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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

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Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

Por Gian Amato

RESUMO

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GERADO EM: 02/08/2024 - 11:47

Cidadania para judeus sefarditas afetados por mudança em Portugal

Portugal encerra cidadania para judeus sefarditas, afetando milhões de brasileiros. Advogado alerta que medida prejudica ambos os lados. Escritório revela que descendentes buscam nacionalidade. Escândalo envolvendo oligarca russo acelera mudanças e aumento de pedidos de cidadania.

Portugal vai encerrar a concessão de cidadania para descendentes de judeus sefarditas. A medida foi aprovada em Conselho de Ministros e será encaminhada ao Parlamento.

No mesmo dia em que extinguiu o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), o governo decidiu submeter aos deputados a decisão de estabelecer uma data para o encerramento.

No comunicado do Conselho de Ministros, o artigo 5 fala em alterações na Lei da Nacionalidade, sem especificar quais seriam as demais, e informa que será fixado no Parlamento o limite de vigência do regime:

“Foi aprovada a proposta de lei, a submeter à Assembleia da República, que altera a Lei da Nacionalidade. Entre as alterações propostas, é fixada uma data-limite para a vigência do regime que permite aos descendentes de judeus sefarditas portugueses requererem a nacionalidade portuguesa”.

A data para o fim não consta no comunicado porque ainda terá que ser debatida e aprovada pelos deputados no Parlamento, onde o Partido Socialista tem maioria absoluta.

A concessão é considerada uma medida de reparação aos descendentes dos judeus sefarditas, perseguidos e expulsos da Península Ibérica na Inquisição.

Os descendentes de judeus sefarditas que vivem fora de Portugal foram responsáveis pela maioria dos pedidos de cidadania feitos em 2022.

Segundo um estudo do escritório especializado em imigração Clube do Passaporte, milhões de brasileiros teriam direito à cidadania portuguesa pela via sefardita.

Para o advogado brasileiro Bruno Gutman, o fim da reparação histórica é ruim para ambos os lados:

— Obter a nacionalidade pela via sefardita demanda uma profunda análise da genealogia familiar e pesquisa de documentos. Muitos brasileiros descendem da comunidade dos judeus sefarditas portugueses, principalmente famílias do sudeste e do nordeste, que estão no país desde os primórdios da colonização. Acabar com essa reparação histórica é ruim para ambos os lados: perdem os descendentes desse povo, que não poderão mais obter a cidadania, e perde Portugal, que poderia utilizar essa questão para atrair mais imigrantes.

Há cerca de um ano, em meio à invasão da Ucrânia pela Rússia, veio à tona que o oligarca russo Roman Abramovich obteve a cidadania por via sefardita em seis meses. O processo leva aproximadamente dois anos.

O processo levantou suspeitas e o rabino Daniel Litvak, da Comunidade Judaica/Israelita do Porto (CJP/CIP), chegou a ser detido durante investigações do Ministério Público e do Instituto dos Registos e Notariado.

Ao esclarecer os processos de certificações de Abramovich e outros requerentes, a CIP informou ao Parlamento que recusou a veracidade da origem sefartida de um ministro brasileiro, sem informar o nome.

Diante das suspeitas, o governo de Portugal decidiu apertar as regras e passou a exigir, desde 1º de setembro de 2022, que os descendentes apresentem “ligação efetiva e duradoura com Portugal”.

Antes da mudança da regra em 2022, houve uma corrida de advogados e descendentes e os processos de certificação sefardita e pedidos de cidadania dispararam.

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