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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

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Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

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Geringonça: a famosa solução de governo à esquerda sob comando do Partido Socialista (PS), que levou a política portuguesa ao topo das páginas de jornais e sites ao redor do mundo, poderá ganhar uma versão 2.0 após as eleições de 10 de março.

Tudo vai depender do resultado e da capacidade de negociação do vencedor. Mas um dos articulistas da primeira Geringonça em 2015, Pedro Nuno Santos, é o favorito para ser o novo primeiro-ministro do PS se as eleições legislativas fossem hoje. Foi o que indicaram as pesquisas da Intercampus para o “Jornal de Negócios” e “Correio da Manhã” divulgadas hoje e na última terça-feira.

Na primeira pesquisa, de terça-feira, o ex-ministro das Infraestruturas e Habitação aparece na ponta com 36% dos votos, derrotando Luís Montenegro, candidato do Partido Social Democrata (PSD), de centro-direita, que ficaria com 31%.

A pesquisa também revela que Santos venceria seu oponente ao cargo de secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, atual ministro da Administração Interna. A eleição do PS, nos dias 15 e 16 de dezembro, dará ao vencedor o direito de concorrer às legislativas. Até mesmo Carneiro, azarão ao cargo de secretário-geral, venceria Montenegro: 34% x 30%.

Com a credencial de favorito, Pedro Nuno Santos foi à “CNN Portugal” dar uma entrevista no mesmo dia da divulgação da primeira pesquisa, na terça-feira. Foi quando admitiu a hipótese de, vencendo, negociar para tentar reeditar a Geringonça, que deu estabilidade em quase seis dos oito anos de mandato de António Costa. O primeiro-ministro, ainda secretário-geral do PS, pediu demissão após seu nome aparecer em uma investigação sobre suspeitas de corrupção no governo.

“Em vez de falarmos dos problemas do país, estamos sempre falando da política de alianças. O PS está concentrado em ganhar as eleições. A partir daí, procuraremos soluções para implementar o programa do Partido Socialista. A solução governativa da Geringonça foi um sucesso. Não fechamos portas. Em 2015, António Costa derrubou muros. Até então, o PS dependia da direita ou da maioria absoluta para governar”, disse o líder da pesquisa.

O PS terá que procurar aliados para formar governo se não tiver maioria parlamentar. Nenhum dirigente do Bloco de Esquerda (BE) ou Partido Comunista Português (PCP) fechou formalmente a porta à possibilidade, apesar de dizerem que estão mais concentrados, primeiro, nas eleições.

O PSD só formaria uma maioria na Assembleia Legislativa com apoio do partido de extrema-direita Chega. Mas Montenegro negou, diversas vezes, que faria uma aliança com a sigla, dona da terceira bancada do Parlamento.

Já na pesquisa divulgada hoje, PS e PSD, perdem votos, mas o PS perde menos e recupera a liderança com 23,6% contra os 21,9% dos sociais democratas. Os demais partidos crescem. O destaque é o BE, que teve o maior impulso e chegou aos 9,5% (+ 2,8%), ultrapassando a Iniciativa Liberal para ocupar a quarta posição.

Pedro Nuno Santos, de 46 anos, é considerado integrante da ala mais à esquerda do PS. Foi nomeado em 2015 por Costa como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e atuou como uma espécie de coordenador entre os socialistas, BE, PCP e Partido Ecologista os Verdes (PEV), as três siglas que possibilitaram a formação da primeira Geringonça.

Em 2015, o PS perdeu as eleições para o PSD, mas conseguiu formar maioria parlamentar graças à solução inusitada de governo que causou estranheza no início e, por isso, foi batizada de forma pejorativa de Geringonça. Nome que Costa adotou.

Beneficiado pelo crescimento do país e pela estabilidade durante o período pós-crise econômica, o governo abriu o país aos imigrantes, atraiu investimento estrangeiro e Costa, assegurado pelos votos da Geringonça, liderou sem grandes problemas.

Durante quatro anos, a coalizão garantiu o sucesso de um governo que despertou inveja e admiração de políticos e eleitores no mundo todo e principalmente na Europa, por ter conseguido conter o crescimento da extrema-direita e desenvolver a economia.

Depois de evitar repetir em 2019 a assinatura do apoio formal com a Geringonça, Costa foi fazendo acordos de votação em votação. Mas, surpreendentemente, viu o seu orçamento de Estado para 2022 ser rejeitado no Parlamento, em 2021, com os votos contra dos ex-aliados do BE e PCP. Foi o fim de uma possível reaproximação.

Após a dissolução do Parlamento pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o PS venceu as eleições antecipadas de março de 2022 com maioria absoluta. Mas o governo começou a tropeçar em sucessivas crises, que foram mais incisivas justamente no ministério de Pedro Nuno Santos, responsável pela reestruturação e nova privatização da companhia aérea TAP.

Sob seu comando, a pasta das Infraestruturas aprovou uma indenização de € 500 mil (R$ 2,6 milhões) durante o processo de demissão de Alexandra Reis do cargo de diretora da TAP. A quantia gerou polêmica e levou Santos a entregar o cargo e voltar à cadeira de deputado no Parlamento, que acumulou por algumas semanas com a função de comentarista político na TV. Uma posição que pode servir de trampolim para cargos públicos eletivos em Portugal.

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