Para ministra Anielle Franco, reparação é tratar brasileiros com dignidade em Portugal

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Em entrevista exclusiva ao blog, Anielle concorda com a opinião que a maior reparação pelos crimes coloniais não é material: é tratar com dignidade o brasileiro imigrante em Portugal.

— Isto é reparação histórica. Todo mundo fala que tem que pagar, mas tem um detalhe, que na minha opinião, na visão de uma pessoa criada na Maré, para quem não tinha acesso à saúde e educação, a luta pela reparação vai muito além do "me paga aqui um pix", com muita gente fala zombando — disse, dando exemplo:

— Existem ações, como o acesso ao Ensino Superior com uma lei de cotas, que é reparação histórica. E que muitos falavam que era “mimimi”. Sou fruto da lei de cotas. Se não tivesse entrado na UERJ como entrei, meu futuro seria outro.

A ideia é começar a transportar para Portugal estas batalhas de igualdade e levar denúncias das dificuldades diárias enfrentadas pelos imigrantes brasileiros ao governo português. Hoje, Anielle se reúne com a direção da Agência para a Integração, Migrações e Asilo e com o secretário adjunto do Ministério da Presidência, Rui Armindo Freitas

— Para além da minha presença, importante pela questão racial, tem outras pautas, como a questão migratória, que está mudando. Hoje, a gente tem uma reunião direta com a diretoria do órgão de imigração. O número de reclamações que têm chegado na Embaixada é grande e não é feito só por pessoas negras, é transversal. Então, por que não pautar e levar isso para os ministérios? Vamos propor um canal direto de comunicação com a Embaixada.

Antes, Anielle Franco assina memorando com Observatório do Racismo e Xenofobia depois de ter recebido de brasileiros relatos de discriminação, como mostrou o Portugal Giro.

— Essa missão institucional é fruto da nossa primeira missão de 2023. A assinatura do memorando, as reuniões com a ministra da Juventude e Modernização, Margarida Balseiro Lopes. Eu acho que tem uma mudança de comportamento aqui. A gente está cuidando do povo brasileiro, onde quer que ele esteja.

Apesar de achar que a cobrança por reparação feita pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa foi um grande passo, a ministra acredita que há um longo caminho a ser percorrido.

— Há uma cultura forte, de Portugal, que nega muitas coisas. Estamos falando de um país colonizador. Então, muitas vezes, aceitar que outras lutas entrem no país… então, (dizem) por que não fica no seu país? Quando a gente fala do processo de cuidado, passa por todas as relações diplomáticas, para virar a chave e trazer o que realmente é importante. Passa pelo respeito entre os presidentes da República. O presidente deu um grande passo. Se olhar dois ou cinco anos atrás, não se falava nisto, ainda mais aqui (em Portugal).

A ministra participou do Fórum de Lisboa, organizado pelo ministro do STF Gilmar Mendes. Conhecido informalmente em Brasília como “Gilmarpalooza”, reuniu 1,7 mil inscritos, políticos dos três poderes como convidados e cortou a palavra Jurídico, que deu nome às últimas 11 edições.