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O ritmo da opinião pública

Informações da coluna

Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Pablo Ortellado

Professor de Gestão de Políticas Públicas na USP

Por — São Paulo

RESUMO

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GERADO EM: 11/07/2024 - 04:44

Resistências a pré-candidatos de Lula e Bolsonaro em capitais do Brasil

Pré-candidatos apoiados por Lula e Bolsonaro enfrentam resistências semelhantes em capitais do Brasil, com evangélicos menos receptivos aos ‘lulistas’ e mulheres menos apoiando os ‘bolsonaristas’. Associação com padrinhos políticos influencia resultados das pesquisas eleitorais.

Os pré-candidatos apoiados por Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) em algumas das principais capitais do país enfrentam resistências semelhantes às que o atual e o ex-presidente encontraram no segundo turno da eleição de 2022. Pesquisas divulgadas pelo Datafolha na semana passada sugerem que nomes ‘lulistas’ pontuam menos entre os eleitores que se declaram evangélicos, enquanto os ‘bolsonaristas’ são menos celebrados pelas mulheres.

Lula precisou superar alta rejeição dos evangélicos para retornar ao Planalto e até hoje pouco avançou no desafio de conquistar a simpatia dessa comunidade, apesar de alguns esforços isolados nesse sentido. A menos de três meses dos pleitos municipais, os pré-candidatos apoiados pelo petista em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte obtêm desempenhos numericamente inferiores junto a essa parcela do eleitorado, em relação à taxa geral de intenções de voto que cada um deles ostenta até aqui. Só no Recife, onde o atual prefeito João Campos (PSB) tem ampla vantagem contra seus adversários, essa discrepância não ocorre.

De acordo com a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart, o nível de associação que os eleitores fazem entre os padrinhos políticos e seus apadrinhados varia de acordo com o grau de conhecimento dessas figuras locais.

— Quanto maior o capital político de um ator local, quanto mais as pessoas conseguem atribuir a esse nome características próprias, menos elas precisam desse atalho cognitivo, dessa transferência das percepções de uma figura nacional — diz Goulart, que é coordenadora do Laboratório de Partidos Eleições e Política Comparada (LAPPCOM).

Na maior cidade do país, o nome apoiado por Lula é o do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que está em situação de empate técnico com o bolsonarista Ricardo Nunes (MDB), pré-candidato à reeleição em São Paulo. Boulos tem 23% das intenções de voto, mas alcança só 13% entre os eleitores evangélicos. Já Nunes, que no geral marca 24%, anota 27% junto a esse núcleo religioso.

A distância numérica entre os dois adversários nesse segmento é ainda mais visível na análise das rejeições: Boulos tem no geral nove pontos percentuais a mais de rejeição do que Nunes (33% a 24%), enquanto no grupo dos evangélicos esse descolamento vai a 19 pontos (39% a 20%).

Já o atual prefeito paulistano, que se aproximou de Bolsonaro nos últimos meses e sacramentou o apoio do ex-presidente ao acatar sua indicação para vice de sua chapa, performa abaixo junto às mulheres. A resistência do eleitorado feminino remonta ao histórico do ex-presidente, que na véspera do segundo turno de 2022 empatava com Lula em intenções de voto entre os homens (também segundo o Datafolha), mas perdia por 55% a 45% no voto feminino.

Num eventual segundo turno contra Boulos, Nunes venceria por 16 pontos (52% a 36%) caso a disputa considerasse apenas o voto masculino, enquanto entre as mulheres o cenário atual é de empate técnico (45% para o emedebista, contra 40% do psolista).

Tema para campanhas

Mesmo no Rio de Janeiro, onde hoje há um cenário de menor competição, já que o prefeito Eduardo Paes (PSD) larga na corrida com 53% das intenções de voto, é possível identificar indícios de comportamentos diferentes em relação a esses segmentos mais ou menos identificados com Lula ou Bolsonaro.

Paes tem o apoio de Lula, e conquista a promessa de voto de 46% dos evangélicos, 13 pontos a menos do que ele mesmo angaria junto ao eleitorado católico (59%). Já o delegado Alexandre Ramagem (PL), aliado do ex-presidente Bolsonaro, tem taxa de rejeição numericamente mais baixa entre os evangélicos (15%) do que entre os católicos (24%).

A margem de erro estimada para a pesquisa no Rio é de seis pontos para mais ou menos entre os católicos e de oito pontos entre os evangélicos. Essas margens não permitem cravar que as divergências nos números refletem o cenário real, mas são indicações que podem ter força suficiente para levar a ajustes nas pré-campanhas.

Goulart avalia que o fato de nenhum dos pré-candidatos apoiados por Lula nessas capitais ser filiado ao seu partido, o PT, cria uma distância que também pode influenciar no nível de associação que os eleitores fazem entre o presidente e seus apadrinhados. Para a professora, esse aspecto terá maior ou menor peso a depender das estratégias das próprias campanhas:

— Uma campanha é feita a partir da disseminação de informações, e quanto mais informações o eleitor tiver, menor será o nível de desconhecimento em relação ao candidato, inclusive de seus apoiamentos. O PT optou por abrir mão de construir nomes próprios para favorecer lideranças locais e ter um cinturão não-bolsonarista para 2026. O nível de associação com os nomes nacionais vai aumentar caso as campanhas explorem isso. No Rio, o Paes não vai precisar disso, mas o Ramagem vai querer não só se associar à figura do Bolsonaro, como também ligar o prefeito ao Lula.

Em BH, o deputado estadual Bruno Engler (PL) foge um pouco ao perfil dos demais pré-candidatos bolsonaristas. São 26% dos evangélicos e 24% dos homens os que dizem “não votar de jeito nenhum” em Engler, enquanto entre católicos e mulheres essa taxa de rejeição é de 21% e 22%, respectivamente. Já no Recife, o ex-ministro bolsonarista Gilson Machado (PL) tem 10% das intenções entre os homens, enquanto só 2% das eleitoras entrevistadas pelo Datafolha declararam a intenção de votar em Machado.

As pesquisas do Datafolha foram contratadas pelo jornal “Folha de S.Paulo” e realizadas entre 2 e 4 de julho. Os levantamentos foram registrados na Justiça Eleitoral com os códigos SP-01178/2024, RJ-06701/2024, MG-06755/2024 e PE-09910/2024.

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