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GERADO EM: 13/07/2024 - 04:30

Importância da vacinação contra HPV

A vacinação contra o HPV é fundamental para prevenir o câncer de colo uterino. Diagnóstico precoce, tratamento e uso de camisinha também são importantes. A baixa cobertura vacinal e a falta de informação são desafios a serem superados para proteger a população.

Vou iniciar meu artigo com uma história triste, mas ainda muito presente em países em desenvolvimento como o nosso. Vou chamar nossa personagem pelo nome fictício de Marizete. Ela tinha 12 anos quando teve sua primeira relação sexual, com um primo mais velho, na casa de parentes, de forma não consensual, ou seja, uma violência sexual. Ela escondeu de sua família por vergonha e medo, e nessa relação contraiu o vírus HPV (vírus do papiloma humano), para o qual ela não tinha sido vacinada. Aos 18 anos, não diagnosticada e não tratada, apresentou infecções vaginais de repetição, foi ao médico, e no papanicolau apareceu uma lesão intraepitelial de alto grau ( LIEAG). Não conseguiu retorno, o tempo passou e com 26 anos começou a ter sangramentos hemorrágicos. Quando deu entrada no pronto socorro, fez-se o diagnóstico de um câncer de colo uterino inoperável, com comprometimento de bexiga e reto. Apesar do tratamento, ela faleceu aos 27 anos.

Meu pai, Dr. Pinotti, já dizia na década de 1990 que o câncer de colo uterino é uma doença sexualmente transmissível, evitável, de evolução lenta, que oferece muitas oportunidades de prevenção e tratamento por cerca de 15 anos. Apesar disso, ainda temos cerca de 17 mil casos, que causam a morte de cerca de 7 mil mulheres jovens no Brasil por ano. Ele ocupa o segundo lugar na incidência de câncer entre mulheres, perdendo só para o de mama.

A principal causa dessa patologia é a infecção por alguns subtipos do vírus HPV, que além do câncer de colo uterino também causa tumores de vagina, vulva, canal anal e garganta, e em homens câncer de pênis. Calcula-se que cerca de 70% da população sexualmente ativa terá contato com algum tipo de HPV e que 80% delas não desenvolvem doenças pois o sistema imunológico elimina o vírus. Mas em 20% a infecção torna-se persistente e com o passar do tempo pode causar alterações nas células que culminam no aparecimento do câncer.

Até os anos 2000, a forma mais importante de prevenção era o uso de camisinha e a realização de colpocitologia oncótica do colo uterino (teste de papanicolau) periodicamente, o que possibilitava a detecção de lesões precursoras denominadas neoplasias intraepiteriais cervicais. Tratando essas lesões evitávamos o câncer. Porém, com as dificuldades do sistema de saúde, público e privado, a população feminina desassistida e desinformada, e a falta de organização de programas de prevenção, os resultados não foram bons.

Cito como exceção alguns locais: Unicamp, em Campinas (SP), onde se instituiu o Programa Controle de Câncer de Colo Uterino, iniciado em 1967 e ampliado em 1987 para cem cidades do entorno, que realizou o rastreamento por papanicolau, diagnóstico precoce e tratamento das lesões precursoras. O programa gerou dados que são exemplo para o mundo, hoje a mortalidade pela doença em Campinas e região é semelhante àquela do Canadá.

Mas essa realidade mudou, e hoje temos nessa luta o mais importante aliado, que é a vacinação contra os principais tipos de HPV que causam câncer. Nunca esquecendo que ainda faz parte da prevenção do HPV e outras doenças sexualmente transmissíveis o uso de camisinha masculina e feminina.

A vacina quadrivalente está disponível no SUS para meninas entre 9 e 14 anos, meninos entre 11 e 13 anos e pessoas vítimas de violência sexual, Homens e mulheres de 9 a 26 anos vivendo com HIV podem ser imunizados, bem como os transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea ou pacientes oncológicos de 9 a 26 anos. Infelizmente a baixa cobertura vacinal e falta de informação e fakenews, além da falsa ideia de que os adolescentes não vão iniciar a vida sexual antes por conta da vacina atrapalham muito.

Enquanto não temos uma geração de jovens protegidos pela vacina, deveremos seguir atentos às formas de prevenção disponíveis, diagnóstico precoce e tratamento.

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