Pulso
PUBLICIDADE
Pulso

O ritmo da opinião pública

Informações da coluna

Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Pablo Ortellado

Professor de Gestão de Políticas Públicas na USP

Por — São Paulo

Metade dos moradores da capital paulista acredita que a segurança no Centro da cidade piorou nos últimos dois meses, de acordo com uma pesquisa do Instituto Travessia feita com exclusividade para O GLOBO com foco nas eleições de São Paulo. Apenas 10% notaram alguma melhora na região, enquanto 35% afirmam que a situação permaneceu igual durante esse período.

Na pesquisa, realizada nos dias 15 e 16 de maio com mil pessoas, a percepção de declínio na segurança é numericamente maior entre os residentes do Centro, com 55% relatando uma piora desde março. De acordo com os dados oficiais da Secretaria da Segurança Pública (SSP), o número de roubos caiu 6,7% em 2023 na capital, enquanto os furtos aumentaram 6,53%. A cidade teve mais de 380 mil crimes dessa natureza registrados no ano passado.

A sensação de insegurança foi intensificada pelo modus operandi violento do crime, com destaque para a atuação das chamadas gangues “quebra-vidro”. Episódios de grande repercussão, como o arrastão em uma farmácia do centro em plena luz do dia, no ano passado, também contribuíram para aumentar a preocupação dos paulistanos com o tema.

Percepção dos paulistanos — Foto: Editoria de Arte
Percepção dos paulistanos — Foto: Editoria de Arte

Uma das respostas do poder público a esse cenário foi a adoção de fuzis pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), a partir de 2021, pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição. A medida recebe o apoio de 48% dos moradores, enquanto 45% se opõem e 7% não opinaram.

— As pesquisas qualitativas mostram que a sensação de insegurança no Centro não é só resultado dos índices de roubo e furto. Há uma percepção de que a região está desorganizada e esvaziada, o que contrasta com o Centro movimentado de antes — explica Renato Dorgan, CEO do Travessia. — As imagens de pessoas invadindo lojas, fazendo arrastão e quebrando carros dão uma sensação de pânico.

Em nota, a prefeitura reiterou um convênio realizado com a Polícia Militar iniciado em dezembro, que ampliou para 2.400 o número de vagas na Operação Delegada. Reportagem do GLOBO de janeiro deste ano mostrava que os principais pontos de aumento do policiamento são nas regiões do Centro, Avenida Paulista e Rua 25 de Março.

A pesquisa quantitativa tem uma margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos e um nível de confiança de 95%.

Cracolândia

Além da segurança, a pesquisa do Travessia revelou uma impressão negativa dos paulistanos sobre a Cracolândia: oito em cada dez moradores tem um percepção de crescimento da região nos últimos 12 meses.

Ao lançar sua pré-campanha, o deputado Guilherme Boulos (PSOL) atacou Nunes ao afirmar que seu legado era ter “espalhado a Cracolândia pelo Centro inteiro”. Já a deputada Tabata Amaral (PSB), outra pré-candidata, declarou ao GLOBO que não há “resposta fácil” para a região, e defendeu um “trabalho ostensivo”, sem dar detalhes.

Há divergências entre os paulistanos sobre quem deve resolver a Cracolândia. Enquanto quase metade (44%) atribui essa responsabilidade à prefeitura, outra parcela aponta os governos estadual (23%) e federal (26%) como os incumbidos dessa tarefa. Procurado, o governo do estado não se pronunciou.

A prefeitura, por nota, diz que "trabalha continuamente em conjunto com os órgãos estaduais no enfretamento à criminalidade no centro da cidade". Segundo a administração são 2.100 guardas civis, 97 viaturas e 158 motos em rondas pela região, além das bases comunitárias. Além disso, a prefeitura cita o programa Smart Sampa, que possui "12 mil câmeras em funcionamento, sendo 3 mil apenas na região central".

A internação compulsória de usuários de drogas, por outro lado, encontra apoio massivo entre a população, com 78% se declarando favorável. Em entrevista ao GLOBO, o atual prefeito diz considerar a medida “absolutamente necessária”.

Ao abordar a orientação política, a pesquisa revelou que 23% da população se identifica como de “direita”, 17% como de “centro” e 12% como de “esquerda”. A maioria (40%), no entanto, não está alinhada a nenhum dos lados do espectro político.

Ao analisar as políticas públicas de apoio à comunidade LGBTQIAP+, 52% dos paulistanos se dizem favoráveis, 14% são contra e 34% não têm opinião.

Serviços básicos

A privatização da Sabesp, uma das bandeiras do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), é apoiada por 43% dos moradores da capital e rejeitada por 48%. A maioria (55%) acredita que a conta de água vai ficar mais cara após a venda da companhia, enquanto 20% creem na redução, como promete o governo.

A avaliação do CEO da Travessia é a correlação que a população faz entre a privatização da Sabesp com a da companhia elétrica, atualmente sob o controle da Enel e motivo de “trauma” para os paulistanos.

— Como a conta de água é muito próxima à da luz, uma privatização dá a sensação, principalmente aos munícipes das classe C e D, que o valor vai aumentar e vai ter as mesmas injustiças da Enel — explica Dorgan. — Para 70% dos paulistanos, a Enel é culpada pelos apagões. Ela virou uma vilã.

Mais recente Próxima Paulistanos veem pobreza aumentar e defendem políticas de moradia para reduzir população nas ruas, diz Ipec