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O ritmo da opinião pública

Informações da coluna

Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Pablo Ortellado

Professor de Gestão de Políticas Públicas na USP

Por — São Paulo

A nova pesquisa realizada pelo Datafolha em São Paulo mostra que 28% dos moradores da capital paulista se declaram de direita, contra 21% que se consideram eleitores de esquerda. Para além da superioridade numérica do eleitorado à direita na cidade, o dado sinaliza que metade dos paulistanos tem hoje uma identificação ideológica clara em um dos extremos do espectro ideológico, enquanto a fatia da população da cidade que não sabe definir sua posição registra queda.

Outros 12% se consideram de centro-direita, e 10% afirmam ser de centro-esquerda. Os que se declaram apenas de centro somam 22% dos entrevistados pelo instituto, que ouviu 1.092 paulistanos nos dias 27 e 28 de maio.

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Em abril de 2013, antes da onda de manifestações que se espalhou pelo país em junho daquele ano, 16% dos paulistanos diziam não saber como se posicionar no campo ideológico. Hoje, esse percentual caiu pela metade, para 8%. Por outro lado, os 49% que agora tomam partido da esquerda ou da direita na cidade somavam só 34% há 11 anos.

Para a diretora do Datafolha, Luciana Chong, os dados indicam uma crescente politização dos eleitores, processo que tem a influência das redes sociais:

— As pessoas estão tomando uma posição política, isso fica claro na redução do número daqueles que dizem “não saber” de que lado estão. Considero esse dado positivo, e acho que é resultado do fato de haver mais informações circulando.

O avanço da direita demonstrado pela pesquisa paulistana já vinha sendo observado também em levantamentos nacionais, que, embora não sejam diretamente comparáveis, contribuem com resultados que apontam na mesma direção. Em agosto do ano passado, pesquisa realizada pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT) indicou que 22% dos brasileiros declaravam ser de direita, enquanto 11% afirmavam ser de esquerda. Essa soma de 33% se refere àqueles que disseram ser totalmente de direita ou de esquerda, grupo que cinco anos antes, em 2018, correspondia a só 15% dos eleitores.

Direita pulverizada

O Datafolha também pediu para os entrevistados se posicionarem em uma escala de 1 a 7, em que o número mais baixo o colocaria mais à esquerda, e o mais alto, à direita. A média da cidade foi de 4,3, ou seja, ligeiramente deslocada para a direita.

Os eleitores que se declararam mais direitistas, com nota média de 5,2, foram os que dizem ter a intenção de votar em Pablo Marçal (PRTB) ou Kim Kataguiri (União) na eleição de outubro. Já o eleitorado que apoia o candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), marcou média de 5. No grupo que promete votar no deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), hoje disputando a liderança da corrida eleitoral ao lado de Nunes, a nota média foi de 3.

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A identificação maior de Nunes — que tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro — com o eleitorado de direita e o fato de esse grupo ser mais numeroso que a esquerda na cidade não se traduzem até aqui em uma vantagem clara do atual prefeito frente a Guilherme Boulos. Enquanto o deputado consegue mais da metade (51%) das intenções de votos dos eleitores que se declaram de esquerda, Nunes hoje assegura só 33% do apoio dos direitistas.

Os demais votos desse contingente se espalham para um leque maior de candidatos: Marçal consegue 11%; José Luiz Datena (PSDB), 10%; o próprio Boulos, 7%; e Tabata, 5%.

— Hoje, a esquerda se mostra mais fechada em relação ao voto em Boulos, enquanto na direita há uma pulverização dos votos. Mas a identificação pessoal não é um fator que tem peso final na decisão de voto, porque embora saibam se identificar na direita, centro ou esquerda, muitos não sabem identificar claramente a posição dos candidatos — analisa Chong.

A identificação com a direita se mostrou mais forte na cidade entre os eleitores mais pobres (que ganham até dois salários mínimos mensais), os que cursaram só o ensino fundamental e os evangélicos. Já a esquerda em São Paulo tem mais adeptos entre os que ganham acima de dez salários mínimos por mês e os que cursaram o ensino superior.

Contratada pelo jornal “Folha de S.Paulo”, a pesquisa foi realizada a partir de entrevistas presenciais e tem margem de erro estimada em três pontos percentuais para mais ou menos. Na Justiça Eleitoral, a sondagem está registrada sob o número 08145/2024.

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