Portugal Giro
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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

Informações da coluna

Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

Por Gian Amato

A atriz e travesti brasileira Keyla Brasil está desaparecida desde a última sexta-feira. A última vez que conversei com ela foi no começo da noite de quinta-feira, 18h55m, horário de Portugal. A entrevista foi publicada no Segundo Caderno, de O Globo, no domingo.

Eu também conversei com Keyla na última quarta-feira para a matéria que publiquei aqui no Portugal Giro no dia seguinte. Em ambas as ocasiões, ela disse que sentia muito medo, estava assustada e, por isso, fugiu de Lisboa para as “montanhas” nas imediações de Coimbra.

A Polícia de Segurança Pública (PSP) informou ao jornal "Público" que foram “adotadas medidas que, em função da situação concreta, se afiguram urgentes”.

Para poder ser entrevistada por WhatsApp, Keyla contou que precisava ir a um bar próximo ao local onde estava escondida, uma comunidade cheia de estrangeiros, segundo ela. Keyla disse que trocava o chip do telefone constantemente e, por isso, às vezes ficava sem sinal de rede. No bar, sempre muito barulhento, ela se conectava ao wi-fi.

— Aqui, em Portugal, a gente compra o chip com internet, bem baratinho, € 5 (R$ 27). Aí, eu vou trocando de chip sempre. Vou trocando de chip e nunca fico com um número fixo. Comprei um, esqueci o número, acabou o crédito e esqueci de trocar — disse ela em áudio enviado ao Portugal Giro na quinta-feira.

A produtora de Keyla, Freda, respondeu às mensagens que enviei ontem e hoje somente agora pela pela manhã:

— Ela está incontactável. Toda a informação, no momento, você pode acessar no Instagram da Casa T.

Entrei em contato com a Casa T de Lisboa, que auxilia Keyla, na noite de domingo, quando os responsáveis desmentiram as informações iniciais que a travesti brasileira havia sido encontrada e estava bem:

— Não encontramos, ainda. Estamos muito ocupados e, por isso, a dificuldade de acesso.

Naquela quinta-feira à noite, perguntei à Keyla se o medo era maior que o reconhecimento pelo protesto que fez no Teatro São Luiz, em Lisboa, quando mandou sair de cena o ator André Patrício, homem que fazia papel de travesti na peça “Tudo sobre a minha mãe”. Ela respondeu:

— A repercussão negativa, as ameaças que recebo, acionam gatilhos devido à violência que fui vítima no passado. Aqui, no meio do mato, um bando de cachorros começou a latir e correr na mesma direção e desabei a chorar, desesperada. Poderia ser um animal. Ou o bicho homem. Hoje, falam que sou heroína, mas tenho muito medo.

Numa das ameaças que recebeu, Keyla contou, e reproduzo a seguir o que já publiquei, que um português “enviou um áudio dizendo que era inadmissível a nação portuguesa ser envergonhada por uma travesti brasileira. Dizia que sabia onde eu trabalhava, em um parque de Lisboa. E que iria lá me matar ou me mandar de cadeira de rodas de volta ao Brasil”.

Além das duas matérias, em diversos posts em sua conta no Instagram Keyla relatou que vinha sofrendo ameaças.

Segundo uma publicação da Casa T, a última notícia era que Keyla havia saído de Coimbra em direção a Lisboa por volta das 16h de sexta-feira.

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