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O ritmo da opinião pública

Informações da coluna

Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Pablo Ortellado

Professor de Gestão de Políticas Públicas na USP

Por Rafael Garcia — São Paulo

Para um terço da população, os protestos de dez anos atrás contribuíram para o acirramento da divisão política no país. O diagnóstico saiu da pergunta feita pelo Ipec: "A polarização entre direita e esquerda que vivemos hoje na política é uma consequência das manifestações de 2013?". Dos entrevistados, 18% responderam que concordam totalmente e outros 18% disseram concordar em parte, totalizando 36%. Os que discordam total ou parcialmente somaram 35%.

Um grupo de 12% disse não concordar nem discordar; e outros 18% não sabiam ou não responderam. Por ser a primeira pesquisa do gênero, é difícil dizer o tamanho do papel que as pessoas atribuem a junho de 2013 na transformação do cenário político. Segundo o cientista político Daniel de Mendonça, da Universidade Federal de Pelotas, existem visões diferentes sobre o que a polarização política do Brasil é de fato, mas é justificável enxergar 2013 como um marco importante nessa questão.

As manifestações provocaram a polarização política no país? — Foto: Editoria de arte/ Ipec/O GLOBO
As manifestações provocaram a polarização política no país? — Foto: Editoria de arte/ Ipec/O GLOBO

— Antes de junho de 2013, a polarização não existia sob um ponto de vista claro, apesar de já estar sendo gestada.

Mendonça afirma que uma onda política e de opinião pública já estava em formação desde 2005, com o escândalo do Mensalão abalando o apoio ao PT, mas se consolidou cerca de sete anos depois.

Já para Bruno Bolognesi, professor de ciência política da Universidade Federal do Paraná, os protestos de 2013 foram importantes, mas não tiveram tanto impacto na polarização.

— Eles tiveram seu papel, mas não como um divisor de águas — afirma. — As pesquisas mostram que a polarização vinha correndo desde o governo Lula no primeiro mandato, com mais intensidade no segundo mandato. E fica mais externado na gestão Dilma.

Paradoxalmente, o chamariz para a direita ir às ruas foram protestos de esquerda, como o aumento da passagem de ônibus.

— Um cenário que tinha movimentos só de esquerda começa a acomodar movimentos de direita, que inicialmente tinham como mote ser contra todo e qualquer governante — diz Mendonça.

Junho de 2013 não foi o único evento que influenciou o futuro da política brasileira, que foi chacoalhada pelo impeachment de Dilma e, depois, pela eleição de Jair Bolsonaro. Ainda assim, tanto eleitores de Lula (38%) quanto do ex-presidente (37%) no segundo turno do ano passado atribuem aos protestos um papel no acirramento das posições, de acordo com o Ipec.

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