Renata Agostini
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Renata Agostini

Bastidores, notícias exclusivas e análises para entender o jogo do poder

Informações da coluna

Renata Agostini

Repórter especial em Brasília e colunista do GLOBO. Formada em jornalismo pela UFRJ, passou pelas redações de Folha, Estadão, CNN, Exame e Veja.

Por — Brasília

Integrantes do governo defendem blindar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do desgaste causado pelo avanço na Câmara do projeto de lei que equipara o aborto após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio e limita as possibilidades de aborto legal no país. A proposta legislativa não enfrentou oposição do PT nem de partidos da base. A avaliação de auxiliares palacianos é que o enfrentamento público do tema deve ser vocalizado por diferentes ministros, além de movimento sociais.

Esse diagnóstico é compartilhado por importantes atores no entorno de Lula, que aguardam, contudo, o retorno do presidente da Suíça para debater com ele a estratégia de reação. Nessa quinta-feira, Lula foi questionado sobre a aprovação da urgência do projeto de lei pela Câmara e se esquivou ao dizer que pretende “tomar pé da situação” quando voltar ao Brasil. O tema deve debatido na reunião de coordenação política do governo no início da próxima semana.

A primeira-dama Janja da Silva, contudo, resolveu comentar o assunto e afirmou nesta sexta-feira em suas redes sociais que o projeto de lei do aborto é “preocupante” e “ataca a dignidade das mulheres e meninas”.

Fatura para Lira

Aliados do presidente entendem que o custo político de endossar o projeto está crescendo para o presidente da Câmara, Arthur Lira, e não para o governo. As cobranças nas redes sociais têm recaído sobre o parlamentar diretamente.

Isso fez com que nos bastidores Lira já desse sinais de recuo no apoio ao projeto. Além de sinalizar com a designação da relatoria para uma mulher, interlocutores do presidente da Câmara lembram que ele não se comprometeu com o mérito da proposta ao acordar a votação da urgência.

Integrantes do Palácio do Planalto apostam que a matéria pode, no fim, não ser votada ou chegar ao plenário muito desidratada. Com isso, colocar Lula na trincheira seria trazer um desgaste desnecessário para a cadeira presidencial.

Auxiliares do presidente afirmam que ele teria justificativas para se abster do debate por ora. Primeiro, porque ele sempre tratou a questão do aborto como um tema do Congresso Nacional e não se comprometeu na campanha a se engajar em qualquer iniciativa para alterar a legislação atual sobre o tema. Diante disso, é possível insistir no argumento de que não se trata de uma matéria de governo e sim um tema legislativo.

Um importante aliado de Lula diz que dificilmente o governo conseguiria centralizar a base sobre esse tema. Caso o Planalto decida orientar contra a matéria, correrá o risco de perder e cravar publicamente nova derrota, enfraquecendo ainda mais a imagem da articulação política.

Ministros que advogam pelo plano de Lula submergir no tema argumentam que ele acabaria entregando o que os conservadores desejam: distanciá-lo ainda mais de parte do eleitor evangélico.

A estratégia da bancada protestante de envolver diretamente o presidente na discussão sobre o aborto se tornou pública, com lideranças da Frente Parlamentar Evangélica questionando nos últimos dias se Lula vetaria ou não o projeto.

Um auxiliar presidencial lembra que "cada dia tem sua agonia" e, até lá, há muita disputa no Congresso. Integrantes da bancada do PT dizem que, na próxima semana, estão previstas reuniões para articular respostas e buscar formas de mobilizar as pessoas contra a iniciativa.

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