho visto é que Lisboa se tornou uma cidade para estrangeiros. É preciso ter um bom emprego e rendimentos para conseguir alugar um apartamento na cidade, porque os preços subiram muito. Há quem diga que a migração de americanos, ucranianos, ingleses e chineses inflacionou o mercado — disse Gentil, que viverá na capital por motivos profissionais.

Antes de achar o apartamento ideal para a família, ela passou pela desagradável experiência de ver o contrato quase certo virar miragem em poucas horas. Fato comum nas maiores cidades:

— Estava tudo certo, proposta e documentos aceitos e malas prontas para embarcar para Lisboa para uma semana de trabalho. E o proprietário desistiu. É um chinês, que mesmo depois de já ter me mandado o contrato pra assinar, decidiu tirar o apartamento do mercado para que ele pudesse usar o imóvel na primavera. Ouvi muitos relatos parecidos com esse, tamanha a loucura que está o mercado.

Segundo Gentil, o apartamento do proprietário chinês não voltou ao mercado. Era um dois quartos no Príncipe Real por € 1,5 mil mensais (R$ 8,4 mil). Com a ajuda de uma corretora, conseguiu alugar há pouco um apartamento de um casal português, que trocou o imóvel por outro maior.

— De alguns dias pra cá, vejo que os preços acomodaram um pouco. Na minha percepção, com o inverno chegando, veremos mais oportunidades. De toda forma, é um processo com o qual não estamos acostumados no Brasil. Muita oscilação e os parâmetros são muito variáveis, porque se encontra um T0 (similar a conjugado) ou um T2 (dois quartos) na mesma faixa de preço. É preciso buscar muito, contar com corretores experientes e diversificar as opções até conseguir fechar o negócio — aconselhou Gentil.

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