Receita de Médico
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Receita de Médico

Um debate sobre pesquisas, tratamentos e sintomas.

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O desenvolvimento do coração artificial representa uma das fronteiras mais fascinantes da medicina moderna, simbolizando não apenas um avanço tecnológico, mas também uma nova era de esperança para pacientes com insuficiência cardíaca (IC) grave.

A IC grave ou refratária é caracterizada por uma progressão da doença apesar do uso de terapias medicamentosas modernas, levando a uma pior qualidade de vida e a um prognóstico desfavorável. No Brasil, a prevalência de IC é de aproximadamente 4 milhões de pacientes, e sua incidência é de aproximadamente 240 mil novos casos por ano, havendo aproximadamente 470 mil pacientes em estágio avançado de IC que poderão necessitar de uma terapia avançada.

A IC motivou mais internações hospitalares do que todos os tipos de câncer no Brasil, e causa mais mortes do que o câncer de estômago, de próstata e de mama. A taxa de mortalidade em sua forma avançada é extremamente elevada, em torno de 10 a 15% ao ano.

A ideia de substituir o coração humano por um dispositivo que possa replicar suas funções vitais data do século XX, mas foi somente nas últimas décadas que vimos progressos significativos. O primeiro uso bem-sucedido de um dispositivo de assistência ventricular (um precursor do coração artificial total) ocorreu em 1966, pavimentando o caminho para futuras inovações.

Devo ressaltar que desafios técnicos foram superados, como a criação de materiais que não provocam rejeição ou coagulação sanguínea, e a necessidade de fontes de energia confiáveis e portáteis. Avanços tecnológicos notáveis resultaram em dispositivos mais compactos e eficientes, alguns dos quais são capazes de se ajustar ao nível de atividade do paciente, proporcionando uma qualidade de vida muito melhor.

Os Estados Unidos já publicaram mais de 5 mil casos com resultados excelentes na sobrevida e na qualidade de vida dos pacientes submetidos ao implante. O coração artificial que utilizamos atualmente é um dispositivo de fluxo centrífugo que incorpora tecnologia de levitação magnética para permitir um movimento sem fricção do rotor. Essa característica reduz o desgaste mecânico e minimiza o risco de complicações relacionadas à formação de coágulos sanguíneos. Já há estudos americanos com seguimento de cinco anos demonstrando eficácia e segurança do coração.

O impacto dessa inovação vai além da medicina; ele toca aspectos éticos, sociais e econômicos da saúde. Com o envelhecimento da população global e o aumento das doenças cardíacas, o coração artificial surge como uma solução potencial para o problema crônico da escassez de doadores de órgãos, além de poder tratar pacientes com contraindicação ao transplante, ou até mesmo melhorar as condições clínicas dos pacientes em fila.

Como médica cardiologista, vivi a emoção de participar de alguns implantes de coração artificial algumas vezes no Brasil, e espero ver essa tecnologia definitivamente instituída para todos que precisam. Cada novo caso parece o primeiro, tamanha a expectativa que temos de devolver a vida com qualidade a um paciente que sofre de falta de ar, de fraqueza e de incapacidade para realizar tarefas diárias simples. O Brasil registra menos de 50 casos, e essa realidade precisa ser modificada. Estudos de custo-efetividade e que levam em consideração anos de vida com qualidade são incontestes ao definir o coração artificial como parte essencial do tratamento de pacientes com IC avançada.

O futuro da tecnologia do coração artificial é promissor, com pesquisas em andamento para dispositivos totalmente implantáveis que poderiam um dia funcionar tão bem quanto um coração humano saudável. Além disso, a convergência com outras tecnologias, como a inteligência artificial e a bioengenharia de tecidos, pode levar a soluções ainda mais inovadoras.

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