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O ritmo da opinião pública

Informações da coluna

Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Pablo Ortellado

Professor de Gestão de Políticas Públicas na USP

Por Flávio Tabak — São Paulo

Apesar de melhora significativa na redução da desconfiança entre 2021 e 2022 (queda, mesmo em patamares elevados, de 68% para 53%), os partidos políticos do Brasil ainda estão longe de estarem sempre presentes na cabeça dos eleitores, como mostram novos dados da pesquisa “A cara da democracia”. Mesmo assim, o presidente e pré-candidato à reeleição Jair Bolsonaro conseguiu, em pouco tempo, fazer o PL ressurgir na lembrança dos que afirmam ter uma sigla de preferência.

Quando todos os 2.538 entrevistados responderam se “simpatizam” com algum partido político, a imensa maioria disse não (79%). No entanto, outros 20% responderam afirmativamente, e é nesse grupo que o PL de Bolsonaro demonstra uma tendência de já refletir a filiação do presidente, mesmo após apenas seis meses da cerimônia feita no fim de novembro de 2021 e da ausência de discursos políticos que defendam ou citem bandeiras ou a história da legenda, que já compôs a chapa vitoriosa do ex-presidente Lula (PT), em 2002, com o vice José Alencar, que era do PL.

Nesse grupo dos 20% que simpatizam com legendas, o PT, de longe, é maioria no quesito “simpatia” dos entrevistados, sempre em respostas espontâneas (quando não são apresentadas as opções). São 64% os que escolhem o PT dentro desse grupo. Fora dele, quando levados em consideração tanto os que têm preferência por sigla quanto os que não têm, o resultado total do PT é 13%. Já o PL de Bolsonaro surge com 9% entre os que afirmam ter legenda de preferência, o que o torna o segundo partido mais lembrado nesse grupo de 20%. No total, o PL tem 2%, resultado que pode ser desconsiderado por ser do tamanho da margem total de erro.

Siglas tradicionais e com muitos filiados, como o MDB, têm 5% no grupo dos eleitores com alguma preferência, praticamente a metade do PL recém-casado com o bolsonarismo. Outros partidos tradicionais, como PSDB ou PDT, não passam da margem de erro.

As simpatias e antipatias pelas legendas — Foto: Editoria de Arte
As simpatias e antipatias pelas legendas — Foto: Editoria de Arte

Do 17 ao 22

Por outro lado, a pesquisa “A cara da democracia” também questionou se os entrevistados teriam algum partido do qual não gostam. E os resultados mostram tendências semelhantes entre PT e PL, com algumas diferenças: 60% disseram não ter antipatia por siglas, e 36% responderam que sim. O PT é o número um dessa lista de rejeição, com 56% das respostas dentro do grupo de 36% que afirmaram não gostar de alguma legenda. Não à toa, o PL agora bolsonarista é o segundo colocado, com 10% nesse mesmo segmento. No total dos entrevistados, independentemente da primeira resposta se há ou não antipatia a alguma sigla, 21% dizem não gostar do PT. O PL registra 4%.

Pela primeira vez sem lançar candidato a presidente desde a sua fundação, o PSDB tem 6% entre os entrevistados do grupo com repulsa a legendas. Em crise, os tucanos escolheram o ex-governador João Doria para disputar o Planalto após um tumultuado processo de prévias, mas acabaram optando por um acordo com o MDB da pré-candidata Simone Tebet.

Cientista política da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e integrante do Observatório das Eleições, Luciana Santana analisa que o PT e Lula conseguem manter-se em ligação com movimentos sociais e organizações da sociedade civil organizada e não organizada também, mesmo após episódios como o mensalão e a Operação Lava-Jato.

— Esse cenário é diferente com Bolsonaro, que não tem trajetória partidária longeva tampouco ligação com movimentos, a não ser com grupos conservadores que foram se adequando à imagem do presidente, especialmente a partir de 2015. Uma identificação muito mais personalizada do que partidária — analisa Luciana, acrescentando que, se o partido de hoje fosse o PSL ou o PP, possivelmente esse número seria o mesmo.

Segundo a pesquisadora, a forma como Bolsonaro se comunica com seu eleitorado é muito efetiva, ou seja, tudo o que sai dele como emissor chega à base, mesmo que não partidária:

— Por isso as pessoas começam a se reconhecer nesses outros partidos. O 17 agora é o 22. Já no caso do PT, é outro tipo de construção. Agora temos a polarização mais em termos de personalismo, diferentemente do que aconteceu entre 1994 e 2014.

A pesquisa “A cara da democracia” foi feita pelo Instituto da Democracia (INCT/IDDC), com 2.538 entrevistas presenciais em 201 cidades, em todas as regiões do país. A margem de erro total é de 1,9 ponto percentual, e o índice de confiança é de 95%.

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