Portugal Giro
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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

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Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

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RESUMO

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GERADO EM: 12/07/2024 - 03:57

Problemas do turismo boêmio em Lisboa

Lisboa enfrenta problemas com o turismo boêmio, gerando gentrificação e perturbação aos moradores. A presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia pede respeito às regras de silêncio e uso do espaço público. O aumento do turismo pós-pandemia gera impacto negativo, com fechamento de comércios tradicionais e conflitos entre turistas em diversas cidades de Portugal.

A massificação do "turismo de copos" tira o sono e a paciência dos moradores de zonas boêmias do centro histórico de Lisboa, que já sofrem com a escassez de imóveis a preços acessíveis.

Contra a gentrificação etílica, descumprimento das regras de silêncio e do uso do espaço público, a Junta de Freguesia da Misericórdia pede respeito em placas afixadas em várias ruas.

Escritos em inglês e português, os sinais, afixados pelos funcionários da junta, pedem “Silêncio, por favor. Respeite os residentes”.

A Junta de Freguesia é um órgão administrativo dos bairros de uma região. Em Lisboa, a Misericórdia gerencia o Cais do Sodré e o Bairro Alto, dois locais que fervem na capital. Além de turistas, as áreas são frequentadas pelos portugueses.

Presidente da junta, Carla Madeira, do Partido Socialista (PS), disse ao Portugal Giro que o turista que só procura Lisboa para beber mata o comércio tradicional e perturba moradores.

— O turismo de copos prejudica a qualidade de vida de moradores e seca o comércio de qualidade e tradicional. Casas de fado e restaurantes antigos estão fechando porque não conseguem competir com bares “low cost”, que vendem bebidas baratas — disse Madeira.

Impulso pós-pandemia

A reabertura após as seguidas quarentenas para combater a Covid-19 impulsionou a proliferação de botequins, bares e qualquer tipo de loja que venda bebida barata, diz Madeira.

Os proprietários de bares naquelas áreas foram capazes, ao longo dos últimos três anos, de pagar aluguéis exorbitantes, ao contrário do comércio tradicional.

Madeira lembra do clássico restaurante Bota Alta, fechado no final de 2023 após o aluguel aumentar de € 1,3 mil (R$ 7,6 mil) para € 11 mil (R$ 65 mil). Estava há 50 anos no Bairro Alto.

— Fechou porque quem vende bebidas baratas alugou por mais de € 10 mil. Paga quem tem mais dinheiro, o que prejudica os empresários que investiram em comércio de qualidade, mas veem que à volta só há bebida. Não pode ser, não queremos isso para nossa cidade — disse Madeira.

Placa pedindo silêncio em zona boêmia de Lisboa — Foto: Junta da Misericórdia/Divulgação
Placa pedindo silêncio em zona boêmia de Lisboa — Foto: Junta da Misericórdia/Divulgação

As placas são um sinal de inquietação e um recado pacífico. Mas na esteira do cansaço do turismo de massa em cidades espanholas, a presidente da junta admite que moradores podem protestar:

— Exatamente! Porque as pessoas ficam revoltadas. Os lisboetas convivem bem com os turistas e são pacíficos. Mas quando são desrespeitados...

Turismo dispara

Portugal retornou aos índices de turismo pré-pandemia em 2023, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística divulgados esta semana.

Desembarcaram no país 26,5 milhões de turistas em 2023, mais 7,7% que em 2019. E é um crescimento de 19,2% em relação ao ano de 2022.

Somente do Brasil vieram 1,3 milhões de turistas, número 25% superior a 2022. Fora da Europa, os brasileiros ficam atrás apenas dos 1,5 milhões enviados pelos Estados Unidos.

— Aumentaram os números de pessoas e de bares. A nossa freguesia sempre foi boêmia e noturna, mas o problema agora é o exagero, a procura exagerada pelo consumo de álcool, que multiplicou o número de bares com portas abertas, com pessoas do lado de fora e que sequer respeitam o mínimo das regras — contou Madeira.

Segundo ela, há estabelecimentos que comunicam previamente o funcionamento de uma outra atividade, como sorveteria ou pizzaria. Mas depois começam a vender bebidas baratas, o que infringiria uma regra de 2014 que veta a abertura de mais bares na região.

— Abrem como sorveteria e pizzaria e não é isso que acontece. E a prefeitura deixa. O regulamento de 2016 fixou 23h como limite para música. Mas não há fiscalização. Está um ambiente insuportável, uma situação cada vez pior — disse Madeira.

Problema nacional

Casos de assassinatos, violência e assaltos foram relatados no Bairro Alto e Cais do Sodré, como mostrou o blog.

O problema não é exclusivo de Lisboa. A prefeitura do Porto também chegou a afixar sinais em áreas boêmias no centro da cidade, que proibiu venda de bebidas nas ruas, em certas zonas, entre 21h e 7h.

Cidades do Algarve também relatam perturbações. Principalmente agora no verão europeu, quando se tornam ímãs para turistas em busca de bebidas mais baratas que no restante da Europa.

Na última quarta-feira, em Albufeira, cidade algarvia conhecida pela vida noturna nas ruas, turistas ingleses e holandeses entraram em confronto após a vitória da Inglaterra na semifinal da Eurocopa.

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