Portugal Giro
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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

Informações da coluna

Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

Por Gian Amato

O último relatório do projeto #MigraMiths, da Casa do Brasil de Lisboa, revelou que a maioria dos brasileiros já sofreu discriminação nos serviços públicos de Portugal.

A autora é a cientista política Ana Paula Costa, vice-presidente da Casa do Brasil. Ao Portugal Giro, ela explicou que dos 203 entrevistados, 177 são brasileiros:

— Reflete o fato de que a maioria dos inquiridos são brasileiros, mas também que a maioria dos imigrantes em Portugal são nacionais do Brasil. É uma grande comunidade.

Quando questionados se já sofreram discriminação nos serviços públicos de Portugal, 81% dos estrangeiros responderam que sim.

O número aumenta para 91% quando são os brasileiros que respondem se sofreram discriminação devido à nacionalidade. E 70% das mulheres foram discriminadas devido ao gênero.

— Falta informação e disseminação dos direitos das pessoas imigrantes e sensibilização dos funcionários públicos sobre a imigração. Muitas vezes, acabam por reproduzir preconceitos e estereótipos — ressaltou Costa.

O atendimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é apontado pelos imigrantes como a maior fonte de discriminação da administração pública: 34% responderam que passaram por algum episódio em centros de saúde.

Logo em seguida estão as Finanças (17%), Serviço de Estrangeiros e Fronteiras 16%, Universidade (15%), Segurança Social 8,8% e hospitais 8%.

— A maioria dos episódios aconteceu nos centros de saúde (e alguns casos nos hospitais). É um problema que se agravou e se arrasta depois da pandemia, com serviços mais sobrecarregados, falta de funcionários, má gestão e etc. Um problema que realmente é estrutural e tem afetado todas as pessoas em Portugal — disse Costa.

A vice-presidente da Casa do Brasil ressalta que a saúde é um dos pontos cruciais para a integração dos imigrantes ao país:

— O acesso à saúde é visto como um ponto fundamental para a integração e envolve outras questões, como as diferenças culturais e a língua. Por isso, a assistência à saúde para as pessoas imigrantes precisa de estar estruturada em termos de diálogo intercultural e tradução.

No documento apresentado ontem, há diversos relatos. Entre eles, os das brasileiras discriminadas no SNS (1) e nas Finanças (2):

(1) “Tive problemas quando fiz o exame de rastreio do (câncer do) colo do útero e a ginecologista insinuou que poderia estar com problemas pela quantidade de parceiros sexuais que eu poderia ter tido. Na altura, eu tinha 23 anos e só tinha tido três namorados”.

(2) “O funcionário insinuou que eu, por ser brasileira, era prostituta ou estava em Portugal para ‘roubar os maridos portugueses’.”

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